O TOQUE DA BRUXA

O TOQUE DA BRUXA

Roubar não era correto, ela sabia que não o era. Mas e a fome? Quem pensava na fome? Ninguém! e ali estava outra coisa que também só ela sabia.

Correr não era difícil, não para ela, já acostumara-se, todos os dias fugia de alguém, da polícia, de tarados e... do seu pai (O desgraçado que adorava humilhá-la). O problema era correr na mata, os galhos, os espinhos, a relva alta rasgavam-lhe a carne firmando sob dor futuras feridas.

Que droga fora aquela? Aquela casa, tão bela, tão bem decorada. Por que diabos seria construída no meio do nada. E aquela velhinha? Que susto deve ter sofrido. Não intencional, ela procurava sempre não ser vista, mas nem tudo pode ser previsto, algumas coisas são inevitáveis. Coitada! A velha não teve tempo nem de gritar, já ela, fugiu como um raio. E pensar que a pobre senhora tentou pega-la, só os dedos tocaram-lhe o braço, ardia ali, talvez tenha arranhado, mas, não foi nada, pelo que a velha sofreu ela certamente merecia mais que um simples arranhão.

Ela sabia estar próxima à saída daquela mata, sua cabeça era um radar formado pela dura vida de fuga, conhecia por instinto, algo como um sentido a mais elaborado por seu corpo orgânico e maleável, contudo não encontrava.

Seu braço ardia mais, mas não podia olhar, tinha, como sempre; que fugir e fugir, era sem dúvida o que fazia de melhor.

A Mata era imensa, ela não tinha dado conta disso. Ora fora tão fácil e rápido encontrar aquela casa, sabia que corria na direção correta, mas porquê não achava a saída. O cansaço aumentara, o ritmo fora diminuindo e logo ela já estava andando. As árvores estão maiores? Não! são as mesmas, mas que folhagem estranha. São só árvores.

O braço doía mais, levantou a blusa para olhar, mas antes, o que viu fez-lhe cair sentada pelo susto: Três metros a sua frente havia um velho, negro, com um grande chapéu de palha, este a olhava profundamente, de sua boca pendurava-se um cachimbo que enevoava-lhe a face com a mais branca fumaça.

Ficaram ali, ela e o velho a se entre olharem por algum tempo, havia algo estranho, ele não se movia, e a fumaça subia lentamente sem sequência alguma de baforadas, em seguida uma grande borboleta pousou na ponta do cachimbo e este caiu; era um galho. Ela trocou de posição procurando talvez enxergar melhor, assim pode aperceber-se de seu equívoco : Não havia um velho; era só uma árvore com tronco escuro. O galho, as folhas e o sol definiam o chapéu, os traços e o falso cachimbo. A fumaça nada mais era que um enxame de pequenos insetos.

Acalmou-se aos poucos e entre sorrisos de surpresa equívoca seguiu o caminho. Ao fundo algo branco destacava-se, voltou a correr, só poderia ser a saída, o braço voltara a doer. Desanimou-se drasticamente ao ver que voltara para a casa que fugira, não havia ninguém a vista, sem pestanejar tratou de fugir pelo caminho contrário. Conseguira roubar pouca coisa (Um brinco e dois anéis; não encontrou dinheiro algum), portanto não queria ser desfeita daquilo e a passos largos tratou de fugir.

Bem! Vamos! Reto, sem círculos. Maldita mata, não acho, bem tem que ser reto, assim. Por que fui entrar nesta. Droga. Meu braço, Droga porquê dói tanto? Bem, vamos ver!

Um grande grito ecoou pela mata, no braço próximo ao ombro havia um corte que escorria pus infindamente, dentro desta mescla orgânica alimentavam-se vorazes vermes peludos. Entre gritos e tapas seguidos de aguda dor conseguiu remove-los. Tentou acalmar-se, precisava sair, fugir, apressou-se numa corrida violenta.

Ali está, posso ver a saída. correu com todas as forças em direção à sua salvação, abriu a ultima remessa de galhos com o peito, sentia-se próxima. Sim! lá está.

Ao sair, de súbito suas pernas travaram pelo susto que levara, e veio ao chão com uma queda estrondosa. Era a casa, mas agora havia alguém; a velha senhora segurava um curto machado enquanto acenava para ela com a outra mão, um sorriso indescritível emanava daquela mulher.

Assustou-se ainda mais, ao ver que abaixo da Velha, amarrado como um porco ao sacrifício, encontrava-se o velho que vira na mata. Mas, Mas, não era real, eram só galhos. Num golpe só a cabeça do velho rolou aos pés do seu carrasco.

A cena deu-lhe forças para tentar fugir novamente, foi quando um grito agudo e uma saraivada de dor travou-lhe os movimentos, sua perna estava quebrada, a queda fora maior do que imaginara. Tentou arrastar-se em direção a mata.

Deus! Ela vem vindo, deus ajude-me, ela vem vindo..ela...

João Victor

http://contosjvictor.blogspot.com/

J V I C T O R
Enviado por J V I C T O R em 13/07/2009
Reeditado em 16/11/2010
Código do texto: T1697853
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