Ecos 3: Tormento.

O sonho persiste pelas varias noites, ela se vê crucificada pro varias estacas de ferro, oxidado velho como a madeira que sustenta seu corpo seminu. Sente o asco corroer seu estomago debilitando suas forças enquanto olha para a figura de um homem gordo e de olhar cruel. Este homem por algum motivo ela sabe se tratar de um bispo católico, mas nada neste sonho faz sentido, sua vontade de resistir já quase se foi quando este homem deixa o lugar onde ela se encontra.

O lugar se assemelha a uma espécie de gruta, sente o cheiro de água estagnada, sente o ar parado, mas pode ver algumas imagens de santos, que ela nunca vira jamais fora religiosa, mas neste instante que ela quase sem vida percebe estes santos, sabe bem quem é cada um, sabe detalhes da obra de cada pessoa representada nestas peças de madeira e pedra-sabão.

Pouco depois de perceber o homem santo sair do recinto, o sono lhe toma arrancando as esperanças... Lentamente seus olhos se fecham para o mundo. Porem em um curto ou longo espaço de tempo, não sabe deduzir ela escuta a voz que faz seu coração palpitar, refazendo suas forças dando a vontade que já lhe havia deixado, sua garganta seca quer falar, mas não pode, quer gritar quer chorar. Mas não pode nada fazer a não ser derramar poucas lagrimas e abrir um pouco à boca como que sendo o maior dos esforços para demonstrar sua alegria ao ouvir aquela voz.

Mas depois tudo ficou vermelho e em seu coração apenas uma tristeza fúnebre, melancólica e verdadeiramente amarga ficou, todo desejo se foi, apenas uma angustia que lhe parece eterna perdura... E assim Syntia desperta de mais um pesadelo.

Em seu escuro quarto tudo que ela sente é uma vontade insana de chorar, abraçando os joelhos forçando-os no peito como que se quisesse fazê-lo parar de doer, de sangrar, e este choro persiste ate o sono novamente tomar-lhe agora entorpecido sem forças para mais um pesadelo, apenas anunciando um dia ruim.

A faculdade requer toda a atenção de Syntia que tenta se concentrar, porem o sonho da noite anterior não sai de sua cabeça, ela simplesmente não consegue entender o porquê de tamanha tristeza... Conceitos de Cultura.

A matéria principal de seu curso. Um curso incomum, mas que atualmente se mostra um campo bem amplo, tanto para estudos quanto para trabalho, Antropologia, quantas vezes Syntia já ouviu a Frase “O que um Antropólogo faz?” ou “Por que Antropologia, por que não psicologia?”. A resposta obvia esta no interesse do comportamento humano de forma geral e não somente do individuo.

Mesmo assim com seu professor preferido discursando sobre o folclore medieval e sobre imensa influencia da Igreja na mente e no comportamento das pessoas daquela época, mesmo com um tema que facilmente cativaria completamente ela pelo resto da semana, ela não consegue nem ao menos ouvir o que ele diz na frente de uma coleção de Slides... Ela só se lembra de seu sofrimento de sua tristeza.

_Syntia... Syntia esta tudo bem querida? Você ta de cabeça baixa dês da hora que entrei na sala. _O Professor resolve investigar o porquê de sua mais atenciosa aluna esta dispersa esta noite, e o faz indagando-a voltando todas as atenções para a menina.

_Hum... Diego? Ah desculpa, professor, eu vou prestar a atenção eu prometo. _Envergonhada ela se obriga a se colocar em uma postura no mínimo respeitosa.

Olhando para ela e sorrindo o jovem professor reinicia seu monologo sobre o impacto católico sobre os povos celtas.

_De certa forma, a igreja acabou com estas tribos, mas foi mais um sincretismo, claro que no processo houveram muitos conflitos, lógico. ¬_Ele da uma pausa e espera que todos assimilem a informação e depois continua a falar. _Entendam se tratando de religião sempre haverá fanáticos, em todas elas... E não poderia ser diferente na conversão quase que total das religiões pagãs Célticas.

_Professor._Um aluno se levanta pedindo a atenção do professor e dos colegas._Não é meio pejorativo taxar a religião deste povo como pagã? Só pelo fato dela não ser cristã?

_Não, Roberto. _O professor Diego sorri, pois achara muito boa a pergunta._Pagã é justamente isso, toda e qualquer religião que não seja Cristã, os cristãos erroneamente usa esta expressão de forma pejorativa e geralmente para atacar outros que não compartilham de suas crenças.

Um debate tem inicio e a aula toma a forma que o jovem professor gosta, intimista, sempre ouvindo o que cada um tem a oferecer. Isso faz dele um ótimo professor e o queridinho dos alunos, Mas com Syntia era diferente, ele nutre um carinho especial por ela, na verdade eles namoram escondidos há aproximadamente dois meses, ele é cinco anos mais velhos que ela.

