AS ROSAS
Germano era um jovem que gostava da noite. Sempre tinha programa e companhia para passear. Diversão, mulheres, bares e restaurantes eram suas visitações durante as madrugadas.
Ele trabalhava em um jornal local, era digitador. Sua vida noturna adveio da rotina do seu serviço. Começava o expediente às cinco horas da tarde e terminava à uma hora da madrugada. Assim, ao sair do trabalho, ia para os bares em companhia de algum colega de serviço ou arrumava outra companhia qualquer. Fazer amigos era muito fácil para Germano.
Certa vez, saiu do serviço e como sempre foi a um restaurante. Estava sozinho dessa vez. Isso nunca fora problema, pois seu jeito de ser sempre foi acessível às novas amizades. Chegando no local, foi para o balcão onde pediu uma dose de bebida. Era um restaurante novo, ele ainda não conhecia o recinto, tampouco os freqüentadores... Ainda.
Por volta das duas e meia da madrugada, uma mulher morena, de cabelos compridos, lisos e negros, um vestido de cor negra, com decotes insinuantes e a costa nua passou defronte seus olhos e sentou-se em uma banqueta próxima a sua. Todos ficaram admirados com as formas e a maneira como a mulher estava se exibindo. Não passou muitos minutos, ele se levantou e aproximou dela. Fez a abordagem e ela permitiu que se sentasse ao seu lado. De novo, todos que estavam perto ficaram observando o desenrolar da cena até que Germano abordasse a mulher.
Ficaram conversando e bebendo algum tempo e, então, ambos se levantaram deixando o dinheiro da conta e saíram juntos. Tal cena continuou atraindo atenções. Germano, no fundo, achava que tinha tirado a sorte grande, nunca tinha se envolvido com uma mulher tão atraente e linda. Ninguém acreditaria no que estava acontecendo. Mas ele tinha a sensação de que algo não estava certo, apesar de tudo que estava acontecendo não ser novidade para ele. Esta mulher lhe trazia essa sensação de insegurança. Talvez isto o tenha atraído mais.
Entraram em seu carro e em seguida partiram para o que seria o desfecho final.
Durante a viagem, Germano começa a agraciar a mulher no que chega a um ponto em que ele já não agüentava mais de excitação e curiosidade, pois a mulher demonstrava grande desejo em fazer amor com ele, mas não falava nada, apenas indicara um caminho para ele seguir. Sem prestar muita atenção onde estava indo, de repente se deu conta de que estavam numa rua onde nunca havia passado, nem conhecia.
Ela faz sinal para que ele encoste o carro, tira um cigarro e acende. Tudo isto sem dizer uma palavra. Ambos já haviam bebido algumas no restaurante que se conheceram e estavam meio alterados. Por causa do trago no cigarro, a fumaça com a luz que invadiu o interior do veículo, promoveu um efeito místico. A rua escura proporcionou um espetáculo surreal dentro do carro, visto que o azul predominou e a fumaça do cigarro enriqueceu o show que mal acabara de começar. De repente um ensurdecedor estrondo rasgou o silêncio desviando os olhos de Germano que estavam pregados no decote da mulher para o espetáculo que começara; sons de trombetas altíssimos soaram por todos os lados, luzes frenéticas piscando e dançando estroboscopicamente, brumas e poeiras e ventos fortes se apresentaram de uma vez à vista de Germano, que estupefato assistia a tudo. Do lado do seu carro, na calçada, a parede de um prédio foi desaparecendo em meio aos ruídos de desmoronamento e uma outra imagem foi surgindo. Tudo aquilo parecia sonho. Não era possível. À medida que o real ia desaparecendo, o imaginário tomava conta da realidade e quando Germano procurou pela mulher para comentar o que estavam vendo, qual foi sua surpresa em não vê-la mais no interior do seu carro. Ele a vê na calçada, nua, indo em direção à rua que se formava no lugar da parede do prédio que existia. Ela olhava para ele e acenava com a mão chamando-o a segui-la. Numa mistura de fantasia e realidade, ele observava tudo em grande dúvida pelo o que estava acontecendo. As imagens se misturavam diante seus olhos, então ele atendeu aos acenos dela e desceu do carro. Foi em direção a ela e a paisagem que se vislumbrava era de um lugar em ruínas numa floresta, uma cidade perdida. Repentinamente outro estrondo se fez sob forte luminosidade e tudo se aquietou. Tudo havia sumido do jeito que aparecera. Mais nada além do silêncio da noite. Um suave aroma de rosas perfumou o ar.
O outro dia despertou com os primeiros barulhos urbanos e então, no escritório de Germano, um alvoroço se formava entre seus colegas. Sabrina havia acabado de dar a notícia do acidente. Lucas fora ao local e constatou o ocorrido. De volta ao trabalho, contou o que acontecera com Germano. Estava morto, dentro do seu carro. Tinha batido na parede de um edifício e o carro e ele estavam lá, onde ele havia ido com a mulher. Sem saber como, Lucas trouxera, impulsivamente, as rosas encontradas no interior do veículo, onde a mulher estava sentada.
FIM