NÃO BRINQUE COM ESPÍRITOS !
NÃO BRINQUE COM ESPÍRITOS !
-Podem me entender agora?
Uma resposta afirmativa fez transcorrer o diálogo.
Como dizia, meu nome é Danielo não há muito estou aqui, entretanto por alguns motivos permitiram-me o privilégio de falar, tentarei contar a minha história para que vocês e suas consciências possam julgar o falso ou verdadeiro, e nas suas ações efetuarem o correto ou incorreto. Compreenderam?
Um “sim” progrediu o discurso.
Tudo começara numa manhã quente de verão na escola onde concluiria o ensino fundamental. Eu, mais cinco amigos entre eles três meninas, fazíamos, no intervalo entre as carteiras vazias da classe desprovida, a famosa “brincadeira do anel”, o que na verdade não é uma brincadeira e sim uma evocação séria.
Segundo estudos posteriores descobri que essa suposta brincadeira é de fato uma ouija funcional, muito utilizada pelos primeiros médiuns ingleses em suas experimentações. Entendem?
A resposta fora afirmativa.
Eu iniciei a brincadeira ressabiado, um pouco sem entender o principio daquilo, como alguma coisa boa poderia prover-se somente de um anel para comunicar-se, ele com certeza teria mais condições, talvez algo possa se comunicar por isto, mas com certeza não seria bom, com certeza não. Pelos receios cancelei de ultima hora minha participação, passando a observar de uma carteira próxima.
Após me xingarem de “Bundão” e “Medroso” meus amigos iniciaram sob muitas risadas a “brincadeira”.
No inicio ouve uma pequena oração ditada pela aluna mais velha da sexta série, em seguida pequenas risadas dos participantes enfim a primeira pergunta “Tem alguém aí?”
A garota mais velha girou o anel, este girou até cair em seu colo.
Nada ocorrera.
“Tem alguém aí?” O anel fora girado novamente, desta vez não caíra, girou, girou até deitar-se suavemente sobre a palavra (sim).
Todos se entreolharam.
“Você é bom?” O anel novamente deslizou-se para o (Sim).
Eu duvidei muito daquela resposta.
O anel fora jogado novamente e caira girando aos meus pés, e mais duas vezes seguidas a situação se repetira.
A garota da sexta série perguntou em seguida. “Quer que ele jogue o anel?” o anel parou girando no (sim) e caiu.
Eu não o joguei e jamais o jogaria, meus amigos imploravam, mas não cedi.
A garota mais velha levantou-se para levar-me a força até a mesa para que eu jogasse, neste momento o anel escorregara de sua mão e caira sobre a mesa girando, mas numa velocidade descomunal. Todos nos afastamos assustados. O anel seguia seu ritmo e lentamente desfilou pelas letras formando a frase:
S O N H O (SIM) D A N I E LO (SIM ) TIRO VIDAS (SIM)
O anel caiu suavemente sobre (?).
Todos se assustaram, as garotas gritaram, os meninos correram, até a chegada da inspetora, que como todo bom adulto duvidara de tudo.
Logo entendi aquelas palavras, o sonho daquela noite fora terrível.
Lá estava eu na fazenda de meu tio em Minas Gerais próximo ao cume da cachoeira , no cimo do morro onde nas férias adorava ir, ao meu lado duas crianças que choravam e gemiam, pois, na minha frente, encontrava-se um imenso touro preto riscando o chão com seus cascos numa fúria incontrolável, com sua respiração afobada a poeira levantava-se pelas narinas enormes, narinas essa onde prostava-se um imenso anel prateado que reluzia o sol fraco. Não tardou o furioso touro avançou, as crianças gritavam, eu, não podia mexer-me diante de tanto medo.
A pancada fora tão forte que ouvi as crianças silenciarem ao primeiro som do impacto, quanto a mim, senti o chifre enfiar-me pelo estômago. A dor fora imensa acordei aos gritos.
Tudo fora um sonho, talvez um aviso achara eu, mas o tempo passara, nada de anormalidades, a infância se fora e levara consigo partes das lembranças, a juventude também removeu sua parte, a fase adulta veio com o amor, este gerou filhos, estes sempre são omitidos dos medos paternos e aliviaram ainda mais qualquer lembrança.
Dois garotos, sim, acreditem, tenho dois filhos lindos, vivem com a mãe depois do acidente, embora não acho que tenha sido acidente, fora o destino, ou a vingança dele compreendem? Compreendem?
- Sim, Sim. diserram todos em resposta
Meu tio falecera, por herança a fazenda em Minas Gerais veio a ser minha, não tardou, nas férias, lá estávamos eu e minha amada família, deus como eu os amo, são maravilhosos. Após um sábado de alegria e descanso, resolvi levar os garotos para conhecer o pico da cachoeira, cada um com um cajado improvisado seguimos em direção ao pretendido.
Quero que entendam que as lembranças de um simples sonho na infância, não possuem valor na fase adulta, acreditem eu não lembrava, eu não lembrava de nada. Vocês acreditam?
- Sim acreditamos.
Mas lembrei-me no mesmo instante , pois, no pico, eu e meus filhos vimos o imenso touro nos ameaçando contra o penhasco, as crianças gritavam, nas narinas brilhava o gigantesco anel prateado, o touro avançou, dessa vez podia me mexer, num salto empurrei meus filhos em direção ao chão, ainda durante o salto o touro me acertara, caímos os dois, e bem, algumas situações mudam vidas, e aqui estou eu, compreendem porque eu não quero que façam isso?
Não houve respostas, nem mais perguntas.
Somente um anel continuava a girar vagarosamente ate descansar na dura madeira da carteira.
Ao longe gritos de terror ecoavam por toda a escola.
Para Danielo autor da idéia. Boa idéia amigo (ou se pensarmos bem péssima experiência a sua).
J Victor.
http://contosjvictor.blogspot.com/