COMÉRCIO MACABRO

Havia uma joalheria no centro da cidade de Belo Horizonte, na década de trinta. Era freqüentada por muitas pessoas, tanto ricas como os de renda mais baixa. A loja recebia e atendia as classes mais elitizadas, por isso não era muito movimentada. Os fundos da loja davam para os fundos de um açougue que também tinha grande movimento, porém a entrada do açougue ficava numa rua paralela à rua da joalheria. As fachadas não se viam.

Passado algum tempo, a polícia se viu em um mistério. Aumentara as queixas de pessoas desaparecidas em um espaço de tempo curto. Pessoas de nível social elevado. A policia não tinha pistas, pois não se localizava os desaparecidos vivos e nem achavam seus corpos. Era um mistério. Simplesmente desapareciam.

Certa vez sumiu duas senhoras muito ricas, o que provocou muita confusão, porque o caso chegou até os jornais. Passava algum tempo e nada. Sem pistas, sem ponto de referência, parecia mesmo um caso de assombração. Mas, para falta de sorte da policia, já era o décimo quinto caso sem solução e a sociedade e a imprensa pressionava para que alguma novidade surgisse. Em paralelo ao que acontecia, o comércio de carnes ia de bom a melhor. A freguesia aumentava cada dia que passava e a fama da casa de carnes ia longe. Surgira um boato de um tipo de carne comercializado por este açougue que estava fazendo muito sucesso.

Por mero acaso, um dia o delegado responsável pelos casos de desaparecimento resolveu ir à casa de carnes saber dessa novidade. Comprou a mercadoria e levou para sua casa. Pediu à sua esposa que preparasse a carne e contou do sucesso que o açougue vinha fazendo com este produto. Ela preparou e foram comer. Sua esposa gostou muito do produto e questionou-lhe que tipo de carne ele pedira ao açougueiro. Ele não especificou, apenas pediu o produto que estava fazendo sucesso na loja, então o açougueiro vendeu-lhe esta carne. Curioso com a pergunta da esposa, ele quis saber que tipo de carne era aquela que lhe venderam. Foi até a casa de carnes no dia seguinte e perguntou ao açougueiro que carne era aquela. O açougueiro disse-lhe não poder revelar o segredo porque era a chave do sucesso da casa, mas garantiu que era de boa procedência. No entanto, o delegado não se convencera, pois nunca tinha comido tal espécie de carne. Tampouco sua mulher, que lhe questionara a respeito. Intrigado com a coisa, o delegado resolve comprar novamente a carne e leva para um amigo da medicina legal para pedir-lhe que examine o produto, porque nem ele e nem a esposa haviam conseguido descobrir que tipo de carne era aquela.

O legista atende ao pedido do delegado e leva a amostra para o laboratório. Passado dois dias o legista telefona, horrorizado, para o delegado... Era carne humana. O delegado pede ao médico novo exame comprobatório e o resultado é o mesmo. Então ele resolve fazer uma investigação na loja de carnes. E nesta investigação ele descobre o comércio macabro que havia por detrás do sucesso do açougue. Era exatamente o que acontecia com os desaparecidos que não apareciam nem vivos e nem mortos.

A trama funcionava da seguinte forma; a joalheria era a porta de entrada, as pessoas adentravam e nunca mais saiam. Dentro da joalheria, elas eram sugeridas a experimentar as jóias adquiridas num recinto que ficava nos fundos da loja. Ao adentrar no recinto, um falso piso se abria e a pessoa caia em um outro recinto no subsolo da loja de jóias. Com a queda, a pessoa desmaiava e não mais acordava, pois, uma injeção era aplicada na pessoa desmaiada e ela acabava por morrer ali mesmo. Depois era levada para outra sala onde eram preparadas para o açougue. Os corpos ficavam em uma câmara gelada, também no subsolo e dali eram cortados para subir para a loja de carnes já como produto de consumo.

Todo este procedimento era para que a vítima não desconfiasse de nada, para que o sabor da carne não sofresse nenhuma alteração química e mantivesse a maciez e o aspecto originais. Muitas pessoas que foram à joalheria adquirir um presente acabaram virando produtos da casa de carnes. Ambos os estabelecimentos foram fechados e muita gente ficou sem comer carne um bom tempo depois, inclusive o delegado.

FIM

Jackro
Enviado por Jackro em 10/11/2009
Reeditado em 17/12/2009
Código do texto: T1916539
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