DIÁLOGO DE DOIS CARAS-DE-PAU

Romeu Prisco

----- ..., mas, companheiro presidente, não era isso que nós dizíamos quando estávamos na oposição ?

----- Esquece, companheiro ministro, agora nós não estamos mais na oposição. Precisamos ir atrás de votos pra nos mantermos na situação.

----- Pois é isso que me preocupa, companheiro presidente. Se nós formos contra, vamos perder os votos daquela turma.

---- É aí que você se engana, companheiro ministro. A maioria daquela turma não vota mais, até porque está desobrigada a tanto. Sobram poucos votos. Exatamente em cima disso vou fazer média, demonstrando preocupação com o equilíbrio financeiro da previdência social. Todavia, para não desgastar a minha imagem, você será, no caso, o meu porta-voz.

----- Ah, agora entendi, companheiro presidente. Deixa comigo. Quer que eu também faça um oba-oba com o aumento generoso que você está concedendo ao funcionalismo público federal, mesmo contrariando recomendações do Presidente do Tribunal Superior Eleitoral ?

----- Não, não e não, companheiro ministro ! Essa notícia faço questão de dar pessoalmente. Tem voto pra caramba e só vai aumentar a minha popularidade no meio da categoria. Agora vá, companheiro ministro do trabalho, e diga à imprensa que o Presidente da República, extremamente contrariado e constrangido, porém, cumprindo a sua missão de evitar qualquer desequilíbrio orçamentário das contas públicas, ver-se-á obrigado a vetar o projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional, que concede, aos aposentados da previdência social, o mesmo reajuste do salário mínimo.

----- Certo, companheiro presidente. Tô indo.

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