O ataque do vampiro

Três dias havia passado desde que havia chegado a Tomsk e o problema do sono continuava. O meu último mês em Irkutsk foi marcado por períodos de insônias graves que faziam meus globos oculares arderem como brasas quentes no dia seguinte. Em tomsk parecia que não seria diferente.

Havia assistido a um filme de terror e fui deitar. O filme contava a história de um vampiro que vinha da Transilvânia, na Romênia, para a Sibéria, em busca de sangue eslavo. Desse momento em diante começa uma sequência de assassinatos tenebrosas em que o vampiro pegava as mocinhas inocentes e sorvia-se de todo sangue delas. As cenas do filme iam e voltavam quando estava próximo a dormir. Olhei de lado e vi que passava das duas e meia da manhã. Há mais de duas horas que o filme havia acabado. Não sei como, mas acabei perdendo para o cansaço.

Comecei a sonhar. Vi um campo relvoso. Eu estava deitado olhando as nuvens até que o sol se tornou nebuloso. Levantei e comecei a olhar em volta. Tudo estava deserto. Comecei a correr pelo campo sem rumo, sem destino. Corri e corri durante um longo tempo. Num momento parei defronte a uma lápide cinza onde havia sido inscrito com um cinzel: Helena. Junto à lápide estava Yuri, agachado, segurando rosas murchas e estragadas. Ele lança um sorriso bêbado em minha direção.

Ele fecha o rosto num instante e aponta com o dedo indicador para a lápide. Olho e vejo que o nome de Helena está riscado e apagado. Abaixo de onde estava o nome uma frase grotesca: Quem é a sua mãe?

-O que está acontecendo Yuri? – grito.

Ele se vire e começa a andar pra longe de mim. Eu o sigo.

-Me espere Yuri. Espere pai.

Ele então começa a correr e eu tento acompanhá-lo, mas suas pernas parecem dum maratonista. Lá na frente Yuri para, agora não mais que um ponto.

-Ele parou. Vou alcançá-lo – corro até as pernas começaram a latejar de dor.

Minha corrida é estancada quando vejo que não era mais Yuri quem está ali. Uma mulher usando um grande vestido branco que vai da cabeça aos tornozelos está parada. Ela tem os braços brancos como neve abertos, parecendo abraçar os raios de escuridão que as nuvens tempestuosas mandam.

-Quem é você?

A mulher responde com uma voz adocicada:

-Você não me conhece filho.

Um tremor atravessou minha espinha.

-Filho...

-Sim, filho. Vlad, meu querido Vlad.

-Você é minha mãe? – uma lágrima brotou em meu rosto.

-Você gostaria de conhecer-me? – fiquei em silêncio. Eu comecei a se virar para mim. Meu coração disparou, parecia que saltaria da minha boca e fugiria.

Ela se virou duma vez e soltei um grito de horror quando vi uma mulher sem rosto sendo consumida por vermes.

Acordei num salto, todo suado e desesperado.

-Foi só um sonho. Foi só um sonho – esperei a agitação passar e dormi novamente.

Agora o sonho se passava numa iluminada casa de inverno junto a um lago congelado. Nevava muito lá fora. Eu andava pela casa quando um apagão ocorreu. Com muita dificuldade encontrei um lampião no escuro e passei a procurar uma mulher. Chamava por um nome feminino. Procurei em todos os quartos do terceiro andar, depois em todos do segundo e os do primeiro. Andando em um corredor havia uma luz tremulante no fim dele. Eu fui andando lentamente, passo após passo. Desviei com perícia dum móvel velho que atrapalhava o caminho. Estanquei antes da porta. Sabia que alguma coisa ocorria naquele quarto mal-iluminado. Tinha medo do que viria a seguir. Será que deveria olhar? Toda a busca que fiz para desistir agora, pensei. Respirei fundo. Uma. Duas vezes. Entrei no quarto de ímpeto. Nada via. Um breu enorme se abatia nele. O lampião em nada ajudava a ver. Apenas ouvia. Uma mulher gemia vagarosamente. Onde ela estava dentro do quarto?

A porta se fechou de uma vez. O trinco da fechadura girou. Estanquei um grito. Meus dentes tiritavam. Aumentei o fogo do lampião e passei a iluminar a sala.

Dei uma volta inteira nela.

-Não tem nada aqui.

-Tem certeza?

A voz vinha de trás de mim. Meus joelhos começaram a se chocar, agora era meu fim. Seria morto pelo que eu caçava. A voz masculina e rouca estava decidida e não teria chance.

Joguei meu corpo contra a parede e estiquei meu braço no limite lançando a luz sobre a cena grotesca que se transcorria: um vampiro mordia o pescoço duma mulher. Ele sugava o sangue quente que saía da sua veia. Ela ainda estava viva, não agüentava nem mesmo se debater. Seu sangue estava sendo sugado e o que o vampiro não agüentava escorria de seus caninos para o chão ensopando-o.

-Olhe para mim seu desgraçado.

Ele sorriu e ergueu a cabeça. Não sei dizer se a surpresa maior foi o fato da mulher ser a jovem Alinya que havia conhecido no domingo ou ao fato do vampiro ser eu.

Novamente acordei sobressaltado. Dessa vez não suportei, comecei a chorar.

Dieggo Oliveira
Enviado por Dieggo Oliveira em 02/11/2009
Código do texto: T1900114
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