A salada e o prato principal
Zélia chegou com sacolas de compras. Separou alguns legumes para começar sua salada. Retirou um pé de alface fresco, juntou com um molho de agrião na bacia e encheu de água até a metade. Em algumas horas o filho chegaria com a esposa e o neto. Era uma satisfação enorme tê-los num almoço em sua casa. Seu marido estava vindo com eles também, em breve a família estaria reunida. Os pensamentos passavam por sua cabeça, conforme ela limpava as folhas de alface. Foi quando teve a estranha sensação de ter visto alguma coisa se mexer. Ora, devia estar ficando louca. Limpou a lente dos óculos no avental e observou melhor: não havia nada.
Então continuou a lavar as folhas, mas dessa vez teve certeza, porque viu o que era. Seu coração disparou, seu diafragma se contraiu dolorosamente quando sentiu algo gelado se enroscar em seu dedo. Ela tirou a mão rapidamente e, junto com seu braço, veio uma enorme cobra cascavel peçonhenta; o barulho do chocalho ameaçador na ponta da cauda.
- Minha Nossa Senhora!
A cobra estava em posição de ataque, Zélia sacudiu a mão e gritou desesperada. Porém, quanto mais ela sacudia, mais a víbora se enroscava em seu braço, subindo depressa até seu ombro e pescoço. A mulher se jogou para frente, caindo de cabeça na pia. Sua testa abriu e o sangue jorrou. Foi picada várias vezes no pescoço e no rosto. O sangue espirrando por toda parte. Podia se sacudir, mas não podia escapar.
Uma hora e meia depois, a família tinha acabado de chegar e todos levaram um choque com a bizarra cena que se passava na cozinha. A torneira ainda estava aberta, o chão completamente inundado. E Zélia sendo digerida inteira pela cobra, parecendo ainda viva, mas completamente inconsciente. Ela era o prato principal.