A maldição da criatura da floresta

As patas grandes amassavam as folhas mortas e estalavam os galhos secos caídos no chão da floresta úmida. O vento gélido que provinha das montanhas do norte carreou para longe as nuvens que cobriam o luar.

A criatura parou e se voltou para lua, um sorriso cínico cruzou seu rosto. Apoiando-se nas patas traseiras apenas ele ergueu o corpo gigantesco e uivou para a lua.

- Ele está na floresta! – o líder da aldeia falou para os camponeses.

- Mulher! Leve todos para dentro do galpão e tranque a porta! Não abra por nada! – ele ordenou para a mulher ruiva que chorava em prantos, mas fez o que foi pedido.

Cerca de vinte mulheres e crianças se esconderam dentro do grande galpão de pedra da aldeia. Aquela era a única construção resistente que havia ali. Ela fora construída muito tempo antes, por um povo que outrora vivera no local. Os aldeões haviam reforçado a construção e colocado nela uma pesada porta de madeira.

O líder e outros camponeses empurraram a pesada porta e ouviram as mulheres fecharem as trancas do lado interno.

- Hoje nós acabaremos com aquele animal desgraçado! – um dos homens chiou com raiva.

- Ele vai pagar por ter pego minha filha! – outro bradou.

- E meu neto!

- E minha esposa!

- Sintam a raiva tomar conta de vocês, lembrem dos corpos mutilados, do rosto destruído e sem vida! Peguem suas armas e vamos! Ele não escapará! – o líder fez seu discurso enquanto empunhava uma grande espada.

Os demais homens se equiparam de maneiras diversas, eles eram ao total de 10, alguns carregavam machados, outros levavam espadas e alguns arcos e lanças.

A trilha de pedra que fora construída no vilarejo terminava abruptamente na entrada de uma floresta. Poucas vezes os homens entraram nela para descobrir os segredos profundos das entranhas, segredos vivendo entre as árvores milenares.

As tochas iluminaram o ambiente um pouco, mas não o suficiente para prever todos os perigos possíveis. Passo a passo os homens caminhavam, andando de forma a protegerem todos os lados do bando.

A criatura estava parada em cima de uma pedra que formava uma plataforma reta no interior da floresta. A pedra gelada acariciava as patas peludas e negras. O focinho comprido teve suas narinas dilatadas enquanto farejava o ar. O cheiro da carne humana era delicioso e tentador.

Eles estavam próximos da criatura, podiam sentir o cheiro asqueroso do pêlo fedorento sujo de sangue. As armas foram colocadas em prontidão. Eles avançavam passo a passo. Uma clareira abriu-se aos olhos dos homens, parada no meio dela, um enorme lobo afiava as garras na terra preparando-se para o ataque.

- Eu disse que era um lobo! – um dos homens sussurrou.

- Eu jurava que era um urso! – outro comentou.

- Esse desgraçado me paga! Pode ser lobo ou qualquer outra coisa! – o líder gritou contra a criatura e partiu para o ataque com a espada em punho.

O lobo pulou, a garra rasgou o braço do líder que deixou a espada cair. O lobo caiu ao solo e virou-se rapidamente na direção dos homens iniciando novamente a corrida.

Dois homens lançavam flechas na direção dele, outros três correram com lança, espada e machado em punho.

O lobo desviou-se das flechas chocando-se contra o homem que portava a espada derrubando-o no chão e subindo sobre ele, as garras arranhando as pernas e o peito do homem.

A lança atravessou a pata dianteira do lobo, enquanto o machado chocou-se contra o lombo da criatura. O lobo uivou de dor e fúria.

Ele jogou o peso na pata enquanto arranhava o homem que lhe fincara a lança derrubando-o ao solo. Os dentes afiados do lobo cortaram a garganta do homem fazendo o sangue jorrar.

O machado descreveu um arco perfeito no ar e atingiu a cabeça do lobo, fazendo a orelha ser arrancada. O sangue corria banhando a face do animal que em fúria correu contra o outro homem arrancando-lhe um braço.

Um arqueiro aproveitou o momento atingindo o tórax do lobo, enquanto outro lanceiro fincava a arma na pata dele.

Outras duas flechas atingiram o corpo do lobo que uivou em prantos e caiu ofegando no chão. O homem ergueu o machado com a mão que lhe restava, ele focava o pescoço do animal que agonizava pronto para desferir o golpe final quando o corpo convulsionou.

Os pêlos e as garras caíram. A musculatura regredia quando os ossos perdiam o comprimento animal. O corpo tomou uma posição fetal enquanto os músculos se contorciam em dor.

- Não pode ser, é ... é... – o homem perdeu a fala.

- Chefe Helm... – outro completou.

- Não pode ser ele! – o homem deixou o machado cair, indo se ajoelhar do lado do homem que ofegava.

- Ele foi morto durante aquele ataque no monte do fogo, eu o vi sendo mordido por aquele lobo e o corpo dele sendo arrastado para a floresta – o líder do grupo se arrastava na direção do círculo para contemplar o corpo destruído da criatura.

- Tolos! – o homem falou se engasgando no seu próprio sangue em seguida e morrendo.

Um vento forte apagou as tochas e levou embora as nuvens que cobriam o luar. Os quatro homens que foram atingidos pelo lobo se transformaram.

A rápida transformação fez os outros homens ficarem sem ação, seus corpos foram dilacerados em segundos, os corações e cabeças arrancados. Os lobos uivaram e correram para dentro da floresta.

Emília Kesheh
Enviado por Emília Kesheh em 28/04/2009
Reeditado em 28/04/2009
Código do texto: T1565203
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