O MONÓLOGO

O crepúsculo da tarde prendia a poluição resultante do dia, na atmosfera, e encostado em uma mureta num lugar muito alto, olhando a tudo Terstício Ferrara, um ser humano, como tantos outros, dimensionando sua vida em diversos aspectos:
___Porcaria de cigarro, paraguaio é ruim demais...
Rsrsrsrsrssr... A primeira vez que fumei cigarros de papel, vomitei, no recreio da escola...
Era um lugar sinistro aquele nos fundos da escola, sem dúvidas...
Cada vez que olhava pela fresta da cerca para ao redor, o fumo comia solto, e o sangue tinha para muitos a cor da vida, pois ali quem não voltava sangrando para casa, era um herói, mas um herói para si mesmo...
Faz 20 anos desde que vítimas da hecatombe financeira meus pais e eu viemos morar ao lado, deste inferno...
Mudei meus hábitos, mudei minha roupa, mudei minha maneira de encarar a vida... Uma tapa na cara significava convite para exibir as credenciais de homem, sujeira colada na roupa, fazia parte do uniforme daquelas almas infelizes num pedaço de mundo que cheira a morte, e que muitos se compram por um punhado de pó.
Aos 13 cheguei, aos 14... Já estava sozinho no mundo, de um internato a outro, sempre lembrando os pingos de sangue de meu pai e de minha mãe, mortos por milícias, e que 1 ano naquele antro me livrou da morte em um beco ao redor.
Lembro como se fosse hoje, fuzis cuspiram duas rajadas, e os gritos dos bandidos, satisfeitos pelo trabalho bem feito...
Quando cheguei a casa, ainda estavam por perto me esperando, pois sabiam da minha existência...
Pelos fundos retirei os corpos e os escondi atrás da casa...
Uma hora mais tarde, com as mãos tingidas de sangue, abri o ventre dos dois marginais ali mesmo no meio da rua, depois de despejar com mais 10 amigos, pelo menos dois pentes de .50 nos miseráveis...
Identificamo-los... De uma favela rival, queriam montar boca ali pra ganhar terreno, só que a vacilada deles, deu no que deu...
Pois é meu Deus... Quantos anos aí embaixo? Cresci matei tantos e muitos morreram por causa de droga, por tráfico mal feito de armas...
Rsssss, sempre fui respeitado, chamado de gringo pelos cabelos loiros, e a violência tatuada na alma...
Quantos e quantos grupos rivais tentaram invadir este pedaço de inferno..
A valeta da juriti, que leva pro esgotão, sempre estava entupido de gente de manhã, guris, velhos e até mulher, foram trucidados ali mesmo, daquele lado esquerdo, do casario...
Com 17 anos resolvi pegar uma mulatinha e casar, montei meu barraco bem aki... Rssss, agora só tem a mureta.
Quantas vezes “trabalhei” de casa sem precisar descer o morro... Boa pontaria.
Mas aos 19 a coisa começou a ficar difícil, os lucros começaram a esvaziar as bocas, e o pessoal, arribando pra outros lugares...
Sobraram 54 guerreiros, e não foi fácil, os inimigos tomaram tudo, mas mesmo assim, matei bastante...
Lembro o dia em que puxei aqui pra cima dois garotos do bando de lá, e fiz os diabos...
Melhor dia da minha vida... Rssss, primeiro amarrei as mãos, depois pendurei os sujeitinhos de perna pra cima.
Mandei a mulher dar umas voltas... Primeiro, fiz uma peneira das nádegas dos guris, era só grito...
E o sangue deles, que beleza... Parece que esvaziaram os cabras, rsrsrsrs.
Mas depois foi preciso, fazer aquela desbuchada, e deixar os bichinhos vazios...
Com os irmãos que sobraram, fomos e fundamos uma favela mais longe, como em guerrilha, minamos a defesa destes lixos daqui e hoje, vamos tomar tudo de novo, se o capeta quizer...
A mulatinha coitada foi despedaçada num tiroteio ano passado, dois tiro de escopeta 12 moeu a cabeça dela, mas atirava bem a garota uma pena...
Bom ta na hora, vou chamar a rapaziada pra festa, e pegar mais uns paus de fogo pra reforçar...
Os cinco lança-chamas vão fazer a limpeza do terreno... Rssssss.
 
xx aes xx
Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 27/08/2009
Reeditado em 28/07/2010
Código do texto: T1778037
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