VIDA NOTURNA - I

Uma longa fila se formava na frente da badalada boate na zona sul da cidade. Todo o tipo de gente era encontrado ali. Candidatos a famosos, patricinhas e mauricinhos, estudantes, oportunistas, gente vinda direta do trabalho, enfim, todo o tipo mesmo.

Um carro de luxo parou na entrada, três garotas e um rapaz desceram dele. A moça que dirigia, uma loira com cabelos ondulados e longos, entregou a chave para o manobrista. O recepcionista do estabelecimento, um jovem com aparência de modelo, usando um headphone, foi ao encontro do grupo, encaminhando-se diretamente a jovem mais baixa, a de cabelos curtos e negros, vestida de calça jeans colada ao corpo, blusa preta e jaqueta de couro da mesma cor, um par de botas de cano longo completava o visual da garota, que emanava um ar dominador.

- Senhorita Verônika, que prazer recebê-la esta noite! – cumprimentou de forma entusiasmada, o jovem.

- Corte o papo furado Bruno, leve-nos para dentro dessa espelunca – desdenhou a garota, o recepcionista exibiu um sorriso amarelo para ela, mostrando discretamente seus caninos afiados.

Ignorando o fato, a jovem encaminhou-se para o interior da casa noturna, sendo seguida pela loira motorista, cujo nome era Úrsula, pela outra jovem, uma negra alta e bela, que ostentava uma longa e bem feita trança que alcançava o final das costas, possuía também um chamativo par de olhos verdes, era de longe a mais vistosa das três, chamava-se Bárbara, e pelo rapaz, cabelo estilo moicano, na moda, armado com o auxílio de muito gel, era extremamente magro, seu nome era Felipe, todos eram muito pálidos, o que chamava a atenção de todos na fila.

O recepcionista acompanhou-os até o interior da Planet Hell e voltou para seu posto, suspirou e pensou no que tinha que agüentar para receber o seu salário semanal.

Lá dentro a música techno dominava o ambiente, o bate-estaca era ensurdecedor, o grupo, formado pela Condessa e líder guerreira da Rainha Valkíria, e seus mais próximos soldados, gostava daquilo, som alto, confusão, e o sabor que o álcool e as drogas davam ao sangue de suas futuras vítimas.

Separaram-se, cada um seguiu para um canto da boate, porém, antes que escolhessem suas vítimas da noite, a Condessa percebeu uma situação peculiar e solicitou mentalmente a aproximação de seu grupo, esses seres, com algum treinamento, eram capazes desse tipo de comunicação em um espaço físico reduzido.

- O que é que está havendo, Verônika? – perguntou Felipe, um tanto contrariado, pois já havia escolhido sua vítima da noite.

- Olhem ali, próximo ao balcão de bebidas – disse a Condessa apontando para quatro homens e uma mulher que estavam sentados nos bancos arredondados de frente para o local de trabalho dos barmen.

- O que foi Condessa? O que tem com aqueles caras? – Questionou Bárbara, curiosa.

- Vocês são muito distraídos mesmo hein! Aquele pessoal faz parte da Ordem, eu os conheço bem, são todos lacaios da Jéssica.

- É verdade! Você está correta – disse Úrsula – todos eles fazem parte daquela escória, o que estamos esperando? Vamos acabar com eles agora.

- Calma garota, se eles estão aqui, te asseguro que não é para dançar. Vamos avisar aos nossos, observar e preparar o ataque – arquitetou a líder guerreira da Rainha da Noite.

Os quatros súditos do reino infernal se misturaram à multidão, tentando ao máximo se manterem despercebidos. No entanto, não sabiam que já haviam sido localizados pelos olhos treinados dos soldados da Ordem. Eles estavam na boate porque, de acordo com informações provenientes da Base, o local era um reduto de seres noturnos, que usavam as facilidades do ambiente ali instalado, para atenderem seus interesses. O que não sabiam, era que a própria líder do exército de Valkíria freqüentasse a Planet.

