Cavalos do além

Para quem nunca viveu há uns tempos atrás morando em sitios e fazendas talvez seja difícil saber como era isso.

Vou tentar explicar.

A vida bem simples, sem tecnologia, sem energia elétrica. U diversão das familias à noite se baseava em um rádio, onde se ouviam músicas e programas de estórias ou coisas engraçadas.

Normalmente as pessoas dormiam bem cedo, em função de acordarem bem cedo e também porque não havia muita coisa a fazer.

Me lembro que ficava em uma mesa fazendo desenhos à luz de lamparinas a querosene, e isso me deixava as narinas impregnadas com uma fuligem de cor preta.

Às vezes minha família bem no fim da tarde, jantávamos e íamos até um sítio vizinho onde havia muita conversa, muitas risadas e sempre havia um lanche noturno.

Já com a noite alta voltávamos para casa. Sempre tive medo das estradinhas escuras por onde passávamos. Mas nunca comentei isso.

Num mês de janeiro, como sempre estava chovendo já a vários dias, a terra estava bem molhada.

Durante a noite, não saímos, ficamos em casa, jantamos, ficamos conversando, ouvindo rádio, eu com meus desenhos, enfim, a rotina normal.

A hora foi passando e eu e meus irmãos nos retiramos para nossos quartos.

Meus pais continuaram acordados, conversando e arrumando algumas coisas para o outro dia.

Estava chovendo, uma chuva fina, mas chovia.

De repente meus pais ouviram um barullho de cavalos galopando. O som veio se aproximando e se tornando mais próximo e em poucos segundos rodeavam a casa.

O som do galope era bem alto acompanhado de relinchar de cavalos.

Pelo barulho devia ser no mínimo uns dez animais.

Minha mãe sentiu medo. Meu pai a acalmou, mas disse que não bom abrir portas ou janelas para verificar o que se passava.

Deram algumas voltas ao redor da casa, relicharam muito, aparentando estarem assustados, mais que isso, pareciam apavorados.

Com muito medo de algo ou de alguém.

Do mesmo modo que o som veio, também se foi.

Meu pai disse à minha mãe que provavelmente seriam cavalos do sitio vizinho que haviam escapado e como medo dos relâmpagos e raios sairam em disparadas arrebentando certas.

Foram dormir ao som da chuva save que cai sobre o telhado. Uma noite de chuva normal, igual às noites que haviam se passado naquelas semanas.

Apenas uma coisa fez aquela noite ser diferente. Apenas os cavalos galopando em desespero em volta da casa.

Pois na manhã seguinte ao ocorrido, quando meus se levantaram bem cedo e saíram e olharam para o chão molhado, encharcado pelas chuvas dos dias anteriores, olharam um para a cara do outro, com expressão de desespero e medo.

O chão extremamente molhado, não apresentava nenhuma marca de ferradura, muito menos de 10 cavalos. Estava normal.

Só um bom tempo depois desse ocorrido foi que relataram essa história.

Nunca mais aconteceu.

As perguntas ficaram no ar...

De onde eram esses cavalos? porque não deixaram marcas algum? Para onde foram?

Estariam sozinhos? ou teriam em seus lombos cavaleiros?

Acho que nunca saberemos a realidade de certas coisas.

Apenas os chamamos "Cavalos do além"

Paulo Sutto
Enviado por Paulo Sutto em 08/11/2009
Reeditado em 09/08/2013
Código do texto: T1912138
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