A Jóia da família - Parte II
Alexandre Menezes
OBS- Para melhor entendimento leia a primeira parte escrita por Xande Ribeiro. Segue o Link:
http://www.recantodasletras.com.br/contosdeterror/1893594
Com o impacto, June atravessou o enorme vidro e caiu no jardim. Sua face ficara presa entre os arbustos de Euphorbia miliiv, conhecidos como colchão-de-noiva ou coroa-de-cristo, que eram utilizados para separar o enorme gramado das pedras do passeio.
Ainda em choque, June acordou horas depois no hospital. Uma camisola hospitalar cobria o seu corpo e algemas prendiam seus pés e braços à cama. Ao perceber que não se tratava de um pesadelo, questionou a primeira enfermeira que adentrou ao quarto:
- Existe alguém da minha família no prédio?
- Não. Sua tia esteve aqui apenas para pegar o vestido. Será lavado para que sirva de mortalha para sua irmã.
A tragédia correu pelos noticiários e, no dia seguinte, centenas de pessoas acompanharam o sepultamento. Os cabelos, olhos e pele ainda pareciam ter vida. Uma beleza morta inacreditável como enterrar rendas francesas e pérolas ornamentando um corpo. May fora sepultada no primeiro dia da primavera. Pássaros de diversos cantos e um lindo pôr-do-sol também se despediram.
Naquela noite, a tia e o primo das irmãs não conseguiam dormir. Não havia choro e muito menos palavras. A casa permanecia muda até que o silêncio fora interrompido por uma chamada telefônica. Além da morte e de uma prisão, agora teriam que acompanhar a violação do túmulo e o furto da jóia da família.
A polícia solicitou que fossem ao hospital. O corpo de May seria novamente periciado no necrotério que ficava no mesmo prédio onde June estava internada. Nova perícia incompreendida, porém, sem questionamentos, atenderam a solicitação policial e seguiram. Vagava pela mente apenas a desumanidade do ladrão. Para eles, a dor era maior que o valor de qualquer jóia ou tesouro.
Em poucos minutos chegaram. Todos corriam desesperados. O corpo de May havia desaparecido e a polícia ocupava o local. Mãe e filho caminhavam apressadamente pelos corredores. Um estrondo vindo da direção do transformador de energia deixou toda a edificação sem eletricidade. As luzes apagaram nos corredores e, sem muito que fazer, entraram no primeiro local que havia uma porta aberta.
A energia começou a se restabelecer aos poucos. O quarto onde estavam enfim se acendeu. Lá estava o corpo de May e, em pânico, os dois não conseguiam sequer gritar. Seu corpo incrivelmente sangrava. Eram ferimentos diferentes dos feitos por sua irmã. Estigmas nas mãos, pés e tórax como os de Cristo e, em volta do seu crânio, uma coroa feita com arbustos idênticos aos do jardim da casa.
À direita do cadáver de May estava o de June que usava o vestido. Suspensa por uma corda decorada pelas pérolas e empalada no pedestal utilizado para elevar o recipiente de soro. Seus olhos vendados com uma gravata e, em seu dedo anelar esquerdo, as alianças dos noivos.
OBS2- Para mim, escrever contos é um grande desafio. É dificultado, principalmente, por ter que dar continuidade ao Xande e ao Flávio, que são dois grandes na modalidade. Como eu não assusto ninguém, peço calma nesta hora. Forte abraço a todos.
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