Rio Aqueronte, a Caminho do Inferno

Escrito por Leonilson Lopes e Sidnei Cruz - 10 de Julho de 2009

Pedro e sua família nunca mais teriam a mesma sorte, acabaram de ganhar um cruzeiro com tudo pago pelas ilhas caribenhas por 7 dias. Tudo isso graças àquele chocolate que sua irmã gêmea comprou num momento de impulso feminino quando as mulheres querem um doce. E o escolhido é sempre o chocolate. E este chocolate tornou-se muito doce e proveitoso para todos, pois naquele mês o supermercado estava fazendo sorteios para seus clientes, e os sorteados ganhariam o tal cruzeiro. Nunca ganharam nada na vida, mas isto foi realmente um presente dos céus!

João o pai da família, um homem simples, que construiu sua vida ao lado da esposa Maria, também trabalhadora, esforçada, que sempre cuidou com muito zelo de seus filhos, um casal de gêmeos, Pedro e Silvia, agora adultos com 20 anos. Pedro sempre fora conhecido na família sendo o mais inteligente, e de fato é, estudava agora engenharia, e podia aplicar muito do que seu cérebro era capaz de raciocinar e criar. Silvia, sendo muito bela e romântica, adora escrever poesia, estuda jornalismo, mas diz que é só para aprender a escrever, pois seu desejo é tornar-se escritora, especialmente de romances. Apesar das diferenças, são bons amigos, mas não peça para Pedro ler as poesias de Silvia, ou ele pode ter diabetes, de tão meloso que considera os escritos da irmã. E Silvia tem dores de cabeça ao ver tantos números e se desespera na hora de encontrar o X.

Chegado o grande dia, toda a família se reúne no porto. Havia muitas pessoas, o navio era grande, mas não tão grande quanto àqueles grandes cruzeiros que se costuma ver na TV, mas era o que o supermercado conseguiu, e já estava bom demais. A família embrenhou-se no meio da multidão e todos começaram a embarcar. Pedro, que não perdia o hábito, notou a quantidade de pessoa e logo pensou: "Que estranho, parece que todos os cliente do supermercado foram sorteados! Ou então eu estou muito mal informado sobre a quantidade de clientes que um supermercado pode ter. Se for o caso, acho que vou abrir um supermercado no futuro...".

Assim a feliz família iniciou sua inesquecível viagem em alto mar. Estavam encantados, com beleza do mar e sua imensidão tocando o céu no horizonte vazio a sua frente. Passeavam no navio, as vezes sem jeito, pois tudo parecia um tanto quanto luxuoso, coisa que eles não estavam nem um pouco acostumados, principalmente seu João e dona Maria. Na popa do navio, havia um conjunto de piscinas, onde a maioria dos passageiros se refrescava, o que fez Pedro desistir de nadar, não gostava de locais muito cheios de pessoas, mas sua família toda estava lá. Na proa havia um espaço livre, com cadeiras onde algumas pessoas estavam observando o mar e algumas aves que sobrevoavam o navio e lá Pedro ficou a observar a imensidão a sua volta.

No dia seguinte, Pedro percebeu que muitos perderam o interesse pelas piscinas, o que foi ótimo para ele, que decidiu dar alguns mergulhos. Ao passear pelo navio, notou também um movimento bem menor. "O pessoal já deve ter cansado, de piscina, piscina e mais nada. Muitos devem estar dormindo. Talvez eu deva fazer o mesmo". Pedro então retirou-se para a cabine de sua família e lá permaneceu, dormiu e se entreteu com seu notebook, um amigo inseparável.

