EXTINÇÃO.

Extinção

O som agudo e ensurdecedor fez com que Gabriel acordasse num sobressalto, a mensagem do sonho ainda lhe era nítida "Você tem quatrocentos e vinte minutos para fugir", as mãos nos ouvidos era algo interessante , porquê nunca houvera ocorrido, tamanho som, tamanha força, que o fizesse acordar desta maneira, contudo, era um sonho, somente um sonho, aos poucos acalmou-se, olhou para o lado, sua mulher não estava ali, tudo bem, ela acostumara-se acordar e dormir frente a televisão, possivelmente estaria lá .

Vagarosamente, após o banho, vestiu a farda, era segunda, não queria apressar-se "todos se atrasam na segunda" pensou. A frase não lhe fugia a mente "Você tem quatrocentos e vinte minutos para fugir" , estranho, mas nada anormal para um sonho, sonho de sons, essa era uma novidade.

Gabriel sorrira "sonhos".

Desceu as escadas lentamente, pronto a encontrar o café da manhã corriqueiro preparado por sua esposa, entretanto, contrariando suas expectativas, a cozinha encontrava-se vazia, incólume, como deixara na noite anterior, estranhou a principio, mas bem , ela perdeu a hora, " HAHA nada melhor para futuramente infernizá-la".

Dirigiu-se rapidamente para a sala em prol de acordá-la com sarcasmos inéditos, não se tardou a estagnar-se frente ao que vira.

A bela Isabele, sua esposa de beleza irradiante prostava-se ajoelhada frente à televisão, suas lagrimas fluíam num choro póstumo.

Gabriel assustara-se, correu rapidamente em direção a bela mulher.

- O que foi amor? O que aconteceu?

Isabele continuava estagnada.

-Amor?

Tentou ergue-la, mas era impossível, tentou puxa-la, sua bela mulher não se movia, no auge de suas forças, cativou mais um impulso, não era possível. Como? Olhou para a bela mulher, forçou novamente sobre gritos, não havia respostas, muito menos movimentos.

Olhou para a televisão, pasmou-se, paralisou-se.

Um homem andava sobre as ruas de São Paulo, as câmeras o flagravam e rapidamente tornavam-se inertes, como se seu operador desistisse do oficio, e apenas o cavalete a mantinha firme, filmando seguidamente centenas de carros parados e pessoas ajoelhadas, não havia fração, não podiam segui-lo.

Gabriel pode vê-lo de relance a andar entre as pessoas ajoelhadas, era um homem belo, seus cabelos negros e úmidos escondiam-lhe a face, seu olhar omisso ao chão contínuo demonstrava obstinidade.

Homens, mulheres e crianças caíam de joelhos, como um muro ao ser destruído, caíam como tijolos. Tudo era irreal, inimaginável. Gabriel olhava absorto para à inacreditável cena.

O som agudo do sonho voltara, era intenso, gigantesco, sem opções Gabriel tentava com as mãos tampar os ouvidos, o som aumentara, a frase rapidamente formou-se por um gigantesco grito em sua mente.

"Você tem quatrocentos e vinte minutos para fugir"

Olhou para sua mulher num pedido inútil de socorro, e assustou-se ainda mais, em sua testa estava escrito por cortes sangrentos, "A D U L T E R I O", caiu espantado próximo ao sofá, o som sumira juntamente com os escritos na sua esposa, contudo ela continuava ajoelhada num choro infindo.

Fugir? Este não era o seu feitio. Gabriel não entendera o que acontecia, mas com certeza entendera o motivo, e ele estava ali, na televisão, na sua frente, caminhando, enquanto as pessoas, aquelas a quem jurara defender ao se formar policial, caíam uma a uma abatidas de joelhos.

Por algum motivo oculto ele permanecia inafetado diante da presença daquele homem, todos, assim como sua esposa foram atingidos. Pos sua arma no coldre e em pouco tempo dirigia sua moto rumo à fonte, ao motivo de tudo aquilo.

As ruas estavam desertas, inícios de incêndios eram denunciados por pequenas nuvens de fumaça saindo de janelas, pessoas se amontoavam ajoelhadas nas ruas, carros entupiam as vias, seus motoristas, em transe, choravam inertes.

Não tardou ali estava Gabriel, duas quadras frente ao motivo de tudo, lá vinha ele rumo ao centro, lentamente, enquanto as pessoas automaticamente ajoelhavam-se ao verem.

Gabriel sacou a arma, fez mira, o homem aproximava-se lentamente, quando a distância tornou-se precisa para o disparo, vagarosamente começou a pressionar o gatilho.

O misterioso homem parou, seus olhos negros ergueram-se pela primeira vez em direção a Gabriel, e num piscar de olhos, ali estava ele junto ao atirador, segurando sua arma, enquanto seu dedo indicador pressionava sua testa.

- Qual parte, Gabriel, sobre fugir não entendestes?

Gabriel desaparecera, o homem sistematicamente continuou seu destino, continuamente por onde passava as pessoas ajoelhavam-se e choravam.

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Amazônia.

- Pai! Outro caiu aqui! Disse um homem na margem do rio.

Seu pai, um velho usando um grande chapéu, e tocando uma bela musica na viola disse:

- Traga-o para junto dos outros. Traga logo querido. HAHA.

A música continuara.

" Ó senhor o que mudara, ó senhor o que mudara".

O homem logo trouxe Gabriel ainda inconsciente para dentro da cabana, onde muitos ali tentavam se comunicar, porém as línguas eram muitas.

Ao fundo uma rádio local pronunciava.

"Não sei caro ouvinte por que estou vivo, não sei como consigo falar, o que sei, é que segundo noticias, noventa por cento das grandes cidades do mundo estão, digamos, sobre o domínio desses homens, acreditem; Nova York, Berlim, São Paulo, Moscou, Londres..."

Continua.

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