O Quarto- Cap 03

3- Capitulo;- O Acidente.

Foi difícil para Paulo acordar e perceber que ainda era quarta- feira, ele queria logo o seu carro, mas decidiu que hoje iria sair um pouco à noite, devia existir alguma diversão nessa cidade. Quando chegou perto da hora do almoço ele se levantou e foi procurar Gabriela, a sua vizinha, e perguntar onde teria um ponto de diversão do qual pudesse ir.

Quem atendeu a porta foi à mãe dela, uma senhora simpática na casa dos 50, com um loiro desbotado que talvez já fora tão intenso como os cabelos da filha em certa ocasião, ela vestia uma roupa comum, e tinha um sorriso tão animado quanto os da filha.

-Entre por favor, ela esta lá no quarto.

-Não, tudo bem. – Ele estava um pouco desconfortável com a mãe dela ali.

- Não por favor, eu insisto, entre e vá conversa com ela no quarto, você não é amigo dela? Então deixe de cerimônia, e também estou fazendo um bolo.

Ela praticamente puxou Paulo para dentro, então ele não teve muito que fazer, ela subiu as escadas com ele, e foi ate o quarto da garota, tocava uma musica alta, e ela estava dançando quando a mãe abriu a porta, ela corou quando viu Paulo.

-Seu amigo veio lhe visitar, se comportem, logo trago o bolo.

Ela saiu do quarto, Paulo tentou dizer que não gostaria de nada, mas ela já se fora, ele se virou para Gabriela meio tímido, ela estava vestindo um short jeans curto, e uma camiseta comum de banda, ela era linda e em roupas informais tinha uma sensualidade inocente, ela não sabia se olhava para o rosto ou corpo dela.

-Ola.

Ela parecia boba, olhava para Paulo e a janela sem entender, Paulo levantou uma sobrancelha de curiosidade.

-O que foi?- perguntou Paulo.

-Eu..acabei de ver você na janela, acenei e tudo, eu pensei que você estava olhando eu dançar.

-Mas eu não estava no quarto, eu não estou andando muito lá.

- Mas toda hora passa alguém no quarto, pensei que era a emprega, mas era um homem, e ele olha pra mim quando fico olhando para ele, pensei que era você.

Aquilo deu um arrepio em Paulo, ele se aproximou e olhou pela janela, seu quarto parecia normal.

- Não era o meu tio André?

-Acho que não, minha mãe disse que ele não entra naquele quarto, era para ser o quarto do filho.

- A foi, a mulher dele perdeu o filho alguns anos antes de morrer, mas meus pais não me falaram como ela morreu ao certo, parece que ela perdeu o bebe, e depois de um tempo, morreu.

-Alguns anos depois,eu era garotinha, não lembro, mais falaram que ela morreu naquele quarto, bizarro não? Se fosse eu não conseguiria dormir ali.

- Sim bizarro. – Paulo estava com medo daquele quarto agora, medo inocente, mas tinha.

- Mas a que devo a sua visita? – Disse ela sorrindo.

-Ah já tinha esquecido, existe algum lugar interessante nessa cidade que possa ir? Não quero ficar em casa. – Ele fez uma careta, ela deu uma gargalhada e seus lábios se encheram de um sorriso sapeca, seguido de um olhar provocante.

- Esta pensando em me convidar para sair vizinho?

- Bem, eu só conheço você, você deve saber o que tem na cidade já que mora aqui.- Ele levantou uma sobrancelha. – Mas você não tem namorado?

-Tinha.- respondeu ela olhando algumas roupas.

- O que aconteceu?

- Bem, eu disse que ele era um grosso, e também ficou com ciúme pelo vestido que estava usando.

- Você não disse que gostava dele?

-Acho que não gostava tanto assim, e também, ele me machucou.- Ela mostrou umas marcas roxas no braço.

Paulo olhou, eram marcas de quem segurou muito forte.

-Sua mãe viu isso?

-Sim, eu terminei com ele, e ela ainda disse um monte de coisa pra ele. – Ela sorriu divertida.

-Você não me respondeu onde poderia ir.

-E só respondo se for me levar.

Paulo suspirou.

-Eu não quero complicações.

-Não vai, nos vamos como vizinhos.

Ela fez biquinho.

-Tudo bem, onde é?