Em mais um dia de cruzeiro, Pedro acordou disposto e com vontade de ir na piscina, tratou logo de ir a popa, e desta vez não se importaria que tivesse muitas pessoas. Para seu alívio, havia somente algumas poucas pessoas na piscina, bem menos do que ontem, um prato cheio para Pedro, que mergulhou e nadou em toda a extensão da piscina maior. Nadou até se cansar. Decidiu dar uma volta pelo navio, e assim o fez com apenas uma toalha na cintura. Enquanto caminhava notou que menos pessoas circulavam pelo navio, o que fez sua mente sempre ativa fazer um cálculo. Logo notou que pela quantidade de pessoas que embarcaram no navio, a quantidade de pessoas que circulavam e a quantidades de cabines dormitórios, deveria haver pelo menos 2 pessoas em cada cabine! "Será que todo mundo já achou que o cruzeiro perdeu a graça?!", perguntava-se Pedro. Vendo seu pai também caminhando pelo convés, perguntou-lhe.

- Pai, não acha estranho que tem tão pouca gente se divertindo. Parece que todos estão seus quartos.

- Ah meu filho, sabe como é esse povo sofisticado, tudo enjoa rápido! Só sei que eu estou adorando. - Seu João em sua simplicidade estava feliz.

Pedro não muito conformado com a resposta do pai, decidiu dar uma volta na parte onde ficam os quartos, resolveu começar do primeiro nível. Havia três níveis de quartos, Pedro e sua família estavam hospedados no terceiro nível, apenas um abaixo do convés. Desceu até o primeiro nível e andando entre os corredores, viu muitas camareiras limpando os quartos e o capitão do navio, que parecia estar inspecionando, e o que o deixou encucado foi o fato de não ver as pessoas, as cabines estavam vazias.

- O que faz aqui rapaz? Você não é deste nível! - Uma das camareiras interrogou-o rudemente, enquanto o capitão olhava com reprovação.

- Eu só estava dando uma volta! Desculpe! - Pedro ficou sem graça, com a rudeza da mulher, ele achava que tinha feito algo muito errado e decidiu subir de volta ao convés.

Pensando em como a camareira foi rude, e que faria uma reclamação à companhia assim que chegassem em terra, notou que o segundo nível parecia vazio também. "Será que as pessoas subiram?", perguntava-se. Pedro continuou subindo ao convés, e para seu espanto, continuava com poucas pessoas. Ainda atordoado com a bronca da camareira, decidiu refrescar a mente na proa do navio. Lembrando-se do filme Titanic, decidiu fazer como Jack e ir até a ponta, mas claro que não havia pensado em gritar "Eu sou o rei do mundo!". Na ponta do navio, sentia a brisa do mar em seu rosto, fechou seus olhos por um longo período, parecia estar voando, a brisa, o mar, o silêncio quebrado apenas pelo som das águas, e tudo isso era muito tranquilizador, desta vez a mente de Pedro descansava, sem calcular ou pensar em nada. O descanso de Pedro foi quebrado por um susto, ao ouvir um trovão. Enquanto esteve de olhos fechados a mãe natureza parecia ter se revoltado, o céu ficou negro, e pesadas nuvens pairavam sobre o mar, lançando raios para todos os lados, que atemorizava Pedro e ao mesmo tempo o encantava. Preocupado se a tempestade que se armava e os raios poderiam ser perigosos, foi atrás de algum funcionário para se informar.

Pedro estava sozinho na proa, começou a caminhar e viu que não havia ninguém no convés, ou nas piscinas, em lugar nenhum. Ficou com medo, pensou que todos foram se abrigar nas cabines. Decidiu descer e se encontrar com sua família, e ao ver que o nível onde ficava sua cabine estava deserta, percebeu que algo estava errado, muito errado. Correndo, quase caindo pelas escadas, desceu ao outros níveis e viu que também lá não havia ninguém. Agora em desespero sem saber o que fazer, pensou um pouco e decidiu ir até a cabine de comando, lá encontraria o capitão. Quando chegou ao convés, um raio atingiu a parte mais alta do navio, espalhando faísca para todos os lado, fazendo com que houvesse um blecaute e todas as luzes se apagaram. Com o susto das faíscas voando para todos os lados, Pedro jogou-se no chão. Ao levantar-se, viu a escuridão, a não ser pelas luzes de emergência que tornaram-se pontos de luz em meio a escuridão. O raios e as trovoadas ajudavam a iluminar, e Pedro seguiu até a cabine de controle que ficava numa elevação na parte central do navio. Quando chegou na cabine, as luzes voltaram a acender, e tudo iluminou-se novamente. Pedro entrou na cabine, que também estava vazia, olhou em volta e não viu nada, tentou usar o rádio, mas foi em vão, não havia sinal algum.

