Paixão Vampírica
As poderosas presas penetraram a pele de sua vítima, eivando o corpo desta com a terrível enfermidade vampírica. Esta, desprovida de defesa, deixou escapar uma golfada de líquido escarlate. Perdera o controle de seus músculos que agora rejeitavam as ordens emanadas de seu corrompido cérebro, o pálido de seus olhos tomara conta da plenitude de sua órbita. Um suspiro banhado de prazer foi deixado escapar pela criatura das trevas. O precioso líquido vermelho sorvido agora chegara ao estômago do noturno, o qual despertara novamente seus amplos poderes graças ao valioso combustível.
A formosa mulher que agora jazia desfalecida era observada carinhosamente pelo vampiro, concomitantemente tinha seus lindos cabelos dourados afagados. Era linda, tinha os traços do rosto perfeitos, como se tivessem sido cuidadosamente desenhados com o máximo de minúcias possível. Sua pele alva como o leite agora tornara-se mais pálida ainda com a carência de sangue, seu corpo se mostrava perfeitamente delineado sob o que era um exuberante vestido prateado. Não era seu propósito incial retirar a vida da linda mulher. Na realidade, pretendia torná-la sua companheira, havia anos que vagava pelo mundo só, e mesmo sendo uma criatura das trevas, sentia-se solitário. Sim, ela era perfeita para acompanhá-lo pela eternidade na Terra, uma vez que era valente, o vampiro sentia a bravura transbordar de seu corpo na véspera de sua morte, relutara até seu último segundo de consciência contra a vontade de seu assassino. Seu sangue era tão saboroso quanto o sangue de um ser humano tomado pelo medo, um pouco mais adocicado, mas igualmente saboroso. Não se contera em drenar até a última gota de seu corpo.
Sucumbir a atração fatal de um vampiro era iminente, Gabriel sabia disso, estava acostumado a seduzir, era de sua natureza. Dera uma última olhada no corpo que acomodara confortavelmente no chão e seguiu caminhando lentamente. Observara o firmamento, a lua o decorava elegantemente naquela noite, deu alguns mais alguns passos e saltou com uma velocidade monstruosa, tornando-se invisível aos limitados olhos humanos.
Após alguns quilômetros, estacionou seu corpo no topo de uma árvore majestosa. Seus sentidos aguçados o permitiram sentir um leve aumento na temperatura, o amanhacer não tardaria e era preciso voltar ao seu abrigo. Em questão de minutos chegou a uma casa abandonada no centro da cidade a qual usava como abrigo, era de suma importância esconder-se da luz e aquele lugar o proporcionava a segurança necessária.
Ao retornar da noite, Gabriel acordara de seu sono solitário. Não saia de sua cabeça a idéia de encontrar uma compania para com ele viver.
Saira de seu esconderijo andando calmamente na rua de seu esconderijo. Estava com um boné preto para esconder seu pálido rosto que chamaria muita atenção, eram ainda 8 horas da noite, muitas pessoas ainda vagavam pelas ruas.
Depois de umas 3 horas de caminhadas sem rumo e pura reflexão, decidiu entrar no que parecia ser um barzinho.
Sentou-se na mesa mais distante e escura do lugar, recusara a bebida oferecida pelo garçom, afinal, tinha bebido tudo que precisava na noite passada e ao lembrar disso, deixou escapar um modesto sorriso.
Observando entediadamente o movimento de pessoas que riam e gozavam do efeito que o álcool lhes proporcionava quando avistou no meio da multidão uma imagem divina.
Era extraordinária, uma moça que se destacava entre as outras. Seus olhos vampíricos podiam ver cada detalhe daquela que seria sua rainha.
Ela tinha olhos verdes como esmeraldas, cabelos encaracolados e negros como a mais profunda escuridão, não tinha o corpo escultural como o da última vítima, era magra, sem muitas curvas, que chamassem atenção, era baixa, tinha um metro e sessenta no máximo. Seu rosto era igualmente perfeito como o da outra mulher, mas era uma beleza diferente, se o coração de Gabriel batesse certamente estaria tão rápido quanto o dono.
Ao se recompor do choque de encontrá-la, pôs-se a observá-la de modo que fosse notado. A moça percebeu sua presença e observava discretamente. Gabriel olhava de maneira fixa, tão profundamente que chegava a assustar. Com sua audição sobrenatural, conseguiu ouvir claramente o nome de sua amada. Era Raquel. O nome ressoava em sua mente repetidamente. Depois de uma hora. Ela levantou-se e se retirou do lugar após despedir-se de seus amigos.
