FOI SÓ UM PESADELO
Foi só um pesadelo.
Abruptamente ele acordou. Olhou em volta – Tudo escuro – Procurou desesperadamente o abajur tão conhecido – Não encontrou – O medo já iniciara a forçar-lhe a razão.
Levantou-se tateando as paredes no ímpeto de encontrar-se – Um som estancou seus movimentos - Havia algo mais naquele quarto – Podia-se ouvir um rastejar gosmento. Voltou para a cama no intuito de que o som cessaria ou talvez não fosse notado – O som continuou, rítmico, gosmento. Gradualmente mais audível e próximo-.
O medo forçou-lhe a cobrir a face com o fino lençol – Havia algo errado - O lençol antes leve, agora pesava-lhe os dedos em direção o chão – Houve um Gemido e o lençol abandonado – Rapidamente em impulso olímpico correu aonde costumava ser a porta – Talvez não esteja lá (Pensou aflito)- E lá estava ela.
Num forte impulso conseguiu abri-la. A luz externa cegou-lhe a visão, um choque tenso tomou-lhe os sentidos. Instintivamente na ânsia da fuga seus passos iniciaram rumo a luz – Algo agarrou seu calcanhar – Seguiu-se um grande grito.
Abruptamente ele acordou, seu rosto direcionava-se de um lado para outro numa volúpia amedrontada, aos poucos acalmou-se – Foi só um pesadelo – O abajur estava ali, pode sentir-lhe com os dedos, vagarosamente acendeu-o com um suspiro de alívio. Olhou para a porta – ela não estava ali- O medo voltara, agora a porta estava no lado contrário – A luz apagou-se. A escuridão voltara juntamente com o rastejar gosmento.
Desta vez não esperou e correu em direção a porta puxando-a com volúpia – Não havia desta vez a forte luz, apenas um gigantesco corredor escuro com várias portas – Uma voz baixa ecoava o que parecia ser uma oração.
O som gosmento aproximou-se . Com rapidez fechou a porta, seguidamente encostou as costas num ato de alívio – Que logo acabou-se com os solavancos que se seguiram, tão fortes que o fez distanciar-se rapidamente da porta em direção ao corredor.-
A oração era tudo que tinha para guiar-se no gigantesco corredor, aos poucos fora aumentando – Era o pai nosso- sim já podia ser notado, ficava cada vez mais nítido e forte. Após uma longa caminhada encontrou-se frente a porta onde parecia vir a oração. Ao pegar na maçaneta – Um grande quadro ao lado chamou-lhe a atenção-
Uma bela paisagem, mas não uma paisagem comum, era algo vivo. – Um grande campo verde com uma linda árvore ao centro. O vento brincava com os galhos e a relva baixa- sublime e inimaginável. Ao fundo o céu brilhava vermelho – Mas aos poucos tornou-se negro com uma grande lua, a árvore perdeu suas folhas, a relva em volta começou a secar.
Criaturas desfiguradas surgiram ao fundo, vagarosamente andavam em direção ao observador, tudo a sua volta morria e secava. O observador sem movimentos assistia o impossível estático, as criaturas aproximavam-se cada vez mais rápido.
O observador tentou fugir em direção a porta onde ouvia-se a oração – Ao virar-se defrontou com uma daquelas criaturas deformadas, face a face, tão perto que pode sentir-lhe o hálito podre- A criatura mordeu-lhe a face – Seguiu-se um grande grito-.
Abruptamente ele acordou, não esperou nada, correu em direção a porta no lado contrário.- Ela não estava lá (Droga) – Correu em direção ao lado certo e lá estava ela.- O rastejar voltara.-
Abriu-a. A forte luz tomou-lhe a visão, saltou para fora fechando-a com grande força e correu. Correu alguns minutos – A oração voltara-
Aos poucos a luz diminuiu de intensidade. Passou pelo quadro que agora refletia a imagem de uma criança sorrindo enquanto observava alguém que se enforcara na grande árvore.
- Não tornou a olhar-
Entrou aonde vinha a oração.
O quarto era escuro, ao fundo frente a um caixão, havia um padre que infindamente repetia o “pai nosso”. Ao aproximar-se tentou indagar algo – Não obteve resposta- Continuou no propósito – O padre tornou-se uma daquelas criaturas deformadas, agarrou-lhe e com imensurável força lhe arremessou para dentro do caixão.
Seguidamente uma grande tampa caiu lacrando-o confinado.
- A oração voltara mais forte-
Chutou a tampa algumas vezes.
- A oração cessou-
Havia agora mais vozes no recinto e se aproximavam.
Agora uma saraivada de socos.
Houve gritos e o que parecia ser uma correria estérica.
Mais alguns chutes e socos – A tampa caiu com um forte estrondo-
O admirado sussurro coletivo fora estrondoso. Lentamente ele se levantava do caixão, a igreja estava lotada, pessoas corriam e gritavam. O padre que ministrava o enterro estava atônito e imóvel. A viúva que aos poucos o envenenara olhava perplexa o levantar de sua vitima; Ao fundo o detetive que a observava a dias assistia perdido aquela cena, seus olhos como os de todos, brilhavam confusão e medo como em um grande pesadelo. Mas acreditem não foi só um pesadelo.
João Victor
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