DALITI - BRASIL ( A PISCINA DOS SONHOS)
DALITI - BRASIL ( A PISCINA DOS SONHOS).
Os olhos de Vanderlei brilhavam por entre as grades do clube, seus pés queimavam no passeio ardente, mas nada importava, o belo era a visão que decorria: A gigantesca piscina, a alegria pulsante das crianças que banhavam-se na límpida água da qual ele jamais experimentaria, ao menos não naquela época. Sentia uma alegria melancólica, um paradoxo de felicidade e infortúnio, mesmo sem entender, participava da infelicidade de um mundo desigual.
Permaneceu como de costume; o tempo que seus pés agüentassem, e também como de costume partiu em direção ao seu longo caminho de regresso à sua simples casa.
Durante o trajeto, Vanderlei ainda absorto numa felicidade melancólica, caminhava distraído num sonhar esperançoso de um dia poder viver aquela alegria que sempre vira estampado no sorriso daquelas crianças. O caminho era longo, estrada de chão, as pequenas pedras eram sempre um obstáculo para os pés desnudos da pequena criança, mas nada o faria faltar à sua visita diária ao alambrado do imenso clube.
As chuvas foram intensas naquele verão, as erosões transformaram a estrada em dunas e precipícios fantásticos para uma criança. Vanderlei admirava as novas formas com curiosidade e apreensão, tudo era imenso. Dentre as muitas crateras criadas pela erosão, havia uma que se destacava, por seu tamanho e formato, situava-se um pouco ao lado da estrada, distanciava-se sorrateiramente camuflando-se entre árvores caídas.
Sem motivo aparente o garoto sentia-se tentado a verificá-la, uma curiosidade pulsante direcionou-lhe à exploração e a visão que teve por entre as árvores que omitiam a imensa cratera definiu-lhe um imenso sorriso, seus olhos que clamavam alegria agora a expressavam de forma indescritível. Ao fundo do imenso buraco havia uma grande piscina natural, a areia branca do fundo refletia a pouca luz de forma estrondosa como se toda a sua base fosse feita da mais pura prata, um pequeno filete de água conduzia o excesso de forma calma e simples rumo à mata escura e desconhecida.
Em grande velocidade o garoto desceu a terra mole das laterais entre tombos e escorregões rumo a sua felicidade.
Sua alegria engrandeceu-se ainda mais quando aproximou-se, com as mãos sobre os olhos para proteger-se do reflexo da areia, verificou que aquilo era melhor que o clube que tanto admirava, haviam pequenos peixes coloridos, algumas plantas tornavam o lugar mais agradável, a temperatura tornara-se ótima, o gorjear dos pássaros era a musica mais linda que ali poderia haver. Não tardou ele deliciava seu sonho agora real, submerso naquela água morna, pode expressar o sorriso o mesmo sorriso que tanto admirava naquelas crianças, e aos poucos tornou-se uma delas.
Era impossível sair da água, aquele lugar era sublime, a paz extasiante, a água era doce e suave, Vanderlei a acariciava tentando devolver um pouco daquilo que ela lhe proporcionava. Os pequenos peixes davam-lhe suaves beliscões fazendo-lhe rir extasiadamente.
A semana seguiu-se e todos os dias Vanderlei após a escola deliciava-se em sua piscina apaixonante, ela lhe atraía de forma suave e ele retribuía com carinhos superficiais de um transe incompreensível.
Certo dia Afonso o conhecido bêbado da cidade ouvira risadas infantis na velha estrada, vagarosamente dirigiu-se para a cratera que imaginava ser de onde sucedia as risadas, entre as folhagens avistou a magnífica piscina, não havia ninguém, somente a magnífica visão daquele paraíso. Como todo bom boêmio logo teve uma grande idéia: Uma festa na nova piscina, mulheres, sexo e álcool.
No dia seguinte Vanderlei caminhava em direção a piscina quando a forte chuva começou, tentou inutilmente proteger-se, assustou-se prontamente ao ouvir o primeiro grito de socorro, diversas vozes que vinham da cratera seguiram o mesmo grito. Rapidamente o garoto dirigiu-se para lá, a visão que teve travou-lhe os movimentos.
Afonso e sua turma de bêbados e prostitutas tentavam inutilmente escalar o imenso buraco. Com a chuva o barro amolecera, a água que brilhava com os raios descia vertiginosamente em direção à piscina, rapidamente ela enchia-se por uma água suja e espessa, em pouco tempo iria afogar todos.
Vanderlei paralisado pelo medo gritava por socorro desesperadamente. Alguns deles já estavam submersos, outros choravam desesperados numa inútil tentativa de escalar a parede barrenta.
Afonso numa força incomum conseguiu com ajuda de algumas raízes escalar até o topo. Vanderlei estendeu-lhe a mão tentando ajudá-lo a sair, os olhos de Afonso tornaram-se puro medo seguidamente pelo susto escorregou caindo na água suja que logo o encobriu totalmente.
Seu último pensamento fora:
“Era... Era... Ele o garoto que morrera atropelado nas grades do clube”
Homenagem para Vanderlei Gomes.
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