Pedro adiantando-se para olhar o radar, viu um ponto aproximar-se do navio. "Que bom, alguém está vindo!", pensou com certo alivio, ainda sem entender o que estava ocorrendo e preocupado com sua família. Do alto, Pedro ficou observando em frente, embora estivesse escuro, com os flashes dos raios podia ver além das luzes do navio. Quando o ponto chegou mais perto, Pedro viu o capitão e mais 3 camareiras irem em direção a ponta do navio e pararam, como se aguardassem aquele ponto que se aproximava. Aliviado, resolveu descer a até lá para encontrar-se com eles.

Saindo da cabine de controle, Pedro passou por um dormitório ao lado da cabine, que estava com a porta aberta, e deteve-se ao ver 2 belas pinturas dentro deste dormitório. Curioso, Pedro aproximou-se e viu que se tratava de retratos, já bem antigos, datava de 1697. Um dos retratos continha dois homens juntos, em fardas militares da época e outro era um casal, e o homem era um dos que estava no outro quadro. O retrato dos 2 homens tinha o nome de Pierre e Felix, enquanto o retrato do casal tinha o nome de Pierre e Catharine. Fascinado pelo perfeito retrato, Pedro começou a examinar melhor as figuras. "Pierre se parece... Não pode ser!", tomado pelo arrepio repentino, Pedro examinou melhor a figura de Pierre."É o capitão deste navio!", agora em pânico, percebeu que tudo o que havia acontecido até o momento tinha algo a ver com aquilo. Examinando melhor o local, encontrou algo, que parecia ser um diário, abriu e começou a examinar, percebeu que era o diário de Pierre escrito em francês, e assim como os quadros, pareciam muito antigos. Pedro desde criança estou línguas latinas, e dominava francês, italiano e espanhol, e não teve dificuldades em ler o manuscrito.

15 de Fevereiro de 1697

Hoje é um belo dia. Félix, meu melhor amigo, a quem chamo de irmão, me agraciou com dois belos presentes, um retrato pintado em tela mostrando eu e ele em nossas fardas, orgulhosos de servir na marinha francesa. E o outro quadro mostra eu e minha bela Catharine, tão bela que quando não estou com olhos pousados sobre sua beleza agora fico hipnotizado por esta pintura, que tão fielmente retrata meu amor, minha deusa. Logo vamos nos casar, e Félix nos deu o presente adiantado.

28 de Fevereiro de 1697

Félix fora chamado para embarcar numa expedição rumo a costa Portuguesa. Por algum motivo que ele não quis explicar, pediu-me que conduzisse a expedição, e solicitou aos nossos superiores que eu fosse promovido a capitão assim como ele. Fiquei muito feliz com a promoção, mas meu casamento teria que ser adiado por alguns meses. Isto é tão cruel, esperei muito para ser capitão, mas também esperei muito para ter meu amor ao meu lado... Mas fico tranquilo, Félix prometeu que cuidaria de Catherine até meu retorno, para eu que pudesse finalmente me casar.

25 de Março de 1697

Estou em alto mar, pela primeira vez comandando um navio. Sinto me realizado, mas não completamente feliz, pois a saudade de minha amada rasga-me o peito dia e noite.

17 de Setembro de 1697

Finalmente, se os ventos soprarem como estão agora, amanhã devo chegar a minha terra, e finalmente verei Catharine!

