AS CORES DA MORTE
A ladeira antiga já fora passagem de tropas de gado antigamente, quando
verdadeiros desbravadores percorriam os sertões do Brasil, muitas senhorinhas por ali passaram em passeios matinais, não é uma rua comprida, não tem mais de 500 metros, margeiam esta pequena via, lojas, velho casario de um tempo que o passar dos anos amareleceu em fotos preto e branco e as poucas mudanças se vêem no piso da rua e pra quem olha do seu começo embaixo já não vê as palmeiras imperiais e não mais pisa numa pequena praça que ali havia.
Já fora de terra batida, cascalho, paralelepípedos e agora se mostra num reluzente asfalto.
Aquela manhã de domingo, era um dia especial, dia de torneio de futebol no estádio que ficava a umas duas quadras do começo da pequena ladeira, mas como esta ladeira era paralela a rua principal, ficava praticamente vazia, enquanto a principal, nos domingos e feriados, cheia.
Nos dias de semana, devido as lojas, a ladeira equivalia com a paralela em transeuntes.
Faltavam exatamente 15 minutos para o começo do torneio e as inscrições estavam por terminar...
Uma bateria de foguetes tradicionalmente iniciava o torneio e a 10 minutos começou o espocar de fogos.
Lá em cima da ladeira como a saltar de uma aquarela de Salvador Dali, um menino nos seus 12 anos, voou com seu veículo de 2 rodas, sobre o tapete negro do asfaltou e mergulhou... O espocar de fogos lhe chamou a atenção, e lentamente ele ergueu a cabeça desviando a visão de sua frente... A 100 metros adiante um velho FNM saía do acostamento da ladeira e já posicionava no meio da rua...
O instinto juvenil rápido trouxe o olhar do garoto para a sua frente... Uma, duas pedaladas para trás, as mãos congelaram e a fatalidade irremediável levou sua jugular contra a carroceria do velho caminhão...
O amontoado de ferro retorcido da bicicleta envolto em uma poça de sangue recebeu o corpo sem cabeça do garoto, é como se a aquarela recebesse as últimas pinceladas num surreal quadro de horror com a assinatura da morte sobre a obra.
xx eas xx