O quarto 2 (Ele era muitos)

Até que ponto uma simples leitura pode influenciar toda uma vida?

Pode um espírito acompanhar uma pessoa apenas porque tal pessoa leu algo sobre esse espírito?

Seria o fato de uma simples leitura a abertura de um portal?

Tudo começa há muito tempo atrás, em um quarto construido anexo à uma casa.

Pouco tempo depois o tal comodo foi desativado e fechado.

O motivo: as pessoas que ali adentravam sentiam a presença de algo ou alguém.

Uma sensação de medo e arrepio tomava conta de todos que ali entravam.

O tempo se passou, a familia se mudou e nunca mais o sentimento foi sentido.

Mas mesmo o tempo tendo passado, e ninguém mais comentar, ninguém se esqueceu, somente deixaram de lado o assunto.

A estória sempre existiu, a sensação e o medo também, no fundo do imaginário de cada membro da família.

Muito tempo depois, um dos membros resolve contar o caso em forma de conto num site para escritores amadores.

Em poucas palavras conseguiu transmitir todo sentimento e medo por que passou quando era ainda adolescente, explicando logo no início de que se tratava de caso real, pois ele havia vivido aquilo tudo.

Mesmo sendo apenas uma brincadeira, seu conto acaba sendo o mais lido da sua coleção de contos de terror ou suspense, como queiram.

Mas o que lhe chamava a atenção era que mesmo sendo o mais lido, não havia nenhum comentário, nenhum leitor deixava nem elogio e nem crítica.

Estranho. Outros textos eram comentados.

A principio ele não deu muita atenção.

Mas os dias foram passando e o numeros de pessoas que liam o conto só aumentava, mas nem uma linha era escrito sobre ele.

Numa noite, ele estava escrevendo um poema e entrou no site para posta-lo.

Foi até sua página ver se havia alguns comentários.

Nada de novo.

E fez algo que nunca havia feito até aquele dia. Mesmo sem nunca ter deletado nenhum comentário, entrou na pasta de comentários apagados.

O que seus olhos viram o travou, suas pernas tremeram, sua pela empalideceu, o estomâgo deu mil viravoltas, sentiu medo, pavor e arrepios.

A mesma sensação que sentia no quarto, só que com intensidade infinitamente maior.

Não sentia a presença de um ser, mas de muitos.

Na pasta de apagados, uma lista enorme, com muitos comentarios, praticamente para cada leitura havia algum texto comentando algo.

Ele leu alguns e sentiu seu medo aumentando.

O teor de todos era praticamente o mesmo.

Após cada pessoa ter lido o texto, a sensação de uma companhia constante passava a fazer parte da vida delas, mas não era somente no quarto, mas em todo lugar, aquilo as seguia onde quer que fossem,.

Um desespero tomara conta de cada uma delas.

Ele saia do quarto a cada leitura, ele era muitos, ele se multiplicava.

E não havia nada a ser feito.

O texto era o portal, a leitura o abria e esperaram muito por isso.

E a sensação desesperadora que ele sentia nada mais era do que todos eles reunidos ali no seu quarto apenas para agradecer por ele ter escrito o texto "O quarto".

Agora estavam livres.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 11/11/2009
Reeditado em 12/11/2009
Código do texto: T1918512
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