Syntia sai da sala ainda nas nuvens, não consegue se concentrar e não compreende o que ocorre, segue pelos corredores da faculdade completamente impassível com o que acontecia a sua volta, ela nunca havia ficado assim tão distraída, ela pensa que esse choque seja por que talvez ela tenha chorado muito depois do pesadelo. Continua sua caminhada ate que se choca com alguém deixado todos os materiais caírem e ela quase vai ao chão, iria se um par de braços fortes não a segurasse.

_O que esta havendo com você Syntia?_A voz de Diego apazigua a vontade de gritar que ela sentiu.

_Ah Diego, não sei... Só estou um pouco distraída, só isso!

_Nunca te vi assim, quer conversar. _Ele se olha para os lados e ao perceber que ninguém mais prestava atenção neles, se aproxima dos ouvidos dela e diz com voz maliciosa._Te pego as sete.

O sorriso era automático, não dava para negar que ela estava apaixonada pelo belo professor, mas segundo o mesmo, aquilo por enquanto deveria ser mantido em sigilo, pois este relacionamento feria o código de ética, mas o silencio feria ela ainda mais, então com uma nova cor para seu dia ela vai feliz para a próxima aula.

A professora Claudia, é considerada uma bruxa pelos alunos, sua aula é voltado pelo impacto que o misticismo tem sobre a cultura e sociedade, tanto antiga quanto a moderna.

_Bom turma, hoje veremos sobre um tema bastante polemico... Maldições.

_Sim Senhorita Minerva McGonagall!_A frase é dita em grande coro pelos alunos, e é seguido de uma explosão de gargalhadas, a velha Claudia porem já estava habituada a isso, e para compensar esta costumeira recepção, estes alunos são bons e dedicados, assim ate mesmo a velha mestra também sorria junto à piadinha.

_Bom já acabou a recreação, agora é serio. Para entendermos os impactos das maldições na sociedade, precisamos primeiro entender as maldições e seus tipos:

Hereditária:

De início é necessário entendermos que apesar do termo hereditariedade esta relacionado à transmissão de caracteres físicos ou psíquicos aos descendentes (p.ex.: se os pais são de cor negra os filhos obrigatoriamente devem possuir a mesma cor, se o biótipo da família dos pais é de pessoas altas os filhos deveram ser altos, etc.); este termo também expressa o direito de receber a totalidade ou a parte daquilo que uma pessoa possui e deixa após sua morte. Maldições hereditária, principalmente na idade antiga era muito comum, e fazia com que as pessoas tomassem algumas atitudes ate desesperadas, como por exemplo. Existem relatos de pessoas que se castraram após receber uma maldição que se dizia hereditária, evitando assim a passagem da maldição.

Rogadas por terceiros:

Também era muito temida na antiguidade. No cristianismo elas partem do poder das palavras de Deus em Gênesis, e levando em consideração que somos “Imagem e semelhança” de Deus, então temos um pouco deste poder: “Que se faça a Luz”.

Estes são os tipos mais relatados de maldições, assim sendo, eles influenciaram e influenciam e muito a sociedade de outrora e de hoje.

Com estas explicações Syntia fica em transe começa a computar as informações sem nem ao menos saber exatamente o porquê deste interesse repentino.

* * *

A noite chega e termina ambos os apaixonados se entregam ao calor de seus corpos, lascivos amarrotando o lençol fazendo de seu mundo único e sólido, amando sem fronteira, toda lascividade e luxuria, a cama é pequena para tanta paixão, que infla e se expande, e logo também o quarto do professor também se mostra insuficiente.

Ela esta nos braços de seu mestre e seu amante, ele já dorme, mas ela tem receio, não quer sonhar novamente, não quer sentir mais aquela angustia. E sente sede. Atravessa a sala de estar, o corredor com o banheiro e finalmente chega à cozinha, não havia estado nela ate então, sente sede, e procura algo para saciar-se... Mas ao aproximar-se ela sente algo estranho, sente-se como se alguém estivesse lá, e ao passo completo, antes de alcançar o portal que liga ate o lugar, ela sente seu corpo se esfriar, é como se sua alma se congelasse, sem poder falar, quase paralisada e suas pernas se movendo pela curiosidade, assim ela chega, o lugar muito bagunçado, o que se espera de uma cozinha de um homem solteiro, mas nada de anormal aparente. O frio se intensifica e como uma presença à suas costas, uma angustia aterradora toma Syntia por completo, seu corpo enrijece e sua respiração fica ofegante, sente claramente o som da voz feminina que chega aos seus ouvidos dizendo: “Deixe-me dormir.”.

Paulo Mendonça
Enviado por Paulo Mendonça em 02/11/2009
Código do texto: T1901206
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