Mensagens Interrompidas

Este conto é baseado nas trocas de e-mails entre 2 amigos, os nomes foram alterados para preservação dos mesmos. Tais mensagens se originaram a partir de uma experiência vivida por um policial, publicada num blog qualquer da internet, no qual Maurício teve acesso. Maurício estava vivendo na cidade de São Paulo há 2 anos, veio do interior de São Paulo, em busca de melhores oportunidades. Tinha um bom trabalho e vivia sozinho num pequeno apartamento, a internet era grande companheira. Em sua cidade natal ficou seu amigo, Erico, o qual disponibilizou as mensagens trocadas com Maurício, para tentar desvendar o mistério em volta de seu amigo.

Navegando na internet, Maurício encontrou um blog de experiências de policiais, e leu a história de um policial, que na investigação de um crime, encontrou uma espécie de diário no computador do local, achou interessante o que se passou com Sara, autora do diário e vítima, e publicou em seu blog.

2 de Agosto de 2003

Viver sozinha é difícil, as vezes eu gosto, mas devo confessar que na maioria das vezes não me agrada. Me sinto só, com saudade da família, que se foi há muito tempo... Saudade de alguém sorrir porque eu cheguei, ou alguém me ligar porque eu estou demorando para chegar. Tudo isso me incomodava muito quando eu era mais jovem, mas agora isto faz tanta falta que chega a confundir meus sentidos. As vezes estou em casa, no trabalho ou mesmo andando na rua, ouço ao longe alguém chamar meu nome. Curioso, muitas vezes reconheço a voz, parece minha mãe, as vezes um amigo. Quando isto ocorre raramente não reconheço a voz, digo voz, mas não sei o que é, apenas ouço, e parece que só eu ouço... Então melhor nem comentar com ninguém ou vão achar que sou louca.

3 de Agosto de 2003

Mais um dia solitário. Há alguns meses instalei meu telefone em casa, mas honestamente acho que foi perder dinheiro, ninguém me liga! Como se não bastasse, esse telefone deve estar com problema, diversas vezes ele toca apenas 1 vez e pára. As vezes toca mais, e quando eu atendo na esperança de conversar com alguém, apenas tenho como resposta o “tu, tu, tu”. Mas o pior de tudo é que sempre alguém liga, do banco ou uma loja atrás de pessoas estranhas, nomes que eu nunca ouvi falar, isto acontece com tanta freqüência que me irrita. Ouço pessoas me chamando, meu telefone toca, mas não é pra mim, isso porque moro sozinha. Acho que estou ficando maluca.

4 de Agosto de 2003

Não queria escrever sobre isso, mas escrevendo posso me expressar, já que não tenho com quem desabafar. Já faz alguns dias que tenho tido um sentimento horrível, não sei o que é, uma angústia, uma espécie de medo e tudo isso começou a acontecer depois que li contos de terror na internet. Devo ser muito tola mesmo! Acabo ficando com medo, mas continuo lendo. Algo estranho ocorre todos dias... Cada vez que me sento na frente deste computador tenho a plena certeza que há alguém atrás de mim. Todos os dias é a mesma coisa, eu sento e logo essa sensação ruim aparece, junto com o telefone me assustando com seus toques únicos e as vozes ao longe chamando meu nome. Tudo isso está criando uma atmosfera assustadora para mim... Neste momento, neste exato momento, enquanto escrevo estas palavras sinto que há alguém atrás de mim... mas não me atrevo de forma alguma a olhar para trás até a sensação passar. Estou com muito medo, muito... mas não tenho coragem para olhar, a sensação, a certeza que há alguém neste momento atrás de mim é aterradora... Medo, medo, medo, estou com medo... Por favor, seja lá o que for vá embora... Estou chorando... chorando... minhas lágrimas molham o teclado, não quero olhar, não quero olhar! Mas que droga, a sensação fica cada vez mais forte, estou tensa, meus ombros doem, não consigo relaxar... Um barulho! Ouvi um barulho, mas não tenho coragem de olhar. De novo o barulho! Algo bate nas paredes, alguém parece andar... Socorro, estou com medo, não quero olhar para trás! O barulho continua está ficando forte, forte! Por favor... não quero ouvir estes barulhos, só quero que pare! Estou enlouquecendo!!! Não... estou com medo, muito medo! Passos estão de aproximando, sons horríveis, estou travada de medo... estão perto... perto... não.... algo me pegggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggggg

De: Maurício

Para: Erico

13 de Novembro de 2003

Olá Erico

Leu a história do policial que te passei? Fiquei até agora intrigado, nunca fui de ler estas coisas na internet, mas num desses dias a toa acabei encontrando esta história. Até agora não se sabe o que houve com a garota. Procurei o nome dela no Google e acabei encontrando o desfecho da história. Encontraram a moça morta, em cima do teclado, isto explica os “ggggggggggggggggggg”. O estranho é que a notícia informa que seu corpo estava em estado avançado de putrefação, que já faziam pelo menos 20 dias que a moça tinha morrido, mas encontraram ela no dia 4 de agosto, ou seja, na manhã seguinte da última coisa que ela escreveu. Sei lá cara, aqui em São Paulo acontece cada coisa!

