O CÉU COMO TESTEMUNHA


 Foi numa noite limpa e silenciosa que aquela fumaça estranha subiu ao céu e que o grito foi ouvido do outro lado da mata, onde a estrada curvava, antes de novamente, em reta, chegar ao povoado.
O que se sabia era que haviam muitas estórias de almas penadas de cangaceiros mortos pelas volantes da polícia naqueles sertões.
Fuzilarias que duravam dias, mas foi um só grito naquela noite, não acreditavam ter havido um combate
pelos lados de lá do matagal, o dia revelaria o acontecido.
10 estacas cravadas ao lado da estrada, com corpos pendurados, deixaram estupefatos, 5 corajosos moradores que foram verificar o ocorrido.
Sem roupas, cabelos queimados, nada identificava aquelas almas.
Seriam volantes da polícia ou cangaceiros, nenhum conhecido, vieram de longe e ali estavam estaqueados
para sempre.
O povoado ficou absorto e silencioso, mas enterrou os despojos, ali mesmo ao lado da estrada.
Por muito tempo, a pergunta se repetia de boca em boca, quem matara aqueles homens?
Nenhuma resposta, nenhuma pista, mas havia uma dúvida no ar: Uma volante era composta de 20 elementos, um bando de cangaceiros de uns 20 também, ora, ali eram 10 "cabeças"...
Guerrearam, mataram-se e fugiram...um lado venceu, era o que pensavam.
Mas a mesma luz que trazia um mistério à cabeça daquela gente, trouxe naquela noite,  a figura negra de um cavaleiro que cruzou a cidade como um bólido vindo do além...
A boca pequena dizia-se que o Demo veio buscar alguém...
O silencio absoluto naqueles confins foi quebrado por leve burburinho quando no alto do morro, uma luz dançava,
e com certeza os observava.
Um desesperado jovenzinho, saiu correndo de seu casebre e enveredou para os lados do capão de mato, quando estava no alto, apagou-se a luz que era vista, e aos olhos de todos, uma bola de fogo rolou morro abaixo com gritos alucinantes...
Choros, rezas, mas um consolo, ja levaram o que vieram buscar...pensaram.
Para os lados de lá do matagal, o silencio sinistro...
Os 700 moradores intrincheirados nas suas casas não moviam-se.
A meia noite como uma dança sinistra as chamas voltaram e podia-se ver a cada 5 metros uma luz, posicionando-se em zig-zag, em todo o contorno do povoado.
A singela vida daquela gente nunca suporia tamanha selvageria, e poucas eram as armas no povoado.
Durante 2 horas foram despejados milhares de projéteis sobre a população desarmada.
Muitos corriam para aproximarem-se dos algozes, para pelo menos verem seus rostos, mas caíam despedaçados pelos obuses enfurecidos.
Ja era madrugada e o céu cobria-se de fumaça negra, nada mais vivia naquele pequeno pedaço do inferno.
Um mes antes, uma nota no 27º Batalhão de infantaria na capital dizia o seguinte: Deslocando-se uma volante nas proximidades do povoado, foi atacada e morta por individuos que seguramente habitam aquelas paragens...Seu modo de ação não nos convenceu de que
sem deixarem vestígios, até os moradores locais iludiram...o local deve, sem domora ser atacado
e que se faça justiça.
A volante foi imobilizada e trucidada enquanto dormiam, ela tinha excepcionalmente 10 homens...
O grito ouvido,  foi dado pelo ultimo cangaceiro a deixar o local aquela noite...


Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 18/03/2009
Reeditado em 28/07/2010
Código do texto: T1493477
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