Quem tem Medo de Escuro?
De sua velha cadeira de madeira, o velhor senhor Lourenço passava as manhãs a olhar a rua pouco movimentada da frente de sua casa. Todas as manhãs o sol o brindava com seus raios dourados e quentes animando, um pouco, sua careca manchada. Ele cruza as pernas e aproveita o ócio. Todo dia é assim.
Porém, um dia, uma quarta-feira, o velhor senhor Lourenço não foi até sua velha cadeira de madeira. Preferiu continuar deitado, remexendo dum lado para o outro da cama enquanto sentia espasmos provocados pela gastrite crônica. Foram duas horas de indecisão: levantar, com dor e ver a vida alheia; ou permanecer sofrendo na horizontal.
Com muito sofrimento, seu Lourenço levantou-se e foi mancando, com uma mão segurando as costas, até a porta de vidro.
Quando olhou para fora, espantou-se.
Tudo estava escuro. No céu não havia o sol, dourado e presente, não havia a lua, não havia estrelas.
Para se certificar do que via, foi até a rack, velha e carcomida, olhar o relógio, velho. O relógio mostrava que eram dez da manhã, ou seja, onde estava o sol?
Ligando a TV, um repórter de plantão anunciava o incrível 'desaparecimento' do sol. Lourenço, espantado e confuso, pensou:
-Essa gastrite está me deixando louco.
Voltou, passo por passo, e deitou-se na sua cama. Revolvendo-se ao meio de dores agudas.