MISTÉRIOS DA MORTE

Uma fina linha de fumaça saía detrás daquelas pedras, era tarde de um dia quente de agosto e o velho cacique,
o último da 20º geração de uma legião de guerreiros que dominavam e eram donos daquelas terras, olhava agora tudo que era dele e que ao longe, construções iam sobrepondo o longo vale que um dia brincou quando criança.Triste, fumava seu velho cachimbo.
Mas nessa tarde um leve sorriso saía de seu rosto enrrugado depois de longa vida e sofrimentos.
Sorria, pois lá onde eram suas terras uma gigantesca coluna de poeira branca ofuscava o sol azulado do final do inverno.
Foi a muitos anos, quando todos os seus foram para o lugar dos seus antepassados, que sozinho,  já habituado aos costumes dos brancos, vivia entre eles num largo terreno, rodeado daqueles que tudo roubaram da sua gente.
Sobrava então um pequeno terreno que ele tinha um barraco e ao lado, um maior, que ele costuma dizer, fora a última morada dos seus guerreiros, mas seguidas incursões do pessoal da prefeitura, com aterros e limpezas, tornaram aquele lugar um grande terreno baldio com grama e para ele eterna saudade.
Era um homem iletrado, nada sabia da vida e nem das manipulações feitas pelos gananciosos brancos para obter o que quizessem.
Numa manhã 3 homens de terno negro, vieram e lhe mostraram um papel, anunciando que ele teria que sair do local, pois não era mais dono, a tensão lhe feriu a alma, teve ímpetos de resistir, a alma guerreira lhe dizia para desferir uma represália, mas os anos de experiencia entre os brancos e a precaução lhe diziam o contrário...
E desde então vivia lá em cima nos morros empedrados, e observava a cidade a seus pés, com condoídas lamúrias via o seu pequeno lugar, ser cercado, e aos poucos, alí onde estavam os restos de seus antepassados, e também a água límpida que a partir de muitas fontes, matou a sede de sua gente.
Aos poucos, tijolos, areia, cimento, ferro, substituiam as lembranças do velho índio.
87 andares, o arrogante engenheiro, gabava-se de que conseguiram o terreno a preço baixissimo e agora fariam o maior edificio da cidade e ganhariam milhões.
Muitas vezes o velho cacique viu aquele de capacete branco circulando pela obra...
Bate-estaca de 50 metros de altura procurava uma lage para estacionar as sapatas, e depois de 20 dias conseguiram, a partir daí ergueu-se para os ares a torre monumental.
Entre os pisos que iam erguendo-se...primeiro, segundo, terceiro..... A certeza que tudo estava de acordo como o projetado, 350 funcionarios trabalhavam no gigante de concreto armado que crescia a olhos vistos.
Quando o edifício estava no 65º andar, começaram problemas na estrutura de sustentação, afinal era um terreno lodoso na sua base, mas mais nas profundezas onde os engenheiros encontraram base sólida para as sapatas não era, por isso o espanto quando os problemas começaram.
10 dias de esforços para o reforço, 35 toneladas de concreto para reforçar as sapatas, e a certeza vigiada de que iam poder terminar a obra.
Muitas noites o velho cacique sentado lá encima do morro observou as luzes que iam e vinham em um trabalho
ininterrupto na torre lá embaixo.
Um fato dava ares de sinistro prenúncio áquela obra, numa segunda feira, no segundo andar, pendurado em uma corda, enforcado, o abdomem com um profundo corte, acharam o engenheiro chefe, morto com requintes de crueldade.
Era odiado pelos funcionários pelo jeito arrogante no trato com o pessoal, mas seria dificil a polícia descobrir o autor, porque misteriosamente o guardião falecera naquela noite de derrame cerebral.
Passado o tempo de luto, recomeçaram as obras, e novas falhas na estrutura do prédio urgiam providencias.
Depois de uma época de chuvas, numa tarde muito quente, estavam no edificio além dos funcionários, todo o pessoal da prefeitura, para fazer inspeção para futuro funcionamento.
Após o almoço, depois da sesta, ouviu-se apenas um grito...Vai cairrrrrrrrrr...
79 pisos, paredes prontas. e 400 almas, foram aos poucos sendo esmagadas, como dentro de um livro que se fecha para nunca mais abrir e aos poucos, o sangue escorria, os gemidos entre as ferragens retorcidas... O inferno tomou tonalidades brancas na cortina de poeira que invadiu todo o quarteirão, não houve sobreviventes.
Do mais monumental edifício,  tornou-se a mais mortal das máquinas de ceifar vidas, uma tragédia que somente o sorriso do velho cacique lá no alto do morro poderia e sabia explicar...Há coisa que nunca deixam de ser nossas, e sempre serão do jeito que nossa alma está habituada a olhar...

Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 09/06/2009
Reeditado em 28/07/2010
Código do texto: T1640159
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.