Sua majestade o diabo.
Se você tivesse a graça de ter na sua presença o Senhor da vida, Deus, hoje você o reconheceria? Teria você tempo para lhe dedicar em sua tumultuada vida?
A resposta é óbvia, NÃO, por uma razão simples você nunca o viu, e em que veste carnal viria ele?
Que palavras lhe dirigiria ao chegar? Por estas razões cabe nos a resposta contundente que talvez mais tarde
nos alfinetariam a alma em dores profundas, mas assim é e assim sempre será.
A longa estrada varrida pela areia do deserto, medonha na sua solidão, não era um bom local para parar para descansar, mesmo porque ali naquelas imensidões, somente os abutres habitavam, espreitando algo para saciar sua legendária fome de carniça.
1000 kilometros ao norte, James começou sua viagem, no rádio uma música country, no pensamento a vontade de chegar, seriam mais 300 kilometros e estaria em casa finalmente.
O som sibilado do vento, soprava sobre a pequena abertura no vidro, e James vez ou outra cochilava,
e por mais de uma vez invadiu a outra pista, mas a solitária presença humana de James, jamais causaria mais que um susto e a retomada na trajetória.
James era um ateu, e bitolou sua maneira de ser, em jamais acreditar em qualquer Deus, e mesmo nas maiores aflições nunca seria capaz de rogar ajuda a qualquer um.
Um ser arrogante, homem de negócios, materialista ao extremo, pai por conseqüência, e esposo pela adição interessante dos bens de sua esposa ao seu patrimônio.
O prazer em retornar a sua casa era a de juntos aos seus interessados amigos, planejar novos lucros em reuniões regadas a carne assada e bebida.
A 200 kilometros de casa, durante um dos cochilos, James saiu da pista, caiu no acostamento, deu uma guinada no volante e retornou a pista, mas mais adiante sentiu o carro rebaixar de um lado com um pneu furado.
Estacionou.
Eram 4 horas da tarde, o sol fustigava em um calor infernal aquele pedaço de inferno feito de areia e vento.
Retirou o estepe, as chaves, e soltou as primeiras porcas da roda...
Deitou embaixo do carro para arrumar melhor o macaco...
Ao girar o corpo para melhor encaixar o aparelho, viu aproximar-se por trás do carro um carrinho,
que em primeira dedução pensou ser um carrinho de pipoca, como tantos que ele havia visto na vida.
Acertou o macaco e serpenteando saiu debaixo do carro, e só aí viu que dali onde estava, podia ver lá ao pé do cânion adiante um enfileirado de miseráveis casebres...
Girando o rosto para o lado viu a figura de rosto sulcado, cabelos grisalhos, olhos vivos e no canto da boca um fino cigarro negro. Empurrava um carrinho de feno.
Pelo lado oposto a figura se aproximou e ofereceu ajuda...
James, o fitou nos olhos baixou a cabeça, e passou a mão espalmada no rosto, e ao levantar a cabeça balançou negativamente, já com uma extensa lista de adjetivos chulos na ponta da língua, que por certo desaguaria em cima do pobre homem.
Mas antes que este fizesse menção de dizer estes impropérios, o humilde homem, lhe disse...
___Boa viagem meu filho...
Havia dali onde parou James, a uns 100 metros, uma curva onde sumia a estrada entre dois barrancos muito altos, que escondiam a estrada, que logo mais adianta reaparecia.
Ao começar contornar a curva o ancião olhou para trás, e viu quando James começou a apertar os parafusos do pneu trocado...
25 segundos depois de dentro da parte oculta da curva, uma enorme cortina de poeira levantou-se...
O tenebroso ronco finalmente, na forma de uma carreta de 100 toneladas, surgiu em velocidade descomunal, avançando sobre James e seu carro...
Foram varridos e jogados além, numa montanha de ferro retorcido e fogo.
Num ultimo olhar, James, primeiro viu uma sombra no volante da carreta, depois nitidamente, viu o ancião que lhe sorriu e disse...
___Vamos filho, vim te buscar...
Na mesma proporção em que não reconheceríamos Deus, o príncipe das trevas passaria por nós anônimo.
XX EAS XX