MORTES MACABRAS

A cena do crime parecia ter saído diretamente de um filme de terror. A sucessão de estranhos acontecimentos não apenas chocava os moradores da pequena cidade de Lago Encantado, como despertava os mais diversos comentários. O fato era que, coincidência ou não, três mortes consecutivas de jovens moças com 15 anos aterrorizava os habitantes do outrora tranquilo vilarejo. O lance que mais chamava a atenção das pessoas em relação à onda de assassinatos é que os corpos das adolescentes eram encontrados sem vida nas imediações do cemitério da cidade, sem marcas aparentes de violência, vestígios que denunciassem algum culpado ou evidências que apontassem o modo como foram exterminadas. Tudo o que se apurava, após a perícia policial, é que não havia indícios que incriminassem um responsável, passando-se assim, para a investigação - onde todos passaram a ser considerados suspeitos, até que se provasse o contrário.

O interrogatório visava apurar o máximo de informações que conduzissem ao assassino das jovens, mas, curiosamente, o laudo do IML da cidade vizinha, apontava após os meticulosos exames de necropsia, que havia uma curiosa relação entre a causa da morte das vítimas: todas, além da idade em comum, apresentavam ausência de um órgão vital: o coração. E para o assombro e desafio da competente equipe de médicos legistas e policiais da região, não havia uma única cicatriz, hematoma ou corte que denunciassem o modo como o órgão fora extraído dos cadáveres. Nenhuma testemunha, nada! Tudo o que se podia fazer era observar o comportamento dos moradores do município e buscar pistas, denúncias e, posteriormente, inquirir os possíveis acusados.

Nos dias que se seguiram, os moradores se mostraram arredios ou contrafeitos ao serem interrogados. Alguns depoimentos continham histórias absurdas, tais como presença de forasteiros não confirmadas e até seres extraterrestres nos arredores da cidade. A segunda informação, por mais estapafúrdia que parecesse, aguçava a mente perspicaz de um investigador, Joel, que desde o princípio das averiguações sobre o crime, alegava ter encontrado próximo ao local dos crimes, uma estranha marca em círculo – provavelmente produzida por um OVNI – objeto voador não identificado. O fato que reforçava sua tese era de que alguns habitantes de Lago Encantado afirmavam ter visto algumas luzes estranhas no céu. Por via das dúvidas, fora dado um toque de recolher às vinte horas, para facilitar as buscas dos policiais por provas contundentes. Muitos colegas da Delegacia riam da linha de raciocínio de Joel, mas ninguém conseguia encontrar uma explicação plausível para o ocorrido. Foi então que o investigador criara um plano de ação, arriscado do ponto de vista de seus colegas, mas uma maneira de conseguir capturar o bandido.

Mônica era uma bela donzela, prestes a completar quinze anos. Ela contava os dias para o grande momento, ansiosa pela festa e permissão dos pais para namorar. A menos de três dias para a ocasião, ela guardara para si um estranho sonho que tivera... A garota sonhara (até podia jurar que era real, não fosse a incrível visão que acabara por atribuir a um pesadelo) com três pontos de luzes no escuro de seu quarto. Para a adolescente, aquilo bem que podia ser chacota de seu irmão, mas ele não teria inteligência suficiente para ser mentor intelectual de tal façanha: os pontos luminosos brilhavam no escuro do quarto, e eram perfeitas bolas de fogo! Amedrontada, a menina-moça tateara no escuro até alcançar com a mão o abajur que ficava no criado-mudo, ao lado da cama. Tão logo ligou-o, as “bolas de fogo” sumiram imediatamente sem deixar marcas. Mônica levara a mão ao peito: uma leve pontada em seu coração incomodou-a. Rezou baixinho e de olhos fechados, piscou os olhos duas vezes, como que para se certificar de que realmente estava acordada e olhou ao seu redor: tudo absolutamente normal. Levantou-se, foi até a cozinha, tomou um copo d’água num só gole e retornou à cama, adormecendo instantaneamente. O dia seguinte prometia muitos detalhes a serem acertados para a grande comemoração!

Joel decidira montar uma estratégia para atrair o assassino: armaria uma emboscada para atraí-lo e, antes que ele pudesse reagir, seria preso em flagrante. Como policial, passara por uma série de treinamentos para lidar com os mais diversos tipos de criminosos e, certamente, esta não seria diferente. Mesmo que fosse de outro lugar do mundo. Decidiu encontrar uma cobaia que servisse como isca, com o propósito de chegar até o meliante. Foi aí que descobriu, ao ler o jornal da cidade, que havia uma garota prestes a comemorar seus 15 anos. Procurou a família da menina que, a princípio, recusou-se a participar do que rotulavam “loucura”, mas acabaram cedendo às insistências do policial. O plano era simples: Mônica teria que passar à noite, aparentemente sozinha, nas imediações do cemitério da cidade. Caso o bandido aparecesse, a polícia o renderia e efetuaria a prisão do criminoso. Simples assim.

Mas não foi. Seguindo o plano, Mônica caminhava sozinha na rua próxima ao cemitério ao anoitecer. Nada anormal. Até que, a certa altura, um redemoinho começou a se formar e o vento soprou muito forte. Do interior do cemitério, surgiram três objetos estranhos, semelhantes às bolas de fogo do sonho da garota. Não era sonho, era real e assustador. Paralisada pelo medo, ela não conseguia andar. Foi aí que os objetos foram perdendo pouco a pouco o formato inicial e tomando a forma de espaçonaves. Sim, naves espaciais. Pousaram uma em cima da outra e um compartimento abriu-se diante de Mônica, cujo interior revelava a figura estranha de três serezinhos esquisitos. Um deles segurou a menina pelas pernas, outro pelos braços e o terceiro pela cabeça, forçando-a a abrir a boca, de onde provavelmente tentaria extrair seu coração. Foi aí que toda a polícia entrou em ação. Os extraterrestres, pegos de surpresa, distraíram-se e dois soltaram a menina, enquanto que aquele que a segurava pelas pernas segurou-a firme. Mônica caiu e fora da mira dos policiais, deu chance para que eles alvejassem os seres de balas. Sem forças, Mônica chorava e rezava baixinho. Foi quando o padre da igrejinha apareceu, munido de água benta e jogou o conteúdo em cima dos seres. Dois deles desmancharam-se como se fossem um rio de lava e explodiram. O terceiro, quase se desmanchando, conseguiu segurar-se em Mônica e abduzi-la consigo antes de sumir. E ela desapareceu também. Os pais da garota choravam aflitos, investindo contra o policial, que consideravam culpado pelo acontecido. Silêncio geral. Mônica ressurge no meio do cemitério, em um local inesperado. Todos correm em sua direção e ela diz que está bem. Tudo acabado. Decidem voltar para casa. Joel se aproxima de Mônica, agradecido, e ela sorri, lança-lhe um olhar e no lugar de suas pupilas, vê nitidamente duas bolas de fogo.

Patrícia Rech
Enviado por Patrícia Rech em 10/05/2009
Reeditado em 10/05/2009
Código do texto: T1586892
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