QUANDO A MORTE LIBERTA

O sol vindo do ártico encontrava a bruma alaranjada do ar irrespiravel da planície.
Há muitos anos que tudo que se plantava estava minguando enquanto crescia, e pouco vingava do chão.
 A poeira que vez por outra o vento trazia tinha um cheiro de enxofre e irritava as vias respiratórias das pessoas.
Ao longe o pequeno país terminava em uma fronteira seca, onde apenas meia duzia de pobres almas travestidos
de soldados faziam a vigilia.
Além dali apenas o grande deserto e o infinito misterioso de onde chegavam apenas lendas de guerras de extermínio e dor.
Há 50 anos, para combater inssuretos, o país vizinho construiu uma usina nuclear clandestina que funcionou até o final da guerra.
Tropas do governo, estavam estacionadas ao longo daquela fronteira quando a tragédia aconteceu...
5 ataques foram suficiente para despejar toneladas de radiação no ar, e os soldados estacionados foram exterminados como moscas.
A explosão causou mortes no deslocamento do ar, por queimaduras, pela chuva ácida e pelos dias seguintes continuou matando, e levando cada vez para mais longe a morte.
Carcaças de antigos veículos de combate e esqueletos humanos, de mortos abandonados pela fuga da nuvem negra, eram comum, misturados a areia do deserto.
Anemias progressivas, canceres, e gangrena da pele ulcerosa eram a herança, que estes habitantes, ao lado do vizinho hostil, receberam ao longo dos anos.
Já fora uma cidade de 25 mil habitantes, reduzida agora a 4 mil almas doentes a espera da morte.
Uma vez por mes o governo central mandava um médico para ver a situação.
Medicava uns, desenganava outros e expedia atestados de óbitos para a família de outros.
Mas ja faziam 3 meses que o médico não vinha, mas longe de preocupar a população restante, não atingia ninguem, pois a hora chegaria para todos.
15 kilos mais magro, olheiras profundas, e com algo que assemelhava-se ao parkinson, depois de 5 meses, surgiu o médico na cidade.
A tarde era de calor terrível, estacionou o carro no antigo hospital da cidade.
Desceu do carro com auxílio de uma bengala que a outro seria dispensável, se tivesse os 35 anos do médico e tivesse saúde.
Adentrou ao hospital, e do alto da escada olhou para traz e só ouviu o barulhar do vento na rede de luz, nada a direita, nada a esquerda de onde estava.
Uma grossa camada de pó alaranjado sobrepunha ao chão cimentado do nosocômio, mas pela completa ausencia de rastros no chão, concluiu:
Não há mais ninguém.
Encostou-se no balcão, apertou a campaínha, como a forçar uma esperança que ele sabia não mais existir.
5 meses...meu Deus, foram só 5 meses.
Colocou o paletó sobre o braço, desceu a escada empoeirada entrou e sentou dentro do carro, e olhou...
A cada prédio que olhava lembrava uma passagem sua a socorrer infelizes contaminados pela radiação.
A velha praça jazia em meio a mato ralo e a flores secas.
Teve ímpetos de ir aos guardas da republica vizinha perguntar o que houvera, mas ja sabia a resposta.
Ela estava em seu próprio corpo, carcomido pela ação do plutônio.
70 % da cidade havia sido desmanchada, e os 30% restantes resumiam-se em 3 ruas de 700 metros cada,
ao lado as terras tombadas, com o mato a mostra.
De um canto da cidade onde ficava o hospital, até outro lado, deslizou com seu veiculo...Fez isso nas tres ruas.
Na ultima rua e na ulima casa, viu uma linha de fumaça saindo do chaminé...
Parou o carro, abriu o portão, no chão a carcaça de um cão morto há tempos.
Bateu na porta, entrou, sentado ao lado do fogão, a figura trágica de um homem, lhe disse:
Ola doutor, quer um gole de café?
Aceito, obrigado, respondeu.
Quando foram os ultimos? Quis saber.
2 meses, a fome e a doença levou todos, concluiu.
Pois bem vou medicá-lo e depois partirei.
Providenciou, seringa e agulha, fez o ancião deitar, aplicou-lhe uma dose de remédio, que fê-lo dormir imediatamente.
O médico dobrou um pouco o corpo de lado, colocou a mão no bolso, retirou um documento, colocou em cima
da humilde mesa do velho, pegou uma caneta dourada do bolso da camisa, e colocou seu nome no rodapé do documento.
Arrumou sua maleta, andou até a porta, abriu-a, deu uma olhada para traz e saiu.
Entrou no carro, suspirou fundo e pensou...A missão esta cumprida, o isolamento completado, vou para o meu isolamento definitivo na capital.
Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 07/04/2009
Reeditado em 28/07/2010
Código do texto: T1527194
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