18 de Setembro de 1697

Oh céus! Oh céus! Enquanto escrevo estas palavras, minhas lágrimas borram a tinta e o ódio em minhas mãos amassam o papel! Maldito seja o homem a quem chamei de amigo! Maldito! Ele destruiu minha alma, acabou com a razão de minha existência! Tão perverso e mal... Ele foi capaz de abusar de minha querida flor, de minha Catharine! Não!!! E como se não bastasse ele brutalmente a assinou com uma faca sem seu pescoço após conseguir o que queria! E eu fui enganado! Enganado! Que vida desgraçada!!! Ele acabou com minha vida... e já que não possuo razões para viver, vou deixar este mundo, mas não irei sozinho... vou levá-lo comigo!

19 de Setembro de 1697

Estou preso... Tentei matar Félix, mas os soldados me deteram e fui preso, acusado de alta traição. Mas não vou descansar até levar a alma de Félix comigo.

15 de Abril de 1698

Continuo preso... meu espírito é morto... mas não meu corpo, e não morrerá até que eu vingue minha Catharine.

18 de Outubro de 1699

Finalmente, consegui fugir, após muito tempo! Buscarei a ajuda do próprio diabo para acabar com Félix. Madame Sofia é conhecedora das artes negras, ela há de me ajudar.

20 de Outubro de 1699

Madame Sofia me ensinou o encantamento, pois ela não poderia fazer por mim, devido aos riscos. Mas eu não me importo, aquele desgraçado irá sofrer! E não com a morte, pois a morte é um alívio... Mas sofrerá eternamente! O feitiço consiste em fazer com que a alma de Felix fique presa dentro de seu navio, vagando pelo rio Aqueronte, que conduz ao inferno, para isso eu precisaria somente matá-lo e fazer o encantamento sobre seu cadáver. Caronte, aquele que busca as almas e as conduz para o inferno em sua jangada neste rio, não poderá levar Félix devido ao feitiço. Assim Félix vagará pelo rio Aqueronte, e não mais poderá se livrar! Mas isto tem um preço. Félix tornar-se-á uma criatura faminta, faminta por carne humana e desejoso de ter escravos para ficar em seu navio. Madame Sofia disse que de tempos em tempos eu deveria alimentar a criatura com pessoas vivas, para que Félix fosse saciado e a alma da pessoa devorada ficasse presa ao navio, para servirem de escravos. Disse também que Felix teria um ódio mortal de mim, e quando chegasse o momento de alimentá-lo, eu deveria desenhar o circulo do feitiço no chão, e Felix só poderia sair de seu navio para ficar dentro deste círculo, e não poderia passar do circulo, mas teria de ficar nele ou voltar para seu navio. E todo aquele que entrasse nesse circulo seria devorado pela criatura, por Félix. Caso eu deixe de alimentar Felix, o feitiço se quebra e ele devora a mim, e todo feitiço é quebrado, e Caronte pode levar as almas que devem ir ao inferno. Questionei Madame Sofia sobre os intervalos em que eu deveria alimentar a criatura, e ela me respondeu que são intervalos de 97 anos. Isto seria impossível, como eu poderia manter o feitiço ativo por tanto tempo? Então Madame Sofia, explicou-me que isto inclui meu risco. Fazendo do feitiço, minha alma ficaria presa a meu corpo, e eu nunca morreria de causas naturais. E estaria fadado a sempre alimentar a criatura aprisionada no rio Aqueronte. Fiquei em dúvida se valeria pena, mas então Madame Sofia disse me que no devido tempo eu reencontraria minha doce Catharine, que ela reencarnaria num tempo futuro, e quando isto acontecesse eu saberia. Decidi então prosseguir com o feitiço, e o que mais queria era poder reencontrar minha amada, depois disso, não me importo de morrer de verdade, já terei tido minha vingança e terei reencontrado meu amor...

