Tequila e Sangue

Meu coração se acertou com a batida da música fazendo meu corpo soar em sintonia. As luzes da boate piscavam e giravam produzindo os efeitos esperados na fumaça. Os corpos moviam-se enlouquecidos na pista de dança.

Jane segurou meu braço e me puxou juntamente com Fabi para o bar.

- 3 tequilas! – ela pediu para o garçom. – Essa rodada é por minha conta!

Essa seria a terceira dose da noite, embora eu já estivesse sem muito da minha coordenação motora pelas outras duas doses me sentia mais livre do que nunca antes na minha vida.

O garçom depositou em nossa frente o prato com as fatias de limão e o sal, em seguida trouxe as três doses da bebida âmbar e forte. Como todo ritual bem feito, arrumamos o sal na mão, erguemos os copinhos e brindamos. O limão, a tequila, o sal.

Cinco minutos depois senti a bebida no meu sangue. Meus passos trôpegos me faziam dançar de maneiras inusitadas na pista de dança, talvez a saia curta e a bota de salto fino não tenham sido as melhores idéias da noite.

Um garoto moreno começou a dançar na minha frente, a música eletrônica não ditava a dança, mas ele dançava de um jeito engraçado e até jeca. Virei-me procurando pelas meninas. Jane estava entretida com a língua de um louro alto em um dos cantos da pista, a mão dele a apalpava sem pudor, da cintura para baixo, procurando por algo. Fabi conversava com um garoto sinistro no meio da pista.

Desvencilhei-me da dança com o moreno e fui encontrar Fabi. Apesar do calor que fazia o suor escorrer de meu pescoço em direção ao decote nu de meu peito, o garoto usava um moletom preto deixando o capuz cobrir-lhe o rosto. Podia entender porque Fabi se encantara, ela adorava garotos misteriosos.

Aproximei-me e abracei-a fazendo ela quase cair com meu peso, pois ela também não estava muito firme em seu salto. Rimos juntas e dançamos um pouco da música, então ela me apresentou ao garoto.

- Esse é o Alan! Essa é a Poli!

Alan se aproximou para dar um beijo em meu rosto, talvez eu estivesse bêbada demais, mas senti o mundo girar mais devagar, o contato com ele foi rápido, mas ele parecia gelado. Eu não conseguia ver muito do rosto dele, mas ele parecia ter a pele branca, os olhos negros e os cabelos escuros caindo até os ombros. A única coisa marcante demais era seu sorriso absolutamente encantador.

- Quem é ele? – sussurrei para ela.

- É meu! Tira o olho – ela retrucou.

- Tá, tá! Vou dar uma volta ver se acho algo pra mim.

- Boa sorte! – ela berrou no meu ouvido.

- Ela vai caçar – ouvi ela comentando para ele em seu ouvido enquanto aproveitava a aproximação para abraça-lo na cintura.

Balancei a cabeça, estava tonta demais, os degraus que me tiravam da pista de dança pareciam estranhamente mudar de lugar toda vez que eu erguia o pé para encontrar a altura necessária.

- Opa! – um garoto ruivo de cabelos enroladinhos me segurou quando quase cai.

- Valeu, acho que o degrau não me quer por perto!

Plantei meus pés firmemente no chão e aceitei a bebida que ele me oferecia: gim com soda. O doce da soda quebrava um pouco o álcool do drinque.

- Oliver! – ele se apresentou, falando em meu ouvido, a mão ainda enlaçando minha cintura.

- Poliana! – berrei no ouvido dele, a música estava estupidamente alta.

Começamos a dançar próximos demais, se não escapasse logo não sairia dali sem ser beijada (ou coisa mais quente) por ele. Resolvi considerar a opção. Ele tinha um rosto expressivo, o queixo quadrado, o nariz reto, os olhos esverdeados, o cabelo estranhamente ruivo e a pele bem branca.

A mão dele desceu da minha cintura para meu quadril, enquanto a outra me segurava perto da orelha. Seus dedos estavam gelados, mas ele apertava firmemente os dedos no meu corpo me puxando mais para perto de si. Dois segundos depois me vi enlaçada no beijo (tarde demais para recuar). Os lábios eram úmidos e urgentes, a língua procurava uma passagem através dos meus dentes (que percebi estarem cerrados).

- Aproveite! – disse uma voz ao meu lado.

Pelo canto do olho vi que era Alan quem falou, mas ele já estava ocupado beijando Fabi.

