O SUCESSOR DAS TREVAS
O céu estava claro naquela noite, o mato amassado, as viaturas empoeiradas, homens cansados, mas no fundo de cada um a consciencia tranquila do dever cumprido.
Estava terminado um capítulo da tenebrosa carreira de crimes de Punhalada, vulgo que Alfonso Kebrastes ganhou no submundo dos extermínios.
Latino, castelhano, começou a matar com 11 anos na Luta guerrillera, como costumava dizer, mas há muitos anos, deixara a luta revolucionária e era conhecido como Punhalada, o anjo flagelador, trucidava pelo prazer de ver o semelhante morrer.
Tinha a força de 5 homens adultos, e na cinta o inseparável punhal, a causa de seu vulgo, no rosto as disformes cicatrizes, tiros e riscos de punhais inimigos.
18 horas de caçada, 240 homens do governo e mais 57 civis, para emboscar o mais tenebroso exterminador de homens.
No primeiro vagão da composição a fera ia enjaulada, para a presença do juiz, nas pernas, grossas correntes, e no olhar, deixava transparecer a certeza de que nada havia acabado, seria 350 km de ferrovia até o desembarque.
Junto no vagão, um outro criminoso, menos perigoso, aliás doente e fraco, um risco deixá-lo junto ao anjo...
Seriam 10 horas de viagem entre as montanhas, tuneis e defiladeiros da tenebrosa Serra Negra.
Nos outros 7 vagões iam as tropas, munição e muito combustível...O olhar do anjo, rodeou todo o ambiente...
___Isto é uma bomba atômica, balbuciou...
02 horas da madrugada...A composição parou...Lá fora o anjo ouviu as vozes de uma reunião...
Hummm...Que será isso?
___General, General, chamou um capitão da tropa...
___Tem que ser aqui General...
___Não é perigoso...Temos que levá-lo vivo o presidente o quer, concluiu o General.
___Mas, General....
___Não...Não pode ser, encerrou a conversa.
Depois de 1 hora, o rangido das rodas metálicas deu aceleração e o comboio seguiu...
Na mente diabólica do anjo maquinava-se algo inimaginável, estava a um passo da máquina que movia toda a composição de 8 vagões, e a enfermaria era o vagão logo atrás do seu...
04 horas da manhã, os gritos foram ouvidos dentro da cela, do anjo, ele próprio gritava...
___Este homem está morrendo, socorro, socorro...
Na sua guarda 4 recrutas faziam plantão, e os 4 vieram ao mesmo tempo...
Quando entraram no compartimento, não viram o anjo grudado no teto do vagão...
De uma só vez caiu sobre os 4 guardas e quando estes cairam ao chão todos ja estavam desmaiados....
Um a um todos tiveram suas cabeças arrancadas e esmagadas como se fossem melancias contra a parede,
era a perversidade e o ódio que ele sentia, falando do alto de tantos anos de crimes e participações em genocídios.
Ao lado dos 4 corpos o mirrado corpo do outro detento, jazia com uma dentada na jugular.
Recolheu as chaves soltou as correntes que o aprisionavam na cela, abriu a porta...
Quando pisou fora da cela, ainda olhou para a retaguarda do seu vagão, onde estavam, todos os outros....Pensou...
Mas ja estava cansado de tanto matar, de tanto ser perseguido, o inferno por certo o esperava, em algum lugar...
Dirigiu-se para a frente do vagão, para a locomotiva...
Em 5 minutos, escalando a locomotiva, chegou ao condutor da máquina...
Um braço forte e uma mão descomunal, abraçou o pescoço do maquinista e assim o trouxe, e o jogou no precipício ao lado...
Entrou na máquina, e lembrou dos velhos tempos, de Biafra, na Nigéria onde andavam de um lado para outro de locomotiva...
Um certo saudosismo tomou conta do exterminador, que assim com a cabeça baixa, esticou o braço e.....Acelerou....acelerou...
Durante 30 minutos a máquina ganhou velocidade, primeiro numa planície e depois num longo declive...
Quando a máquina estava a 150 km/h, depois de uma longa curva...
Desapareceu no mais longo e profundo precipício de Serra Negra...
Como uma víbora gigante serpenteou e lá embaixo as explosões sucederam-se, clareando a madrugada, numa medonha clareira, feita de fogo e de ódio a caminho do inferno...