Pedro ficou atônito. Não conseguia acreditar no que lera, o capitão que está agora na proa do navio é Pierre! E aquele ponto que se aproximava do radar é o navio de Félix, e neste momento eles estão sobre o rio Aqueronte! Pedro entrou em pânico, ao perceber que as pessoas daquele navio seriam a refeição do terrível Félix, inclusive sua família! Ao lembrar dos intervalos de 97 anos lembrou-se do naufrágio do Titanic em 1912. "Oh não! O Titanic foi capturado por Pierre e entregue a Félix... Em 1815 muitos navios ingleses sucumbiram aos piratas, mas parece que nem todos foram capturados por piratas... E sim por Pierre!".

Abandonando o diário e voltando para a cabine de controle, tentando se esconder, Pedro observava o movimento lá em baixo. Na escuridão, Pedro viu a silhueta de uma caravela, ao se aproximar mais e com a luz dos raios, visualizou uma terrível embarcação, negra e com velas rasgadas, além de parecer totalmente sucateada. No navio, percebia-se a presença de muitos seres, com olhares tristes e melancólicos, que Pedro logo percebeu se tratar das almas que ficaram presas no navio, por terem tido seus corpos devorados por Félix. No comando do navio, Pedro viu a terrível criatura, sim, Félix o mostro devorador, a quem Pierre alimentava e mantendo-o preso ao Aqueronte. Felix tinha uma aparência terrível, trajava seus trajes militares, mas eram sujos, rasgados, verdadeiros trapos. Seu rosto possuía metade caveira e a outra metade possuía o lhe restou de um corpo, resto de pele, músculos e veias. E ele gritava, parecendo muito faminto. Pedro continuou a observar, e quando a caravela fantasma parou bem em frente a Pierre, as camareiras se desesperaram. Pierre pareceu dizer algo, que não se pode ouvir, e as acalmou. Pedro viu que Pierre entregou certa quantidade de dinheiro as camareiras que andaram em direção a caravela. Quando Pierre se encontrava atrás delas, subitamente ele sacou uma faca, e cortou o pescoço das três mulheres... Pierre as enganara com dinheiro. Com os sangue que jorrou das pobres camareiras, Pierre desenhou um circulo, com desenhos e símbolos estranhos. Ao terminar o desenho, Félix saltou para dentro do navio, no centro do círculo, e lá começou a gritar e rosnar como um cão raivoso.

O circo dos horrores começaria, abaixo do assoalho da proa havia um grade compartimento, onde o acesso era feito através de uma grande tampa, que foi erguida por Pierre. Logo ele chamou a primeiro pessoa que seria devorada pelo monstro. Pedro viu então que era sua irmã, e o temor de perdê-la tomou conta de seus pensamentos. No entanto, Pedro notou que Pierre tratava muito gentilmente a moça, não estava amarrada, e Pierre a conduziu até a alguns metros dali e amarrou-a num mastro que havia no local, acariciou seu rosto e deu-lhe um beijo na testa e voltou para chamar o próximo que estava no compartimento. Desta vez veio um homem, amarrado e aparentemente abatido. Com violência, Pierre empurrou o pobre homem indefeso para dentro do círculo, e o que ocorreu naquele pequeno espaço foi perturbador. Pedro viu o homem ser morto e devorado, o mostro agia com extrema violência, arrancou-lhe partes do corpo em segundos, e sangue jorrava por todos o lados. Pedro observou então, a fraca luz saindo do corpo já esquartejado, a luz tinha rosto, tinha forma, era a alma daquele homem, e sua feição era de horror e desespero, estava sendo levado para ser escravo na caravela. Pierre continuou conduzindo um a um até o círculo, que agora mal se observava seus limites devido ao sangue espalhado. E todos eles tornavam-se a presa do monstro Félix. Entre um e outro, notava-se a fúria de Félix, e seus avanços contra Pierre, mas ele estava limitado ao circulo, e Pierre, parecendo se deliciar com o fato, dizia algumas coisas para ele, que não eram ouvidas por Pedro, parecia estar de alguma forma torturando e provocando Félix, se vingando como desejara.