Andou em direção ao seu carro pensando no homem que a observara insistentemente por toda a noite e não se aproximara.
Pegou a chave do carro, abriu a porta do carro e repentinamente sentiu um estranho frio que a fez ter arrepios. Ignorou parcialmente a sensação, quando Gabriel surgiu e sussurrou "Boa noite" bem próximo ao seu ouvido. Ela se assustou esbarrando na porta de seu carro. Os olhos de Gabriel encontraram os dela, que sentiu agora um calor por dentro, estava envergonhada contudo extremamente curiosa em saber quem era aquele misterioso homem.
Não sabia ao certo o que fazer, mas se sentia perdidamente atraída pela figura misteriosa em sua frente. Gabriel sorria singelamente sem desviar nem por um segundo o contato visual. Raquel estava completamente hipnotizada.
O vampiro aproximou-se de Raquel, que não tentou afastar-se, e a beijou apaixonadamente. Antes que sua insana sede de sangue tomasse conta de sua mente, Gabriel a mordeu por uns instantes e a largou, controlar-se era muito difícil.
Após retomar o controle de sua sede, Gabriel a tomou nos braços e a levou para seu esconderijo.
Raquel despertou, não sabia o que estava acontecendo. Olhou ao seu redor. Estava numa sala empoeirada, pequena e sem ventilação, alguns móveis quebrados estavam jogados pelo chão, e logo a sua frente vira uma porta. A nova vampira estava sentindo sede e estava um tanto cansada, apesar de ter dormido por um longo período. Saiu de seu quarto e encontrou o que seria uma sala de espera de um consultório médico. Saiu da suposta sala e encontrou-se de frente para uma rua que não sabia onde era, a construção estava tomada por ervas daninhas e trepadeiras, a parede tinha tinta desbotada e manchas negras devido a umidade. Sua mente estava obscura, seus pensamentos estava desorganizados, as memórias estavam se esvaindo, era complicado manter a concentração.
Voltara para o suposto consultório e se deparou com um espelho antes não visto, sujo, com uma camada espessa de poeira sobre sua superfície. Olhava abismada para o seu reflexo. Sua pele estava alva como a neve, muito mais do que o normal. Podia ver suas veias esverdeadas nintidamente. Enquanto se observava sem entender a repentina palidez, sentiu uma intuição brotar em sua mente repentinamente, virou-se com uma expressão ferina no rostoe encontrou uma silhueta masculina em sua frente, tinha certeza que estava só no último segundo. Das sombras um rosto familiar emergiu.
Agora que sua segurança voltara, pensou no rosnar que fizera, não sabia o que lhe fizera fazer isso.
-Boa noite- falou suavemente Gabriel- que bom que acordou.
Um instante de silêncio.
-O que aconteceu comigo? - indagou assustada a nova vampira - Não estou me sentindo estranha.
- Ah sim, você agora é uma vampira.
Raquel não esperava um resposta tão direta, agora se sentia completamente perturbada com a situação. Gabriel explicara exatamente o que tinha acontecido detalhadamente após uma hora de um monólogo.
- E meus amigos, minha família? Como fica minha vida? Meu emprego?- falou Raquel.
- Você acha que os seres humanos iriam entender a sua nova condição? Humanos não compreendem nem a si mesmo, são egoístas. Já no nosso mundo, ou temos a eterna solidão, ou o companheirismo regado da mais pura fidelidade.
A nova vampira abaixou a cabeça e aceitou as palavras de Gabriel, ele tinha razão afinal.
Depois de uns meses convivendo com Gabriel, aprendeu a controlar um pouco melhor seus novos poderes. Já não tinha mais medo de sair para caçar, nos primeiros dias passou fome, depois só se aliemntava do sangue de animais, mas não a satisfazia. A necessidade a tornou uma assassina nata. Era rápida, suas presas mortais, seus olhos ilimitados. Estava vivendo intensamente com Gabriel, aprendera a gostar dele.
Mas um dia, numa caçada como outra qualquer, um estranho acontecimento tirou a suposta paz.
Um parque rodeado de árvores gigantescas por toda sua extensão, foi o cenário da inesperada e avassaladora batalha.
