EXTINÇÃO: QUANDO VOCÊ MORRE.

“E quando de noite vem pálida a lua

Seus raios incertos tremer, pratear,

E a trança luzente da nuvem flutua,

As ondas são anjos que dormem no mar!”

Álvarez de Azevedo.

Extinção: Final e recomeço.

O homem continuava sua caminhada pelas ruas, por onde passava, pessoas aos milhares, caíam ajoelhadas num choro profundo, dirigiu-se ao centro de São Paulo, numa infinda tranqüilidade, nada lhe era um percalço, tudo ocorria naturalmente. Parou numa grande avenida, o vento sacudia-lhe os cabelos, seus olhos negros voltaram-se para o céu, e suavemente disse:

- Está feito.

Uma gigantesca explosão consumiu toda a avenida e as pessoas que ali estavam, espalhando-se seguidamente por toda a cidade, tudo por seu caminho vinha a baixo. O fogo, a destruição eram intensos e imensuráveis.

Gabriel despertou assustado, as explosões eram muitas, o chão tremia incessantemente, a cabana balançava como se houvesse um furacão no lado de fora, muitos gritos eram ouvidos, a correria e o caos eram visíveis no aposento, ainda tentando recobrar totalmente os sentidos, Gabriel viu-se arrastado para fora por uma mão muito forte. A Cabana caíra pouco depois, contudo ninguém se ferira gravemente.

Após recobrar completamente os sentidos, Gabriel percebera que a mão que lhe puxara era a de um homem de farda camuflada, futuramente soube que este era um soldado australiano, que como ele e os outros sem explicação foram parar naquele vilarejo, próximo a um rio na Amazônia.

Os dias passaram as explosões antes freqüentes, agora eram espasmódicas, contudo infindas. Um jovem norte americano técnico em rádios conseguira por um velho aparelho da vila sintonizar uma rádio de uma pequena cidade próxima a Manaus.

As notícias eram as piores, em menos de uma semana, todas as grandes cidades do mundo foram exterminadas, o extermínio agora se dirigia às cidades menores. Segundo o soldado australiano, em seu país o exército tentara intervir, tudo em vão, antes de aproximarem do misterioso homem todos os soldados já estavam rendidos de joelhos, inofensivos, o australiano contou que sozinho fizera mira com um tanque no homem, antes que pudesse fazer o disparo o homem já estava ao seu lado, e eis o motivo de vir parar ali.

O vilarejo era familiar, havia ali apenas uma família constituída por cinco pessoas, um homem e sua mulher, seus dois filhos, e um enigmático senhor, que incessantemente tocava em sua viola musicas religiosas. Quase não se surpreenderam com a presença daquelas pessoas, serviam a todos, com extrema alegria e bondade, não buscavam amizade, e pouco conversavam, apenas continuavam sua vida. Alguns os ajudavam na alimentação e cuidados, mas em nenhum momento estes fizeram algum pedido. Assim passava-se o tempo.

A freqüência da rádio em poucos dias desaparecera, e para preocupar ainda mais, as explosões diminuíram de cadência, contudo se aproximavam, o sons eram sempre maiores, mais próximos, acordando em pesadelos durante a noite, e retirando um possível paz durante o dia.

Alguns, assustados, planejavam uma fuga, sem destino algum, a meta era somente não estar ali quando aqueles homens chegassem, porém todos viram espantados inclusive Gabriel que as muitas tentativas falharam. Os grupos saíam, as vezes ficavam dias na mata, andavam seguindo uma mesma direção, sempre contrária ao vilarejo, contudo todos os grupos, sem nenhuma explicação, retornavam inacreditável mente ao ponto de origem.

Sempre que um grupo retornava, a mesma musica era tocada pelo velho com a viola.

“Todo início um grande fim senhor, todo início o mesmo fim ó senhor”

Então com grande pesar entenderam que na verdade aquilo, não era um simples vilarejo, mas sim uma grande jaula.

Diante do medo e indignação, não restava nada mais do que esperar a chegada deles e a morte sob o fogo explosivo.

Não tardou.

O sol suavemente iniciava o seu desenho diário quando eles chegaram ao vilarejo, os pássaros calaram-se, todos acordaram repentinamente ao mesmo tempo, o velho com a viola iniciou sua cantoria.

Saíram todos. Aos poucos, por entre a mata muitos daqueles homens iam surgindo, as árvores, as plantas floresciam por onde eles passavam. Os sobreviventes amontoavam-se temerosos.

Os homens pararam, ao fundo as árvores expandiam suas cores, somente um dirigiu-se em direção ao grupo amedrontado.

O soldado australiano, em plena ação de coragem dirigiu-se rapidamente direção ao homem no fim de atacá-lo, avidamente fora rendido de joelhos com um simples olhar. O grupo amontoara-se ainda mais.

O homem parou próximo a eles e suavemente disse:

-Está feito.

Gabriel o reconhecera, era o mesmo que tentara matar em são Paulo. O ódio cresceu em seu ser e gritou:

-Desgraçado, você matou a todos, acabe logo com isso.

Sem explicação o homem já estava ao lado de Gabriel com o dedo indicador enrugando sua testa.

-Sim Gabriel, matei, como pedistes, e, sim acabarei com isso.

No mesmo instante ao lado de todos os sobreviventes havia um daqueles homens, que do mesmo modo que em Gabriel, encostavam o dedo indicador em suas testas.

- Bem vindo de volta, irmão. Disseram todos juntos.

O velho com a viola e sua família caíram mortos no mesmo instante.

O olhar surpreso de Gabriel gradualmente tornou-se sagaz e arrogante, aos poucos restituiu sua verdadeira sabedoria, o passado e o futuro fizeram-se estáveis em sua mente, íntegros e modificáveis conforme a sua vontade. Percebera o que era, e detalhe por detalhe reconhecera o plano que projetara., uma felicidade irônica explodiu em seu sorriso. Seu plano dera certo, a terra agora era dos anjos nascidos entre os homens, um motim contra um Deus para ele omisso, e uma humanidade degradada. A paz e sabedoria agora iriam reinar, assim como ele.

Martinópolis – Sp

Entre os escombros e frente uma gigantesca cratera, onde há alguns dias uma explosão extinguira a cidade. Uma jovem chamada Camila com os olhos cerrados preparava-se para um salto desesperado em direção a morte, uma voz a retardou.

- Ainda não é o fim Camila.

A jovem olhou, a surpresa brilhou em sua face, um homem, com vestes brilhantes flutuava sobre a cratera, seu olhar era doce e suave, sua voz um calmante.

-Meu pai precisa de ti, siga para o norte e encontrara o inicio de um novo recomeço. –És o inicio de longa guerra, siga-nos e saíra vitoriosa.

Aos poucos a garota dirigiu-se ao norte, rumo ao recomeço.

Fim

Para: Rosimeire de Souza, Flávio de Souza, Danielo, Gláucio Viana, Fabiana e aqueles que acompanham meus contos pacientemente. Obrigado.

JVictor

http://contosjvictor.blogspot.com/