- Chillywillie – falou Roger, o líder da operação, referindo-se ao barman mulato, de tranças rastafari, no outro lado do balcão, separe a carga agora, parece que vamos ter ação, e outra coisa, se você quiser, pode juntar-se a nós, será o teu batismo.

Roger estava se referindo ao armamento que fora introduzido no interior do estabelecimento pelo funcionário, obviamente não poderiam entrar armados ali, e o rastafari, candidato a membro da Ordem, colaborou nessa investida, pois não era revistado no local de trabalho.

- Demorou, meu bom, vamos botar a casa abaixo – comemorou o barman.

- Certo. Linho, fique de olho na Condessa, entrarei em contato com a Base, pedirei ajuda, talvez a Jéssica possa chegar aqui a tempo.

Roger estava apreensivo com a possibilidade de confrontar a terrível guerreira, mas lamentava a falta de sorte, se soubessem com antecedência da presença de Verônika, poderiam arquitetar um ataque mais efetivo. Talvez com a liderança de Jéssica, e talvez, bem talvez mesmo, pudesse se livrar de tão conflitante situação. Alguém da Base ouviria dele, com certeza.

Discou o número da líder guerreira, já previamente gravado no celular.

- Alô? Jéssica? Sou eu, você não imagina o que está acontecendo aqui – o soldado fez um relato para sua comandante, que igualmente lamentou a falta de sorte, ela partiria com reforço imediatamente, embora a distância entre a Base e a zona sul da cidade fosse grande, faria o impossível para chegar a tempo.

Paralelamente a isso, Verônika também mexia seus peões, já ordenara a Bruno, o recepcionista, que reunisse os demais noturnos do local e, em momento oportuno, retirasse os humanos do local, inventando uma desculpa, e levando-os para a saída de emergência. O sigilo acima de tudo.

Neste exato momento, membros da Ordem partiam da Base, localizada na zona norte, em quatro carros velozes, não poderiam perder tempo, a vida dos cinco amigos, mais as de um monte de inocentes estava em jogo. Em minutos já estavam na saída do bairro, prestes a pegarem a via expressa, a caminho dos pontos nobres da cidade.

Na boate, Chillywillie, anexava o último silenciador nas armas, estavam preparados para uma guerra sem estardalhaços, a Ordem supria muito bem as necessidades bélicas de seu exército, sempre com o que havia de melhor no mercado. Verônika sussurrou algo no ouvido de um vampiro imenso, trabalhava como segurança na boate. O homem seguiu até a sala de comando e desligou deliberadamente a chave de força da instalação, acabando com o som, e tornando a fraca iluminação em breu completo.

Gritos de empolgação e protestos foram ouvidos, luzes de emergência se acenderam e, o recepcionista, seguranças e gerente da boate, orientaram e usaram até de força para levar a multidão até a saída de emergência.

Em meio a toda essa movimentação, os soldados da Ordem puseram-se todos atrás do balcão de bebidas.

- Saiam daqui, rápido – ordenou aos berros Roger, dirigindo-se aos barmen, com exceção do rastafari, já com um fuzil nas mãos, o que serviu de incentivo para os funcionários da boate, no sentido de fazer com que o obedecessem. Todos puseram óculos de visão noturna, a fim de eliminarem a vantagem do inimigo, que enxergava perfeitamente naquelas condições.

Notaram várias silhuetas em verde florescente saltando dentro do largo salão, se não estivessem fazendo uso dos óculos especiais, poderiam vislumbrar vários pontos luminosos, eram na maioria em vermelho, mas havia alguns em amarelo.

Repentinamente a música voltou a todo volume, o techno estourava as caixas de som, luzes giroscópicas transformaram o local numa rave do inferno.

*continua*

Flávio de Souza
Enviado por Flávio de Souza em 23/04/2009
Reeditado em 17/11/2009
Código do texto: T1554454