UM OLHAR SOBRE A MORTE
A face da morte tem variantes, o que nos parece a certa e justa, não o é para outro ser humano, todos os fatos tem suas verdades, e a cada narrativa acha-se embuída da sua verdade, um fato nem sempre terá a verdade absoluta diante de nossos olhos, é uma colcha de retalhos que nunca terá a mesclagem como a definitiva verdade.
Maxuel, rapaz tímido e trabalhador, por essas nuances da vida conheceu Marta.
3 anos de namoro, 5 meses de noivado e o casamento, igreja, festa, lua de mel o retorno a a vida cotidiana.
Maxuel era um operador de guindaste no porto, corpo delineado por anos de academia, braços poderosos e
o fervente sangue latino nas veias.
Marta era professora, não tinham filhos ainda depois de 1 ano de casado.
De segunda a sexta Maxuel trabalhava no porto e consistia em erguer containers nos navios, era um trabalho
monótono, mas de uma responsabilidade enorme.
Dali de cima avistava grande parte da cidade e ao fundo, uma pequena praia, onde não raro via casais passeando
e por vezes fazendo algo mais, divertia-o isso.
Numa quarta-feira a tarde avistou um casal na praia...Não era possível, estava a 700 metros e seus olhos não poderiam lhe trair a ponto de estar vendo outras pessoas e estar confundindo uma delas com sua mulher...
Por 30 minutos observou o casal que namorou na praia deserta e depois retirou-se por uma estrada ao fundo.
Quando a tarde chegou, chegou em casa, parecia tudo normal, e a pergunta enevitavel foi feita à mulher:
Meu amor, voce saiu hoje a tarde?
Não Max, não saí, porque? Respondeu Marta.
Nada não, nada importante, concluiu.
Por 2 vezes o telefone tocou esta noite, e ao atende-lo ninguém falava.
Pela manhã, Maxuel dirigiu-se ao trabalho e conversando no vestiário da empresa com um outro funcionário,
amigo seu confidenciou o fato.
Na verdade, fora este amigo um antigo namorado de Marta, mas nada mais havia entre eles, tanto que tornaram-se amigos.
Maxuel, num dia de folga, sem avisar a mulher que não iria trabalhar, saiu cedo e foi a praia, observar suas desconfianças.
Voltou a casa na hora do almoço, almoçou, e como pela manhã não vira nada de estranho na praia, esperava que a tarde lhe reservasse algo a esclarecer suas dúvidas.
Antes de chegar na praia de realance, muito rapidamente, viu passar o carro do seu amigo.
Não era possível, era ela sim...e ele ao volante, meu Deus que tragédia.
Sentou numa pedra, teve ímpetos de acabar alí o sofrimento o mar seria um jazigo perfeito...Chorou.
O sol se punha e a tarde era maravilhosa, passou numa loja de materiais esportivos e comprou um binóculo,
esperava ele ratificar as desconfianças.
Quando chegou em casa, a mulher fazia o jantar e veio lhe dar um beijo de boa noite, foi frio e avisou que iria tomar
um banho.
Marta estava acostumada com a frieza de Maxuel, e creditava o desinteresse do marido ao trabalho.
Na manhã seguinte, na sacola que levava ao alto do guindaste, colocou o binóculo.
Após o almoço, antes do trabalho recomeçar, subiu no guindaste, e com o olhar fixo na praia esperava pelo flagrante.
13:30 horas, recomeçou o trabalho incessante.
A praia tinha 600 metros de comprimento e se via ela a partir do porto como se visse uma pista de um aeroporto, da cabeceira para o final da pista.
Ao final da praia, uma estrada dava para a rua de retorno a cidade.
Quem olhasse de onde Maxuel estava, via as pessoas sairem da praia e sumirem na estrada, pois esta estava num plano mais baixo.
Pelas 3 horas da tarde Maxuel levantou devagar a cabeça e lá no final da praia o casal, indo, perdera a chance de observá-los mais de perto.
Rapidamente pegou o binóculo e viu, muito perto do seus olhos, o casal, sem dúvidas eram os dois, tinha certeza.
Baixou o binóculo, esfregou os olhos e quando o colocou novamente nos olhos, apenas a sombra dos dois desaparecia da sua visão.
A mulher trajava jeans e camiseta branca, e o homem calção e camiseta.
Desesperou-se, mas controlou-se com os nervos a flor da pele, aquilo merecia uma resposta...
A tarde saiu do trabalho, e parou num bar, iria beber até cair, queria morrer, pensou.
Ja era madrugada, quando abriu a porta de casa, seguiu para o banheiro...
No chão uma calça jeans e uma camiseta...Branca.
Sentou no vaso e pensou:
O maldito ainda gosta dela e deve ter dado em cima até conseguir..., Imaginou. Cerrou os punhos, mordeu os lábios e com a cegueira própria dos assassinos foi a cozinha, pegou uma faca de cortar pão e foi ao quarto...
Às primeiras horas da manhã, Maxuel ensopado de sangue foi ao banheiro, tomou um banho e dirigiu-se ao trabalho.
Subiu ao guindaste as 08:30 horas, logo depois o seu amigo, responsavel pela conferencia dos produtos a embarcar, lhe dava sinais lá debaixo, para içar um container.
Baixou os cabos de encaixe rápido, engatou o container, suspendeu até a altura do navio e num movimento brusco
soltou o container de 90 toneladas sobre a pobre vítima...
Debaixou do container no chão, escorreu o sangue do pobre rapaz, enquanto os olhos de Maxuel sorriam de satisfação.
No chão da cabine, no lado esquerdo, a sacola.
Na praia ao longe viu o vulto de um casal em meio a maresia...
Gelou a sua espinha, a desnorteante alegria tornou-se uma arrepiante preocupação.
Baixou pegou o binóculo, ergue-o a altura dos olhos, colou-os no binóculo...
Da penumbra da maresia a sombra foi lentamente tornando-se mais nítida...mais...mais...mais.
E quando saiu o casal da penumbra, um misto de perplexidade e agonia lhe enrubesceu a face...
Com as mesmas roupas do dia anterior o casal estava no foco dos seus olhos, surgiu como a luz do dia.
Meu Deus o que foi que eu fiz? Indagou-se.
Meia hora depois, o IML juntava os restos mortais embaixo do container erguido e ao mesmo tempo,
recolhia o corpo de Maxuel que mergulhou de 40 metros de altura em direção a morte.