O SANATÓRIO DE LANCASTER

O burburinho e o recolhimento das mangueiras era o último ato daqueles homens do fogo, foram 12 horas em que arderam as estruturas do último reduto que retinham flagelos humanos, depositados ali, por loucura, lepra e anciãos sem parentes, sem destino, debilitados pela idade e esquecidos do mundo.

O sanatório ficava numa colina, onde serpenteava uma estradinha, na mais remota região de Gales.

150 anos de vida dedicada ao deposito de seres que deviam ficar separados da humanidade porque a vida lhes deu algo que só o sofrimento e depois a morte poderia tirar, e libertá-los.

Enfileirados veículos de um instituto médico legal levaram 450 corpos carbonizados do que sobrou do inferno das chamas.

Teria sido um desastre inevitável, causado por um curto circuito da já deficiente e antiga rede elétrica, ou um ato de loucura, pois que o sanatório abrigava em seu interior, seres humanos capazes disso e muito mais.

Quem sabe num descuido da segurança, nas amplas salas destinadas ao tratamento de dementes, onde o choque elétrico, era a terapia mais usada, talvez ninguém descobrisse, mas algo havia a mais naquele sanatório.

Uma ala era de leprosos, uma ala de doentes mentais e uma outra,uma espécie de asilo para anciãos abandonados.

O bombeiro mais antigo, rescaldando os últimos focos de fogo, recolheu uma pasta, revirou uns papéis, e por último, desdobrou em cima de um piso de tijolos uma velha planta do antigo edifício...

Retirou seus óculos do bolso, enquadrou a planta ao olhar, deslizou o dedo sobre a planta, e constatou:

O edifício era constituído de 2 pavimentos, olhou ao redor, em toda a dimensão de onde estavam, e não viu senão um edifício térreo sem nada acima e nem abaixo...

Retirou-se para uns 50 metros dos entulhos, e agora sob o ar limpo, notou que a planta indicava nos fundos do sanatório uma escada para o andar inferior...

Com olhar fixo na única parede que ficou de pé ao fundo, andou como autômato até ela, contornou, e ali estava, 10 degraus de escada feita com tijolos maciços, e lá embaixo uma porta entreaberta...

Desceu entre a fumaça negra que vinha de dentro do subsolo, empurrou a porta, e um cadáver carbonizado lhe atingiu em cheio o peito...

Abaixou-se e quase rente ao chão penetrou no ambiente que tinha o cheiro ocre de carne humana queimada, semelhante a banana frita.

Andou no meio do que parecia serem salas, feitas no comprimento do edifício e por onde começara, seria o fundo de cada sala, iria então para frente das salas e tentaria entrar...

Andou sobre cadáveres, que se desmanchavam, e o cheiro nauseabundo quase lhe fez vomitar, mas continuou...

Agora a fumaça era mais rarefeita e a visão era nítida a uns 4 metros.

Ao aproximar-se da frente das salas, notou que uma das salas tinha um rombo, como se tivesse sida atingida por um explosivo, mas devido a fumaça não conseguiu ver no seu interior...

Contornou os tijolos caídos e chegou a frente das salas...

Ficou entre duas salas, olhou uma depois outra, e o suor gelado lhe percorreu a fronte, porque mais a frente num canto havia uma montanha de lenha chamuscada pelo incêndio...

Cada sala tinha portinholas pequenas, como... Fornos...

Baixou a cabeça, colocou-as entre as mãos, queria nunca ter estado ali, mas tinha que presenciar o que havia no interior daquilo...

Lentamente caminhou para uma das portinholas, ergueu com dificuldade a mão e girou a fechadura...

Ao abrir três crânios com ruptura mostravam os miolos das pessoas, sobrepostas...

Fechou a portinhola, fez o sinal da cruz, e retirou-se por onde veio, ao passar pelo rombo na estrutura de um dos fornos, agora com o chão totalmente visível, recolheu da mão de um cadáver, uma banana de dinamite que milagrosamente não explodiu no incêndio...

Subiu as escadas de sob o ar puro olhou a imensidão da planície em frente e concluiu consigo mesmo;

___Ninguém é capaz de suportar a dor tanto tempo, e tem vezes que a destruição de si mesmo é a salvação, mas partiu acompanhado de todos que sofreram com ele.

xx eas xx

Obs: Esta é uma obra fictícia, qualquer semelhança com acontecimentos reais terá sido mera coincidência.

Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 14/09/2009
Reeditado em 28/07/2010
Código do texto: T1810526
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