Ela soltou um gritinho de felicidade e agarrou Paulo dando beijinhos no rosto, e depois se afastou sorrindo.

-Tem uma pizzaria em uma praça, onde muitos jovens vão, você poderia me levar lá, depois que voltasse da faculdade, lá pelas 20:00, tudo bem?

-Tudo bem. – Na verdade Paulo estava se perguntando se foi uma boa idéia dizer sim.

A mãe de Gabriela voltou com o Bolo, Paulo tentou recusar, dizer que tinha que ir mesmo, mas só pode sair depois de comer o seu terceiro pedaço. Quando voltou para casa, ela estava como a empregada havia deixado, limpinha, Paulo então ligou a tv e começou assistir um programa qualquer.

Um barulho aconteceu lá cima, Paulo fingiu que não ouviu, mas ele aconteceu de novo e de novo, pareciam passos pesados, passos de ansiedade.

-PARA COM ISSO. – Paulo gritou e seu tio entrou bem nessa hora.

- O que foi?

- Alguém fazendo barulho lá em cima.

-Serão aqueles moleques de novo?- e subiu as escadas, Paulo o acompanhou, chegando no andar de cima tinha uns garotos no corredor, seu tio correu para agarrá-los, mas eles eram mais rápidos e saíram pela janela de Paulo antes que tio André tocasse neles.

-Porque deixou a janela aberta?

- Eu não deixei, eu juro.

-Então foi aquela empregada. – e saiu gritando por ela pela casa.

Paulo entrou no quarto desconfiado e foi fechar a janela, ele sentiu uma presença as suas costas e se virou, não havia nada lá, ele fechou a janela e saiu antes que ficasse paranóico.

Não pode deixar de perceber que seu tio não entrou no quarto, e comeram em silencio ate Paulo quebrar o silencio.

- Você pode me empresta um dinheiro?

- Por quê?- Seu tio o olhou curioso.

-Bem, é que irei sair com a Gabriela hoje..

-A vizinha? Danadinho você em... De quanto precisa?

- Não sei, vamos comer uma pizza.

-Tome pegue 50. –Paulo pegou a nota e guardou no bolso.

-Obrigado.

-Bem, não tem de que, vai lá tigrão, orgulhe a família, eu vou voltar a trabalhar, cuide da casa.- E se levantando saiu da cozinha.

Quando seu tio saiu, uma batida soou lá em cima, Paulo se arrepiou, mas se fosse só os garotos de novo, a porta estava trancada por fora.

Paulo se levantou e olhou a casa vazia, pensando no que iria fazer, por fim foi para a grandiosa estante de livros que o seu tio tinha na sala. Ele procurou alguns livros interessantes, olhava a capa, o nome e lia a resenha, tinha vários livros, mas escolheu uma historia de terror e passou a tarde lendo.

A historia era boa, contava sobre uma casa mal assombrada em um milharal, sempre historias de terror acontecem em ambientes assim, mas algo lhe chamou a atenção, a fala da protagonista. “-Tome cuidado com o Quarto.”.

Paulo guardou o livro e nessa hora ouviu alguém mexendo na porta do quarto.

-Pestinhas.- Ele subiu as escadas.

A porta estava trancada, mas ele ouviu passos lá dentro, teve medo de abrir, desceu as escadas e deu a volta na casa para olhar para sua janela, foi quando o viu na janela, era o mesmo homem da primeira noite, Paulo não se enganaria com aqueles grandes olhos amarelos, ele olhou para Paulo por um instante, e logo voltou para a janela da frente, Paulo seguiu o olhar dele e viu Gabriela, ele sentiu um arrepio com isso, ela também a olhava a janela, mas quando olhou de novo ele desaparecera, e ela saiu de perto da janela.

Às duas horas seguintes para Paulo foi meio conturbadas, ele não parava de pensar no que vira, e quando teve que tomar banho, teve um novo receio, o banheiro era ao lado do seu quarto, ele tentou falar para si mesmo que só era paranóia e entrou no banheiro.

O banho foi calmo, ate ele começar ouvir alguns sussurros vindos do quarto, ele desligava a água para ouvir, mas eles paravam,e voltam sempre que voltava a tomar banho, por fim ele se apressou no banho, ao sair do banheiro ele conseguiu ouvir claramente.

-Volte.- Era uma voz bizarra.

Paulo desceu as escadas correndo e encontrou o seu tio.

