Quando morri

Quarta feira. Acordei estranho, sentindo um vazio, uma tristeza.

Estava bem de saúde agora, após passar por um longo tratamento para me curar de uma hepatite tipo A que quase me levou de vez.

Fui para o trabalho, tudo normal. A correira de sempre. As pessoas me olhavam normalmente.

Após o almoço, algo estranho aconteceu. Vi uma senhora no corredor quando saí para passar a medicação. Não era horário de visita mas aquela senhora estava lá. Não era paciente. Não era visitante. Entrei em todos os quartos, distribui todos os medicamentos.

Ao voltar ao posto de enfermagem, notei que aquela senhora continuava lá.

Me distraí e quando voltei a olhar para o local onde ela estava, não a vi mais.

Quando me virei, uma sensação de terror tomou conta de meu corpo.

Ali estava ela, bem próxima de mim. E seus olhos fixos aos meus.

- Posso ajudar? Foi o que consegui dizer.

- Sim, pode. Precisa me acompanhar. Foi o que disse em tom baixo e quase sussurrado.

- Como disse? Não entendi.

- Disse que você precisa me acompanhar. Repetiu ela sem alteração de voz.

- Para onde? Para que?

- Sou sua morte. Chegou a hora.

- Não. Não.

- Sei que ninguém gosta de mim e nem querem me acompanhar, mas você tem de vir.

- Não posso agora. Mê de mais um tempo.

- Não dá.

- Uma semana, é o que preciso.

Aquela senhora ja ia saindo mas se virou e me encarrou. Me deu medo.

- Deixo seu corpo mais uma semana, mas seu espírito vem comigo. Combinado?

Gelei. Tremi. Tive medo.

E ela lá esperando uma resposta.

Olhei para ela, aquele olhar vago e frio que me dava medo.

- Combinado.

Ela sorriu, se virou novamente e saiu caminhando.

Senti um arrepio, e medo, muito medo.

Fechei os olhos e quando os abri vi algo que nunca mais me esqueci.

Vi o eu saindo de mim e caminhando sem olhar para tráz. indo no mesmo sentido que a senhora tb seguia. Fiquei paralisado.

De repente tudo ficou escuro e quando acordei estava numa cama de hospital em observação.

Na manhã seguinte acordei muito bem, tive alta. Mas não me lembrava de nada.

Fui para casa com uma necessidade de fazer um monte de coisas. Acertei todas as pendencias que tinha. Mandei flores. Pedi desculpas. Sorri mais. Na verdade, conseretei todas minhas falhas, na medida do possível.

Foi uma semana incrível.

E morri uma semana após a visita da senhora.

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 08/11/2009
Código do texto: T1912191
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