Relaxei e enlacei o garoto no pescoço puxando-o mais para perto de mim enquanto respondia a urgência do beijo e da língua em minha boca. Os dedos dele puxavam minha saia para cima e eu forçava minha mão a descê-la novamente.

Nem notei a noite passando, talvez porque cada vez mais me via bebendo dos drinques que ele e Alan nos ofereciam. Jane passou para dizer que estava indo embora com o louro, obviamente com uma urgência que não escondia com o olhar.

O salão começou a esvaziar quando me senti cansada, meus pés latejavam por causa do salto, mas não era isso que me incomodava, eu me sentia faminta na verdade.

- Vamos comer alguma coisa? – propus.

- Eu já sei o que quero – Oliver falou em meu ouvido me apertando contra sua pelve.

- Pode crê, to faminta também – Fabi comentou quando conseguiu sair do beijo.

- Certo então – Alan falou puxando-a para fora da pista de dança.

Oliver me puxou e saímos da boate. A noite estava gelada e meu corpo molhado de suor e desejo tremia com a brisa.

O cheiro do banco de couro do carro de Alan era inebriante, em um segundo eu estava entrando no carro, no segundo seguinte deitada no banco, minha saia puxada para cima, as mãos ágeis dele abrindo minhas pernas enquanto ele se deitava em cima de mim.

O banco da frente reclinou-se e percebi que não era a única a ceder facilmente ao contato masculino.

Não quis nem pensar no que pensariam os guardas no estacionamento sobre os movimentos bruscos do carro, tudo que eu ouvia eram os gemidos, de todos os quatro. Pode ser que tudo tenha sido rápido ou lento, não conseguia definir pelo efeito da bebida.

A sensação do prazer sumiu instantaneamente quando abri a porta do carro para descer quando paramos em algum lugar. Estávamos em algum lugar deserto, próximo a uma floresta. Não havia sinal de civilização nas proximidades. Fabi abriu a porta rindo e saiu cambaleando para se encostar ao carro, ela provavelmente estava mais bêbada do que eu.

- Agora eu estou faminto – Oliver comentou.

- Concordo com você – Alan se aproximou.

Eles nos prenderam contra a carroceria gelada do carro (que carro era aquele?). Todo o carinho de antes se transformou em brutalidade. A mão forte de Oliver segurou meus cabelos fazendo meu pescoço dobrar para a direita. Ele aproximou seus lábios da minha pele, mas não foi beijo o que eu senti, foi como uma picada, uma mordida.

- Doce, suave e levemente alcoólica – Oliver se afastou do meu pescoço, os lábios vermelhos (de meu sangue?).

Eu não conseguia pensar, precisava ver o que ele havia feito comigo, minha mãe me mataria se me visse com uma mordida no pescoço. Ergui a mão para sentir a pele (amortecida pela bebida eu não a sentia), mas ele segurou meu braço com força quase torcendo.

- Shhhh – ele falou.

- Essa é forte e muito alcoolizada – Alan falou rindo.

- Deixa eu experimentar – Oliver falou.

Subitamente não era mais Oliver em minha frente, e sim Alan, a boca dele foi urgente em direção ao meu pescoço, mas dessa vez eu pude sentir a sucção, eu estava mais tonta, mas não era mais da bebida, minha pressão estava baixando, exatamente como quando fiquei com anemia.

- Prefiro a minha – Oliver falou, largando Fabi.

- É, a sua é melhor mesmo, deixei um pouco pra você ainda!

- Seu desgraçado! – Oliver ralhou com o outro e se aproximou mais de mim.

Meus olhos forçaram-se para abrir, pude ver o sorriso dele, os lábios e dentes vermelhos com meu sangue, com o sangue de Fabi, ele piscou e falou se aproximando novamente de meu pescoço.

- Já vai acabar, não vai doer nada, eu prometo.

Como se a promessa de um bêbado tivesse valor (mas ele não estava apenas bêbado, era bem mais do que isso), eu queria saber o que era, eu não queria morrer assim.

- Você é... – mas fiquei sem fala.

- Sem perguntas docinho, apenas relaxe senão vai demorar mais.

Ele ergueu meu corpo facilmente com a mão, minhas coxas apoiaram-se no carro. Essa é última sensação que me lembro: o gelado carro em minhas pernas.

Agora a bebida já não me faz efeito, mas é inebriante ver como os humanos ficam facilmente tentados com uma moça bonita que lhes paga bebida. A festa sempre continua quando a noite chega.

Emília Kesheh
Enviado por Emília Kesheh em 03/06/2009
Reeditado em 04/06/2009
Código do texto: T1630857
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