Temendo que seus pais, estivessem naquela fila e fossem os próximos, Pedro decidiu descer escondido e libertar sua irmã. Ocorreu pela cabeça de Pedro, que talvez Pierre achava que sua irmã era a reencarnação de sua amada, de fato o retrato da moça muito se parecia com sua irmã, e de tabela com ele, afinal eram gêmeos. Descendo sorrateiramente, Pedro conseguiu manter-se sem ser visto, aproximou-se de sua irmã, e quando ela notou, sorriu e ele fez sinal para que não fizesse barulho. Pierre estava ocupado tratando de sua criatura, e não notou a aproximação de Pedro. A corda que amarrava Silvia estava muito pouco apertada, possivelmente Pierre não queria feri-la. Facilmente Pedro soltou a corda.

- Pedro, o que está acontecendo? - Silvia perguntou sussurrando.

- É uma longa história, depois eu conto. Precisamos libertar essas pessoas.

De súbito, Silvia pareceu ter visto algo, seus olhos ficaram arregalado e ela ficou olhando para o nada, após alguns instantes ela desmaiou e foi segurada por Pedro. O movimento foi notado por Pierre, que logo voltou sua atenção para Pedro.

- O que está fazendo com Catharine? - Pierre começou a caminhar a passos rápidos em direção a Pedro.

Pedro ficou imóvel, não poderia correr e deixar a irmã, muito menos conseguiria carregá-la enquanto foge. Enquanto permaneceu indeciso, Pierre o alcançou.

- Parece que eu esqueci de alguém. Solte-a! - Ordenou Pierre. Pedro obedeceu de delicadamente colocou a irmã no chão. - Agora venha cá! - Pierre agarrou Pedro e lançou-o pela caminho em direção ao circulo. Pedro caiu no chão, ferindo as mãos e rosto.

Pierre novamente segurou Pedro pelo colarinho da camisa e arrastou-o, como se fosse um grande saco de lixo. Pedro estava meio zonzo após a pancada no chão, e enquanto tentava recobrar a sanidade, não ofereceu nenhum esforço. Já no limite do círculo, o fim era iminente para Pedro.

- Sua hora chegou rapaz! - Declarou Pierre, enquanto o Félix aguardava sua próxima refeição salivando.

- Não! Pare! - Gritou Silvia, agora desperta, e andando em direção a eles.

- Catharine! - Os olhos de Pierre, outrora mortos, pareciam agora ter brilho.

- Sim meu amor! Sou eu! Por favor, não faças mais mal as pessoas! - Silvia estava com um tom de voz diferente, o andar diferente e até as expressões faciais diferentes, realmente era Catharine, a amada de Pierre.

"O que... Silvia... mas...", Pedro aos poucos conseguindo entender o que estava acontecendo, viu sua irmã, como se fosse outra pessoa. Silvia, ou melhor Catharine, chegou bem perto, e tocou o rosto de Pierre.

- Por favor, pare. - Gentilmente Catharine pediu a Pierre.

Aproveitando a distração de Pierre, num rápido movimento e instinto de sobrevivência, Pedro empurrou-o para dentro do círculo. E sem nenhuma hesitação, Félix cravou suas garras no corpo de Pierre, que por sua vez gritou de dor. A criatura parecia não querer matar Pierre imediatamente, mas estava afligindo-lhe muita dor.

- Não!!! Pierre! - Catharine, esticou-se em direção ao amado que era torturado por Félix.

- Silvia! Pare! - Pedro tentou impedir, mas foi em vão.

No momento em que Catharine com braço esticado, adentrou o limite do círculo, Félix com muita força puxou-a para dentro do circulo. E como se tivesse agora a sobremesa, tratou logo de aniquilar o casal, deliciando-se com suas parte. Ambos já se encontravam mortos, como por ironia, suas mãos, separadas do corpo, permaneciam unidas.

- Não!!! - Pedro vendo a morte da irmã e incapaz de agir, chorou e lamentou.