Gabriel e Raquel andavam tranquilamente pelo silencioso parque, como sempre faziam na realidade, era comum encontrarem casais desavisados de madrugada.
Raquel andava distraída olhando para os pés esperando alguma vítima despertar seus sentidos, mas nada aparecera até o momento, afinal é um tanto complicado encontrar pessoas na rua de madrugada, mas era o horário ideal para eles.
Já Gabriel tinha uma sensação brotando em seu peito que o deixava um tanto desconfortável.
Parou um instante.
Sons de passos...muitos passos... umas dez pessoas aproximadamente. Um grupo tão grande não costumava andar de madrugada pelas redondezas.
O que era aquilo? Estavam indo em sua direção.
Raquel permanecia distraída andando uns passos na frente de gabriel que estava intrigado com o fato.
...
Um grito feminino invadiu seus sensíveis ouvidos vampíricos.
Era Raquel.
Três homens a agarraram. Eram fortes, estavam contendo a vampíra. Raquel não se alimentava fazia umas noites, não estava com suas forças ao máximo, talvez fosse por isso que tivesse sido capturada.
Mas antes de Gabriel usar sua velocidade fantasmagórica para resgatá-la, o grupo de dez pessoas surgira ao seu redor.
Mas como? Estava distraído com o grande grupo antes que não percebera a presença dos outros 3 indivíduos.
Mas o que eles eram? A pergunta agora tomara conta de seus pensamentos, humanos comuns não fariam uma emboscada assim. Na verdade, não andariam em grupo para encurralar um casal "desprotegido". Alguma coisa estava errada, apenas um humano com arma de fogo era o suficiente para abordar os dois e rendê-los, contudo, aqueles não mantinham armas de fogo empunhadas, mas sim cruzes no pescoço e grandes lanças de madeira em uma das mãos e curtas estacas do mesmo material na outra.
Gabriel não tinha mais dúvidas. Eram caçadores de vampíros. Pelas armas um tanto quanto amadores para os que já vira anos atrás, porém, não era hora de se preocupar com isso, Raquel estava em apuros e tudo por causa de sua imprudência, afinal Raquel não tinha os poderes como os dele, era muito nova ainda.
Entretando, após os seus longos quinze segundos de reflexão, ouviu mais um grito desesperador de Raquel. Agora fatal, uma estaca se encontrava cravada impiedosamente no lado esquerdo do peito de Raquel onde dormia seu coração banhando de trevas.
Lentamente Raquel caia desfalecida no chão de terra coberto de folhas secas.
A cena paralisara Gabriel que se mantinha entorpecido, incrédulo.
O amor de sua vida, que finalmente encontrara estava...morto.
Aproveitando o momento de fraqueza do vampíro, o grupo maior correu para o ataque.
Gabriel agora estava mergulhado numa mistura de ódio e melancolia.
Um mundo de trevas o cercava.
Seus olhos queimavam como o calor de mil estrelas.
Chamas negras brotavam do seu ser noturno.
O ataque contra ele cessara quando asas de morcego gigantesca surgiram das costas do vampíro em luto.
Uma feição demoniaca agora se sobrepunha ao rosto melancólico e pálido de Gabriel.
Garras bailavam como espadas ao mover de suas mãos agora cobertas por o que parecia ser escamas verdes como musgo.
Agora o medo era o único sentimento que podia se ver no rosto dos caçadores.
Gabriel perdera a sanidade por completo.
em um golpe fatal, girou em torno de seu prórpio eixo e com suas garras em forma de lâminas, decapitou cada um de seus atacantes.
Num impulso ágil, perfurou o pulmão de mais dois que antes seguravam Raquel.
O último parecia imóvel no chão olhando assustadoramente para a criatura demoniaca que o olhava com a ira de mil homens.
Gabriel não teve piedade e com uma garra, perfurou o crânio do caçador restante como se fosse de papel.
O cenário antes coberto de folhas secas, agora estava tomado por sangue.
Gabriel estava ajoelhado com o corpo de Raquel em seus braços.
Nunca tinha sentido uma afeição como a que sentia pela vampíra por ninguém antes.
Silêncio.
Apenas o farfalhar de asas de alguma ave noturna quebrava o infinito silêncio que se instaurava.
Gabriel olhava serenamente para sua companheira.
Seu rosto monstruoso parecia não demonstrar nenhuma emoção.
Porém, na escuridão da noite horrenda, pode-se ver uma lágrima escapar dos olhos de Gabriel.