CONTRASSENHA DO ALÉM
Guilherme, vulgo gugu, este era o nome do comerciante falido, que numa tarde qualquer de sua vida, afinal todas as suas horas eram iguais desde que a receita federal lhe confiscou todos os parcos bens que possuia, voltava ele
de um breve passeio para refrescar a cabeça, quando algo lhe chamou a atenção...
Uma pasta incolor, ao lado da rua enlameada, instintivamente gugu, baixou e pegou a pasta.
Mais adiante retirou os elasticos e abriu-a, dentro papéis de contas pagas e um cartão de banco, junto a ele, no mesmo tamanho um papel e no meio dele um número.
Gugu, jogou a pasta com os papéis após conferir se não havia mais nada de valor, e no bolso de trás da calça, guardou o cartão, com o papel, preso a ele por um clip.
Chegou em casa, foi ao banheiro retirou a roupa, tomou um longo banho, e após colocar a mesma calça,
pela umidade que o cartão transpassou, lembrou do achado.
Fixou o olho no cartão, e lembrou que ao colocar ele no bolso não estava molhado, mas deu de ombros, não dando crédito ao fato.
Passou a tarde em casa, e a noite, como fazia sempre, assistindo tv adormeceu...
Era madrugada alta quando algo o acordou, virou o rosto para a entrada de seu quarto e uma sombra passou rapidamente, dentro do quarto.
Um arrepio lhe pôs em alerta, vivia sozinho.
Levantou, caminhou lentamente até o quarto, acendeu a luz e sobre a cama estava somente a calça, que havia vestido para sair, agora estava de calção.
Voltou-se e ao dar dois passos, novo susto, fez gelar sua espinha, lembrou de uma coisa, mas não pode olhar para trás...A calça ele tinha deixado dentro do banheiro...
Fechou a porta do quarto e como o dia já amanhecia, deitou no sofá, e cochilou ali mesmo.
O sol ja se fazia claro quando gugu acordou, esquecido dos acontecimentos da madrugada, foi ao quarto, pôs outras roupas, pegou a calça, retirou a carteira e o cartão achado, e os colocou em outra calça.
Vestido foi ao banheiro, escovou os dentes, lavou o rosto, e pensando disse a si mesmo:
___Hoje vamos ver o que tem nesse cartão.
Uma fila imensa o aguardava no banco do caixa eletronico, ao se aproximar, retirou o cartão, conferiu o logotipo do mesmo ao do banco, e na sua vez, introduziu o mesmo, pegou o papel e lentamente foi digitando os números...
Na tela do caixa, muitas informações, e bem abaixo o valor disponível....530.000,00 reais.
Pálido, ele retirou o cartão, fechou a tela, colocou o cartão no bolso, e com a visão embassada, saiu do banco e foi sentar em uma praça em frente.
Mais uma vez, olhou o cartão, e observou, banco 24 horas.
Os poucos reais que tinha no bolso, o fizeram passar um dia risonho, regado a cerveja, e com o pensamento
na noite.
22 horas, gugu estava na cozinha e um barulho ensurdecedor, chamou sua atenção no seu quarto, dirigiu-se até ele...
Ao abrir, reparou que lá do lado de fora, na rua o caminhão de lixo, fizera manobras para arrumar a carga dentro dele, só então percebeu de onde viera o barulho.
Os nervos de gugu, estavam a flor da pele, o minimo ruido lhe colocava em alerta, o mesmo que muitos sentem ao fazer algo errado.
01 hora da madrugada, gugu, colocava o cartão na porta do banco, e abria-o para os caixas eletronicos.
Feito a operação, reviu o valor...530 mil reais.
Por 3 minutos pensou e resolveu....saque...5 mil reais.
Pegou o dinheiro, colocou no bolso e saiu.
Ao chegar em casa, mil dúvidas o assaltaram...Quem seria o dono do cartão? Porque não cancelou o cartão?
Será que era um executivo que foi assaltado? E a pior de todas as dúvidas...
A pessoa estaria viva ou morta?
Esta dúvida, o pôs em sobressalto diversas vezes, ja não podia mais dormir, ouvia barulhos no forro da casa,
luzes misteriosas vindas dos cômodos da casa, e uma ou duas vezes, a imagem difusa de uma mulher
lhe surgiu na janela envidraçada, como se pedisse socorro...
1 mês depois, gugu, ja havia sacado 250 mil reais, tinha agora uma conta no seu nome, e a conta misteriosa.
Comprou bens em outra cidade, e quando retirava o ultimo 50 mil reais da conta misteriosa, resolveu
que realizaria um velho sonho...O carro esporte que sempre desejou... Iria comprar.
Foi a concessionária, escolheu o carro, e saiu para testá-lo.
O velocimetro marcava 210 km/h e gugu se sentia bem ao volante, vibrava, sorria, gritava de emoção...
Na sua frente, uma carreta, diminuiu, tirou o seu carro para ultrapassar, e do motorista da carreta so viu a longa cabeleira caindo pela janela...
Estremeceu...Lembrou a figura que viu em sua janela...
Voltou a sua rota, respirou fundo, e num posto de pedágio, emparelhou com a carreta, virou a visão para o lado da cabine da carreta, abaixou-se e ao olhar o motorista, viu...Um senhor idoso de boné, lhe acenar, com um sorriso...
Os olhos de gugu, quase sairam para fora das órbitas, mais uma vez respirou fundo...
Parou pagou o pedágio, uma curva a frente e depois uma reta, 100...150..245 km/h... a máquina flutuava sobre o asfalto...
Levemente gugu, desviou o olhar para o retrovisor interno, e a horrenda face sentada no banco de trás lhe sorriu...
Agora não só o olhar, gugu, girava para trás, mas o corpo todo, e por duas vezes não viu nada...
Na última vez que olhou...Um impacto forte introduziu o carro embaixo do cavalinho de uma carreta carregada.
A explosão que veio a seguir, transformou o bonito carro num imenso emaranhado de ferro retorcido, no meio de
um inferno de fogo e gritos de terror ....
Ao lado na sarjeta da rodovia, a unica coisa que sobrou da tragédia...Um cartão...
Não...Não o cartão que levou a morte gugu, mas o cartão do próprio gugu, e nele, preso por uma tarja, um papel com um número...
Quando estiver sozinho andando, olhe sempre para o chão, quem sabe quantos cartões perdidos nos tragam a senha, que se acionada, gerará uma contrassenha do além.