Durante sua agonia, Pedro viu uma luz que desceu sobre a caravela, e as almas que estavam presas lá, agora foram libertas e estão ascendendo aos céus. Outrora suas faces exprimiam tristeza, dor e rancor, agora mostravam-se felizes, estavam livres.

Pedro avistou no rio Aqueronte, uma silhueta que se formava ao se aproximar do navio, tratava-se de um homem que calmamente remava de pé sua pequena jangada. Ao se aproximar mais, visualizou um homem vestido em uma túnica negra, não se via seu rosto, havia apenas uma escuridão no lugar no rosto. Como quem tem autoridade, seguiu sem se preocupar com o que ocorria ali, parou a jangada e subiu no barco como se flutuasse. Foi até Félix, e colocou nele uma espécie de algema. Seu monstruoso corpo tombou naquele momento, ficando somente a alma de pé, revelando a pessoa que existia por trás daquele monstro. Pedro então entendeu que aquele homem era Caronte, e veio buscar os condenados para atravessar o rio de chegar ao inferno. Félix caminhou resignadamente até a jangada e lá permaneceu. Depois foi a vez Pierre, sua alma já estava a espera de Caronte, mas uma luz se interpôs entre os dois, era Catharine. Ela ainda não havia subido aos céus e parecia querer impedir que Caronte levasse Pierre. Sem entender o que acontecia, Pedro continuou a assistir a cena extremamente peculiar, e viu uma grande coluna de luz que desceu sobre Catharine, ela estava olhando para cima e parecia conversar com alguém. Quando a coluna de luz se foi, Caronte deu as costas, subiu em sua jangada e levou somente Félix.

Catharine e Pierre vieram em direção a Pedro, que amedrontado, tentou se levantar e fugir, mas em vão, não tinha forças muito menos coragem.

- Não temas rapaz! - A doce voz de Catharine foi ouvida. - Eis que eu sou sua irmã nesta geração, mas eu sou e sempre fui Catharine e agora reencontrei meu amado. Devo agradecer-lhe, se não fosse sua corajosa atitude de salvar estas pessoas, esta maldição não se quebraria. Pierre agora está arrependido, e eu decidi não ir ao céu, em troca que ele não fosse ao inferno, para que eu pudesse ajudá-lo a se recuperar e um dia poder voltar comigo, pois não posso viver sem ele. Obrigado meu jovem, venha, eu e Pierre o ensinaremos a guiar o navio e você levará estas pessoas a salvo de volta em terra.

Antes que as pessoas fossem libertadas, Pierre ensinou como Pedro deveria guiar o navio e voltar para casa. Assim que Pedro assumiu o comando, Pierre e Catharine despediram-se dele. E continuaram seus dias pairando sobre os mares e protegendo os navios contra todo tipo de infortúnio.

Pedro foi então libertar as pessoas. Todos estavam extremamente assustados sem saber o que estava acontecendo. Ficaram aliviados ao saber que tudo terminara, mas alguns choraram seus mortos. Pedro conduziu o navio para fora do Aqueronte, e mais uma vez encontrava-se em alto mar, com um límpido céu azul novamente. Não demorou muito até equipes de busca fossem atrás deles, pois haviam desaparecido dos radares ao passar pelo Triângulo das Bermudas. Ao serem localizados, equipes médicas e de resgate embarcaram no navio e Pedro foi considerado um grande herói, pois a história que ficou conhecida pelo mundo, é de que o navio foi sequestrado por terroristas, mas que depois desistiram do sequestro e Pedro valentemente guiou o navio em segurança. Pedro também não fez questão de contar tudo o que vira, afinal quem acreditaria, já havia sido muito doloroso perder a irmã, seus pais estavam vivos, mas muito tristes. De qualquer modo, aquele passeio não foi um grande prêmio como haviam imaginado no começo, mas tornou-se um grande pesadelo.

LeoLopes
Enviado por LeoLopes em 10/07/2009
Reeditado em 10/07/2009
Código do texto: T1692701
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