CONTOS RAIVOSOS 2. SUICÍDIO

Estou, nestas horas, a refletir (profundamente) sobre a pulsão ao suicídio que cheiro nesta Terra. Não são todos os galegos os que a padecem, mas aqueles que se estimam melhores. Também não é suicídio da vida física: essa acaba antes ou depois e a alma continua a viver soberana e feliz noutras esferas, como ensinam quase todas as religiões.

Na Galiza essa crença não é religiosa, de adoração a um só deus, mas panteísta, de confiança no Universo, Mãe e Pai e Família total de cada indivíduo galego. Talvez (pensam os galegos) o Universo seja como o útero materno-paterno de toda a Humanidade, mas não é de todo certo. Porque o que com toda a certeza pensam os galegos é que são galegos, humanos cabais, todos os que pensam como galegos, quer dizer, os brasileiros e os portugueses, antes de mais, e também os angolanos e os moçambicanos e os são-tomenses e os caboverdianos e os guineenses e os timorenses...

Mas o conto não é por aí que vai. O conto, como acima anunciei, atinge aos "melhores" galegos: tristemente (que os deuses e os galegos, quer dizer, os galegos, os portugueses, os brasileiros... me perdoem) esses "melhores" se acham (perdoem-me, peço, suplico!) contaminados pela "figaldidade" castelhana, aliás, dominante desde Madrid nesta Terra, desde a qual escrevo.

Como é que ouso barafulhar tamanha blasfémia? Pois não sei e sim sei: Vejo-os invejosos demais das maneiras espanholas ou madrilenas (tanto tem!), seguros de si, mas pouco debruçados a fazer o que cumpre fazer.

Mas o conto? Aguardem, tenham paciência, que tudo chegará à sua hora. Fique este texto como prefácio. Mais adiante será o relato, o conto, tão triste como verdadeiro, tão digno de ser raivosamente contado que devo tomar um repouso para achar o pouso conveniente.

Até então, recebam, minhas senhoras e meus senhores, um cordial e amável beijo de despedida e esperança.