SINAIS DA MORTE
Quantas vezes George parou diante daquele quadro, uma singela moldura mostrava um longo caminho, rodeado de flores em aclive a lá no alto uma casa antiga contornada por lambrequins em forma de flecha, nas cores amarelo e partes brancas.
Quantas vezes a manhã trazia aos pensamentos de George, os sonhos da noite anterior e neles o caminho, as flores e a casa.
Nenhuma assinatura no quadro, e nem resquícios havia da procedência porque a casa em que agora morava George, era centenária e ele ja comprara com toda a mobília e decoração.
Em tantos momentos ele pegava-se pensando no quadro, e arrepiava-lhe pensar que ja havia vivido naquele lugar...
Era uma tarde de domingo, George estava deitado no sofá da sala em frente ao quadro...
45 minutos de sono, acordou, e o embassar de abrir os olhos, o pôs em dúvidas, mas após acordar completamente, fixou o olho na moldura e viu no canto direito da pintura algo que nunca havia reparado, cruzes, algumas cruzes negras, sim... Eram cruzes, aproximando a visão pode saber exatamente quantas, 3... 3 cruzes no meio de flores silvestres e galhos que arrastavam-se até o chão, de velhos salgueiros.
Que cruzes eram aquelas? E mais uma vez sentiu a brisa suave das sombras daquelas árvores...
Meu deus, pensou....Estive lá, mas quando? E as cruzes, representam o que...?
Era uma bela casa a sua, comprada pelos seus pais, há 2 anos, na verdade era um sítio e ele e mais 6 empregados viviam alí para o cultivo de videiras e criação de cabras, era o dono, administrador, mas vivia só, e na casa ele e mais 2 funcionários, os outros viviam ao redor da propriedade.
De retorno um dia da cidade, ao aproximar-se da casa, notou que qual a casa do quadro a sua ficava num lugar alto, mas a estrada era em curva até chegar a moradia, e que nas laterais so havia mato e não flores como na pintura.
Parou o carro onde a estrada começava a grande curva, e notou que logo na frente havia um carreiro, ja meio escondido entre o matagal, e ao aproximar-se pisou o solo e viu que era terra batida, sob as ramagens, adentrou, e depois de 10 minutos andando entre os vegetais, chegou onde seria a metade do caminho, entre o ponto que parou e a casa, exatamente onde no quadro estavam as cruzes.
Quando ergueu a cabeça e olhou ao redor, um frio correu-lhe a espinha, estava diante dos salgueiros do quadro...
Lentamente, posicionou-se no meio daquilo que seria a estrada antiga, olhou para a sua casa mais ao alto e depois ao lado direito, para onde estam as cruzes no quadro e nada havia, apenas flores...
Voltou ao carro e entre surpreso e assustado subiu a curva até sua casa, e ao aproximar-se, fixou o olhar na casa e no alto e aqueles lambrequins, que ele nunca notou, lhe causaram um terror inenarrável, tanto que passou a examinar a casa em todos os ângulos possíveis.
Para George, dias depois analisando as coinidências da sua casa com o quadro acabavam aí, nada mais havia de indícios de que a sua casa seria a casa do quadro.
Naquela noite, George ficou até mais tarde, acordado, e quando foi dormir, ao fechar a janela, olhou em direção do vale, e lá embaixo,
2 luzes vagavam entre a mata, não deu créditos a visão pois haviam muitos caçadores noturnos na região.
Resolveu que iria até o sótão para olhar coisas antigas, subiu as escadas e logo estava através de uma escada na parede, no sótão.
Tantos objetos antigos, livros, revistas e...fotos.
Homens com longos bigodes, cartola e bengala. Senhoras de vestidos com armação, e infantis sorrisos, sob enormes bonés de uma época distante.
No fundo de uma mala coberta de poeira, fotografias em preto e branco...
Em escala menor mas com as mesmas características, George viu uma foto do quadro...
O coração disparou, teve ímpetos de sair correndo, mas a curiosidade o mandou analisar as fotos todas.
Especialmente a foto do quadro fez George perder o folego, entre as flores e as árvores, não estavam as cruzes...
Frenéticamente ele revirou as fotos na esperança de encontrar uma outra foto do quadro, mas com as cruzes...
O desespero ja tomava conta dele quando as badaladas do relógio lhe diziam que eram 4 horas da madrugada...
Guardou tudo e a foto sem as cruzes não saía de seu pensamento.
Já encontrava-se deitado, eram exatamente 4 horas e 50 minutos da madrugada, quando uma violenta explosão o acordou, e ao sair do quarto e olhar para baixo, na escada banhada de sangue o corpo dos funcionários da casa, estirados e dilacerados jaziam.
Mais abaixo, um mar de chamas e o cheiro forte de gasolina subiam com voraz ferocidade, George,
no ambiente carregado de gás carbonico, tombou em síncope e as labaredas consumiram tudo, e tudo reduzindo a cinzas...
O quadro que passou sua vida alertando George para a tragédia, extinguiu-se junto com ele...
Quem o fez, quem o pintou? Nunca haverá uma resposta, mas com certeza há olhos que seguem toda nossa trajetória sobre a terra.