Trevas: Prólogo
Trevas:Prólogo
Hadra fala:
Numa outra vida eu fui serpente, quando esses animais eram os mais sagrados e cultuados do mundo, na antiguidade longínqua da qual ninguém mais se recorda. Eu era dotada de grandes poderes, no lugar das escamas haviam pedras preciosas, tornando-me resistente. Conheci semideuses e deuses, dos quais muitos me consagraram. Era um ser elemental. Alguns diziam que eu era a emanação de alguma deusa poderosa e antiga. Como espécie de naja eu era uma hamadríade.
Quando era cobra ainda fui uma poderosa espada nas mãos de um herói que lutou contra o primeiro resquício de Escuridão, que sobreveio mais tarde e suplantou a Luz.
Quando a era da escuridão se principiava eu morri. Na verdade, me transformei. Como servi de instrumento contra as forças invasoras que encobriam o Sol, a Lua e os astros, fui punida pelos Cavaleiros de Sépia, que, com seus arcos de ébano, lançaram flechas mágicas que culminou com minha morte, pois eu ganhei poder com os bravos honestos e minha magia colocava em risco a Noite constante. Morri com quinhentos anos. A imagem da naja negra se foi, mas minha alma se imortalizou.
No lugar onde feneci, meus ossos se mesclaram a terra e meu sangue me alimentou e alimenta para sempre, assim como àquelas que de mim nasceram. Não precisamos da Luz e da água para sobreviver.
Eu renasci como uma arvore que engendrou dos meus próprios despojos. Sei que o toque dos deuses esteve presente nesta ação. Eu de novo sou uma Hámadriade: ninfa que habita as árvores.
Nos primeiros séculos de minha existência eu vi o véu turvo que ia cobrindo o céu alem dele mesmo. Os raios do sol se tornavam a cada ano mais opaco e insuficiente aos seres vivos e naturais. Mas a verdadeira força caótica nunca mostrava sua face.
Desse modo, com o tempo, eu prestava atenção a tudo que via, e via com os ventos, já que meus olhos era minha consciência. Com quinhentos anos eu já possuía quase um quilometro de altura, os ventos me traziam noticias de longe.
Nesta época eu vi o grande poder que, como uma nuvem de uma praga de insetos, se adensou sobre o mundo tingindo-o de negro. Nem havia mais noite, só escuridão.
Não fosse meu sangue eu estaria esgotada. A mim e as arvores que nasceram e se alastraram por grandes planícies para alimentar aqueles que sofreram com a escuridão.
Dez mil anos se passaram...
Eu posso ser vista de outros continentes e até do espaço além do céu. Todos me chamam História, por ser o ser vivo mais Antigo do mundo e sei tudo o que se passou ao longo das eras.
Minha magia sobreviveu aos milênios, como pude ver depois. O que eu via através do vento podia transmitir ao povo alado, a nova raça escura que foi engendrada da escuridão, que recontam aos bravos as tramas secretas dos Escravos da Noite.
Agora vivo no apogeu da Escuridão. Os remanescestes do antigo povo nativo se reerguem para extirpar o Véu. Preocupado, a Força Estranha, começa a mostrar sua face. Os Cavaleiros de Sépia, sumidos por vários milênios, retornaram.
Mas vi numa noite mais escura que as outras, a Espada Negra Ramificada que o deus antigo criara do caos silencioso no espaço sideral para exterminar os intrusos que saíra do Caos e invadira sua morada neste mundo no começo da primeira era.
Quando ele expurgou as criaturas vindas de estrelas distantes levou a espada para o espaço do qual ela fazia parte, pois era escura como ele, para vagar pelo Universo por varias eras e retornasse ao chamado de sua verdadeira utilidade: a guerra contra o Caos.
Foi do povo alado que vi as frágeis mãos que iam empunhar a Espada Sagrada: a escuridão contra a Escuridão...
Eduavison Dom Obliterum
19/03/2009