- O que foi?

-Nada. – E foi para um quartinho nos fundos onde a empregada lavara as roupas.

Paulo havia pedido para ela deixar as roupas dele lá, não queria subir ao quarto, quando se trocou e ia sair de casa seu tio jogou umas chaves para ele.

-Cuide do meu carro em.

Paulo abriu um sorriso de orelha a orelha.

-Obrigado.

Seu tio tinha um escosport preto, Paulo tinha tirado a carteira de motorista há pouco tempo e o seu pai não o deixava andar no carro da família, ele deu a ré, e parou na casa de Gabriela e buzinou , ela saiu toda arrumada, pelo visto só estava o esperando.

Ela abriu um sorriso quando viu o carro e entrou toda animada, e então foram para a pizzaria, na verdade o carro era desnecessário a pizzaria não era muito longe, mas Paulo entendeu que seu tio fez aquilo para impressionar a garota, eles se sentaram e pediram a pizza.

- E então o que achou?- Ela se ajeitou na cadeira.

- De que?

- De mim horas.

- Ah, muito linda.

- Só linda? Pensei que iria me chamar de gostosa.- Ela deu um sorriso sapeca, ele retribuiu, e observou um grupo que chegou e olhava para os dois, Paulo ficou curioso.

-Quem são eles?

Ela os olhou, e tirou o sorriso do rosto.

-É meu ex e os amigos dele.

Tiveram uma conversa animada enquanto comia a pizza,ele descobriu que ela queria ser modelo, e que seu pai fugiu de casa quando ela era pequena, que sua mãe trabalhava na empresa do tio André e que dava a ela tudo que pedia, ou pelo menos tentava, Paulo sorria, respondia as perguntas dela, mas evitava falar de sua casa e do seu passado.

Quando enfim acabaram de comer e foram se levantar para ir ao carro, o ex da Gabriela a puxou pelo braço para conversar, Paulo deu um passo para trás e deixou que conversasse, ele olhava de Gabriela para ele constantemente, que aumentou pelo tempo que conversavam, por fim ele veio furioso ate Paulo.

-É verdade?

- O que?

- Que você é o novo namorado dela.

- Eu? Não..- Já era tarde, ele deu um soco na cara de Paulo.

Paulo se voltou para reagir mas ele já tinha saído, e estava atravessando a rua quando um carro o atropelou, ele caiu inconsciente na rua, o carro não esperou e o motorista fugiu, e Paulo jurou ter visto o homem dos olhos amarelos do outro lado da rua sumir na escuridão.

A confusão foi grande ate a ambulância chegar, Gabriela chorava muito, Paulo estava espantado, ela queria ir com ele, Paulo não deixou, mas pediu que ligassem pra ela se ele tivesse sinais de melhoras.

Quando Paulo deixou Gabriela na casa dela, ela ainda soluçava um pouco, e o abraçou na porta por um tempo enorme ate parar de chorar, por fim, cansa de pousar a cabeça no ombro dele, ela o olhou, com os grandes olhos azuis cheio de lagrimas.

-Obrigada.- Depois o beijou.

Pegou Paulo de surpresa, ele não pode esquivar, mas foi um beijo rápido, depois disso ela entrou em sua casa.

Paulo abriu a porta e o seu tio estava assistindo tv, viu a cara de preocupada de Paulo e perguntou o motivo.

-O ex-namorado da Gabriela foi atropelado quando saia da pizzaria.

-O que? aquele jovem, mas o que aconteceu?

-Ele atravessava a rua e um carro o atropelou, o motorista devia estar bêbado, nem ficou para prestar socorro.

-Bem, amanha me informarei se ele esta bem, agora vamos dormir.

-Eu vou ficar um pouco aqui.

-Não, vamos dormir, não tem nada passando agora, e sei que você esta dormindo no sofá, não é confortável, vamos para o quarto.

Paulo teve que ir com ele, e ele só foi se deitar, quando Paulo entrou no quarto e fechou a porta, espera só ouvir seu tio trancar o quarto para poder volta para o sofá, quando alguém sussurrou em seu ouvido.

-Ela não devia olhar tanto para mim.

Paulo se virou assustado, o quarto esta vazio, mas a janela estava aperta, a noite silenciosa pairava no ar, silenciosa? Nem tanto, o grito de Gabriela cortou a noite.