O vampiro visitante

O homem bateu à porta tarde da noite, mas encontrou toda a família acordada, jogando cartas.

Foi o pai quem abriu para ele entrar. Levou logo um susto:

- O que houve com o senhor?

O homem usava um casaco preto de veludo, camisa branca e calça preta, todos de excelente qualidade. Até as crianças avaliaram assim. O sujeito devia ser muito rico.

- Por favor, poderia me ajudar?- ele parecia precisar mesmo de ajuda, esteva pálido como cera e mesmo de longe via-se como tremia.

- O que aconteceu?

Todos imaginavam que ele podia ter sido assaltado na estrada, ali perto, sofrido um acidente com o carro ou apenas ter ficado preso na neve. Nevava muito aquela noite, havia flocos brancos nos ombros daquele homem chique.

- Ajude-me, por favor- ele devia sentir muita dor naquele momento pois estendeu a mão para o pai, uma mão longa e bem cuidada, que oscilava e, no fim, foi puxada de volta, como se o homem tivesse percebido a falta de educação que esteve prestes a cometer.

A mãe levantou-se da mesa, largando as cartas espalhadas, e foi até onde os dois estavam. Vendo o estado do desconhecido, sua aparente riqueza e sua nescessidade de auxílio, disse, sem gaguejar, Nem refletir:

- Entre aqui em nossa casa.

O homem relaxou, o rosto cessou aquele estado de tensão em que os músculos saltavam sob a pele e as veias pulsavam inchadas.

- Muito obrigado - disse ele, por entre os lábios finos e brancos, os dentes afiados brotando reluzentes. O pai assustou-se com aqueles dentes e empurrou o homem para fora. Tentou, na verdade.

O vampiro segurou-o pelos braços e, bem ali, na soleira, cravou os dentes em seu pescoço. O sangue escorreu pela camisa xadrez que o pai usava sempre que estava em casa, ele soltava gritos agudos e socava as costas do vampiro, mas ele estva decidido a beber até a última gota.

Com seus olhos frios e vítreos, viu quando a mulher empurrou as duas crianças para cima, pela escada. O pai desfalecia em seus braços e com um último e forte chupão, largou-o ao chão.

Dando largas passadas, revirando a mesa no caminho, ele subiu as escadas e se deparou com uma porta trancada. Atrás dela, o resto da família chorava e soluçava.

O vampiro empurrou com a palma da mão a maçaneta, fazendo-a voar pelo outro lado, deixando um buraco lascado na madeira. Com um toque do pé na porta, abriu passagem para um quartinho de costura. Abaixo da janela, na parede oposta à ele, estava a mãe, encolhida e tremelicante, os olhos inchados e vermelhos.

- Por favor...- ela soluçou.

Muito rápido, o vampiro a agarrou e a ergueu na sua altura. Mostrou-lhe os dentes sujos de sangue e enquanto ela uivava de pavor, enterrou os dentes na veia jugular.

Aos poucos o grito dela foi morrendo e se tornando rouco, até que cessou e o corpo caiu flácido das mãos dele.

Agora, foi às crianças, escondidas dentro do armário.

Caminhou lentamente, ouvindo o rangido do assoalho de madeira. Parou e olhou a porta rústica. Havia uma fresta, pela qual um olho o observava, aquoso e esbugalhado. Ele sorriu. Um gritinho veio detrás da porta.

- Boooooooooooooooooo!- urrou ele, escancarando a porta.

Então, o machado de lenhador desceu e ficou cravado no meio da cabeça do vampiro. Ele piscou, confuso, e olhou para os dois garotos. O maior tinha sido o autor daquilo e, mesmo assim, tremia de pavor.

O sangue jorrou aos borbotões, o vampiro ficou chateado. Puxou o cabo do machado e desenterrou-o do cérebro. O ferimento fechava-se rapidamente, mas o sangue estava desperdiçado.

- Muito bem - disse ele. - Foi uma bela tentativa.

Jogou o machado para um canto e puxou o menor primeiro. Ele esperneava como um frango arisco. O vampiro afastou a gola do pijama e mordeu o pescoço, mas, durante os puxões, o osso partiu-se como um pedaço de lenha.

Fatigado, o vampiro largou o corpo, encostado no armário. Olhou para o outro garoto.

- Agora, só falta você.

Ele estendeu a mão para puxá-lo para fora. O garoto deu uma tesourada com toda a força e continuou a dar estocadas, como se tivesse um punhal. A mão, branca e bonita, tornava-se um trapo sangrento.

- Ah, seu moleque! - falou o vampiro, em meio aos gritos do garoto e ao som de carne sendo esmigalhada. - Eu vou matá-lo!

Ele arrancou com um tapa a tesoura das mãos do menino e tirou-o, com uma das mãos, para fora do armário. Trouxe-o até a boca e mordeu o pescoço.

A neve caía em flocos espiralados, no luar pálido. Na estrada, nenhum carro passava, mas havia a luz de uma casa no horizonte. O vampiro dirigiu-se para ela.

Andhromeda
Enviado por Andhromeda em 15/04/2009
Reeditado em 07/06/2011
Código do texto: T1540487
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.