NEGRA PASSAGEM

O caminhar trôpego da silhueta negra, a garoa, a névoa da tarde de inverno formavam o tétrico quadro, naquela sexta-feira.
A história de Jane,  foram encruzilhadas jogadas ao seu destino e que ela com parcas escolhas, sempre seguiu o pior caminho.
Nesta tarde , após emendar noite e manhã num sono profundo,  acordou sorveu a 3 goles o meio litro de vodca,  sobra da noite anterior, como se o mundo fosse a ultima coisa que ela quisesse olhar lúcida,  e só uma dose grande de bebida era capaz de proporcionar a ela esse alívio.
Nunca haviam muitos olhos que pudessem vê-la sob o efeito etílico, pois saia de seu imundo ambiente apenas a noite e nas tardes chuvosas e com neblina, para não
a olharem e mesmo porque, quando a hora chegasse gostaria de estar sozinha.
Há muito que a irreversivel vontade de não ver mais a luz do mundo encasquetava sua mente, num turbilhão,  que volteava como um furacão, e nunca a indicava luz em qualquer ponto.
Neste dia tinha uma direção sim, iria ficar só...
A indiferença de Jane, não ouviu muitos cumprimentos, muitos ruídos de motores, não ouviu o flagrante
eco da vida que nela morreu, estava entregue nos braços do silencio da melancolia, a ante-sala da morte.
Uma longa e velha japona preta feita de napa com capuz, uma velha calça jeans, botina descolorida pelo tempo,
e dentro de tudo isso, a irredutível vontade de não mais viver, no seu cérebro confuso, pensava...Pode ser hoje!
Muitas foram as vezes,  que como uma ventania no deserto, 3...4 dias de arrasadora bebedeira, decidira enfim
pela pena capital para seu corpo, mas...Algo a segurava  para mais um momento aqui...
Assim, debaixo de leve garoa,  sentou-se numa pequena praça, os pequenos pingos batendo sobre seu capuz, trouxeram leve sono, olhou o céu, e algumas pequenas aberturas acenavam com o término da garoa.
Levemente girou o rosto para a direita o obelisco branco com um relógio a meio pau, indicava 4 horas...
Ao baixar o olhar o colorido das flores faziam daquele jardim uma colcha de retalhos, mas que aos olhos de Jane, eram imagens mortas em preto e branco, e se não fosse o badalar das 4 horas não voltaria os olhos ao obelisco, porque nem sempre a direção dos nossos olhos é a direção dos nossos pensamentos...O olhar e o pensamento de Jane procuravam a todo tempo um momento para a extinção...
Jane ergueu o rosto mais uma vez e olhou o espigão a 3 quarteirões, 54 andares.
Ergueu os braços e simultaneamente ajeitou o capuz na cabeça, e olhando em frente levantou...
Deu 10 passos, percorrendo o curto caminho e saiu da praça, dobrou a direita caminhou até a esquina, olhou
mais uma vez o edifício e dobrou a direita como se fosse contornar a praça, mas mais uma vez dobrou a direita subiu na grama e pegou uma flôr.
Os seus pensamentos vinham amiude redirecionando seu caminho, mas o objetivo era o mesmo, fugir da vida.
Agora a necessidade de se manter ébria, teria como muitas vezes fez, prostituir-se para a bebida comprar, e assim
não afastar-se da escuridão a que ela mesma condenara-se.
Ao chegar ao seu quartinho, pendurou a flor ao lado de antigas fotos penduradas na parede...Passou suavemente a mão sobre os amarelados retratos, e lentamente caminhou para a janela, para olhar o edifício dalí...
Meia hora depois, com vestido, cabelos presos e sandálias, da calçada em frente a velha construção onde ficava seu quartinho, olhou as estrelas e a lua num céu que guardava resquícios do dia em púrpura matiz.
O seu coração não via beleza em nada, sua alma jamais respiraria poesia, e seu corpo talvez ouvisse algum som que lhe proporcionasse a oportunidade de conseguir algum dinheiro, sob o timbre da voz humana.
Estava quase sóbria, e perigosamente a vontade de morrer era latente...
Atravessou a rua, andou...andou...a 3 quarteirões dobrou a direita, andou mais 5 quarteirões e ao parar numa esquina na sua frente estava o espigão que vira a tarde...
Dobrou a esquina, em direção a praça da tarde, um carro parou a seu lado...
2 horas depois, o mesmo carro parou a uma quadra de seu quartinho em frente a um local de conveniências 24 horas.
Jane entrou no estabelecimento,  pegou 2 garrafas e saiu...
Meia hora depois do 3º andar onde ficava o quartinho de Jane, uma bola de fogo despencou indo espatifar-se no chão...
Na porta do estabelecimento de conveniências, espantados dois funcionários comentavam enquanto o IML, recolhia o corpo carbonizado...
___Ela estava tão mal que eu achei que o alcool seria para tomar...

Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 26/06/2009
Reeditado em 28/07/2010
Código do texto: T1669113
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