Até mais

De: Maurício

Para: Erico

16 de Novembro de 2003

Que pena que você ainda não teve tempo de ler essa história, faça um esforço, é intrigante. A propósito, queria lhe perguntar, acho que isto acontece com todo mundo. De vez em quando você ouve uma voz familiar ao longe chamar seu nome? As vezes eu ouço, em casa ou quando estou andando na rua. É estranho, pois sempre é uma voz familiar. Um dia foi tão nítido aqui em casa, ouvindo a voz da minha mãe, que eu até respondi! Achei que ela tinha feito um surpresa e tinha vindo me visitar, mas não era nada, só minha cabeça. Acho que estou ficando louco, igual a Sara da história policial, realmente morar sozinho não é nada bom!

Até mais

De: Maurício

Para: Erico

25 de Novembro de 2003

Erico, estou ficando com medo... Acho que as vozes que ouço me chamar, e agora o telefone que toca um vez e pára, ou ligam para cá procurando pessoas que não conheço, são coincidências demais com a história da Sara... não estou gostando nada disso... Pra ajudar, sinto calafrios na espinha toda vez que sento em frente a este computador... que droga! Nunca fui supersticioso nem nada, mas acho que fiquei realmente impressionado com a história da Sara. E agora sinto também alguém atrás de mim... saco! Mas eu sou corajoso! Pronto, olhei, e não tem ninguém... mas não adianta, cada vez que eu me volto para o computador a sensação volta, com mais força... até eu não ter mais coragem... droga!

De: Maurício

Para: Erico

26 de Novembro de 2003

Cara, eu dormi em cima do teclado, não tive coragem de virar! Acredita?!

De: Maurício

Para: Erico

28 de Novembro de 2003

Erico, Erico! Estou enlouquecendo cara, literalmente! Vendo coisas! Hoje de manhã, quando fui escovar os dentes, estava lavando o rosto e quando eu olhei para o espelho eu vi cara! Eu vi! Atrás de mim, estava a Sara, aquela moça da história policial, vi o rosto dela, e lembrei da foto que tinha visto no Google! Que loucura! Ela olhou pra mim, parecia triste, parecia querer dizer algo, fiquei com muito medo, muito! Mas quando virei, ela sumiu! Sei que parece mentira, mas eu vi! Será que estou louco? E pra piorar a sensação ruim de que há alguém no meu apartamento, que fica atrás de mim enquanto estou no computador tá piorando, igual aconteceu com Sara, estou com medo cara! Preciso de conversar com alguém, vem me visitar por favor!

De: Maurício

Para: Erico

29 de Novembro de 2003

Que pena que você não pode vir! A coisa ta piorando, eu vi ela de novo esta manhã, quando novamente fui lavar o rosto, e ela apareceu de novo! Tentando dizer algo, tive muito medo, mas toda vez que me viro para vê-la de verdade, ela desaparece! Acha que estou doido? Acho que esta sensação de que há alguém atrás de mim é ela! Estou com medo, ele deve estar agora, neste momento, atrás de mim, estou sentindo! Que droga cara... estou chorando... me ajuda! Estou com medo de virar e olhar, acho que ela quer fazer mal a mim, como fizeram com ela... Não vou olhar, não vou olhar...

De: Maurício

Para: Erico

30 de Novembro de 2003

Que droga! Dormi sobre o teclado de novo! Erico, tomei uma decisão. Vou para o banheiro agora, e devo ver Sara no espelho novamente, vou falar com ela, perguntar o que ela quer de mim, por que está me perseguindo. Vamos conversar pelo Messenger hoje a noite, te conto como foi. Vou indo, ou vou me atrasar para o trabalho.

Até mais.

Mauricio está OnLine

Erico diz:

E ae Maurício, tudo bem?

Maurício diz:

Erico... cara...

Erico diz:

Fala, o que foi? Como foi com a Sara?

Maurício diz:

Erico... não é ela...

Erico diz:

O que? Como assim?

Maurício diz:

Não é cara, não é, que droga!

Erico diz:

Não estou entendo nada!

Maurício diz:

Me ajuda cara, me ajuda, a Sara...

Erico diz:

Estou ficando preocupado! O que foi??? Você não está dizendo coisa com coisa!

Maurício diz:

Estou com medo... estou chorando... estou com frio... não me deixa sozinho, não me deixa, me ajuda... não é ela cara, não é... atras de mim, tira de trás de mim!!!

Erico diz:

Maurício!!! Cara, o que foi?? Por favor, me fala algo com sentido!!!

Maurício diz:

kljsfgnvswef... Sara..sflkvln, ajuda...sfslksfs, socorro...sfsdfls... atrás, atrás sflksmvl

SOCORRO SDLFSDLML 34R97 ATRÁS DE MIM... ERICO... ME PEGGGGGGGGGGGG

Erico diz:

Maurício!!!!!!!!!!! Estou te ligando!!!!

Maurício não recebeu sua mensagem, parece estar OffLine.

O telefone nunca foi atendido por Maurício. Erico ligou para a polícia que se dirigiu para o local. E Maurício foi encontrado assim como Sara, debruçado com sobre o teclado, morto... E da mesma forma como Sara, seu corpo encontrava-se em estado avançado de putrefação, mesmo tendo morrido horas antes. Erico ficou inconformado, nunca lera a história de Sara e nem queria. Mas decidiu divulgar a história de seu amigo, para quem sabe encontrar alguém que esteja vivenciando os sinais, de se chamar o nome ou do telefone tocando uma vez ou procurando pessoas que não existem. Erico quer encontrar alguém com sensibilidade suficiente para isto, para tentar ver novamente Sara, e agora quem sabe a Maurício também, e tentar compreender o que aconteceu com eles.

Escrito por Leonilson Lopes e Sidnei Cruz

LeoLopes
Enviado por LeoLopes em 31/07/2009
Código do texto: T1729724
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.