Desafio Literário - A Loucura do Fantasma - Uma história de terror

Desafio Literário: A Loucura do Fantasma

Uma história de terror

suzabarbi@hotmail.com

Há mais de seiscentos anos, ele era o pavor da casa da Rua Seis.

Um palacete há muito abandonado pelas histórias contadas pela vizinhança de barulhos estranhos e gritos bestiais, que aconteciam todas as madrugadas ali.

Nas noites de lua cheia, os portões, sempre trancados com pesados cadeados, se abriam e batiam fortemente no alto muro de pedra que cercava o velho casarão.

Casas por perto não mais existiam.

Ninguém podia suportar o terror que o palacete assombrado espalhava.

Ficava no alto de uma colina.

Abandonado.

Sozinho.

À mercê dos sons fantasmagóricos que dele emanavam todas as noites.

Na vila, para onde se mudaram os moradores mais próximos do casarão, corria o boato que ali morava um antigo cavaleiro chamado Sir Francis Avagnon.

Moço de fina estampa, acostumado com os modismos da corte, onde era recebido pelas mais educadas e casadoiras raparigas.

Era ele o alvo do olho casamenteiro das mais importantes famílias da região.

Bonito, esbelto, ágil com a espada, tinha Sir Francis um pequeno problema: preferia os livros às mulheres.

Passava dias na biblioteca do palacete, lendo ou escrevendo versos.

Aos anos, foi-se acumulando de livros, que já formavam uma das bibliotecas mais valiosas de todo o condado.

Seus pais, perdidos na tristeza de ver jovem tão talentoso, mas tão arredio e avesso às formalidades da sociedade, empenhavam-se em levar até o casarão as mais lindas candidatas ao altar.

Sir Francis ouvia-lhes o piano, ensaiava um bocejo, pedia-lhes licença e ia se refugiar no seu universo preferido: a biblioteca.

E assim passaram-se tempos até que o nosso jovem completou 20 anos.

Os pais não podiam perder a oportunidade de oferecer às tradicionais famílias do reino festa de mil talheres.

Seriam convidadas as mais lindas moçoilas da região.

No dia, uma fileira de serviçais postou-se à frente do palacete para receber as carruagens trazendo os mais altos líderes do governo da corte e suas lindas filhas.

Sir Francis fazia cara de tédio ao beijar cada mão e se contorcia, torcendo para que tudo aquilo terminasse para que ele pudesse voltar ao seu mundo preferido, a biblioteca.

Entre uma valsa e outra, ao tilintar do champagne que borbulhava em taças de cristal, Sir Francis prestou atenção numa linda rapariga, escondida no fundo do salão.

Ao ver que tão lindos olhos azuis perceberam que os dele a reparavam, meteu-se mais para dentro do salão, fugindo-lhe do alcance.

Ele, mais que depressa, declinou-se da dança com senhorita Laura e correu atrás daqueles olhos azuis tão assustados.

Foi encontrá-los a ponto de verterem lágrimas, ao lado da lareira, como um bichinho acuado.

Pelas roupas, Sir Francis percebeu que não se tratava de uma das finas senhorinhas, que desfrutavam da festa de olho num bom partido, no caso, ele.

Vivian, a linda dona dos olhos azuis, era dama de companhia de senhorita Rose Roth, filha do mais abonado e poderoso homem da corte.

A partir daquele dia, Sir Francis não se cansava de procurar senhorita Rose, com a intenção de encontrar-se com a linda Vivian.

As famílias, muito felizes, aprovavam com júbilo o interesse do jovem em tão prendada senhorita.

Mal sabiam que o coração dele batia fortemente pela dona dos olhos azuis, a quem conseguia ver de longe, sempre ruborizada percebendo suas atenções.

Não demorou muito e eles caíram em verdadeira paixão.

Paixão escondida, claro.

Sir Francis sempre conseguia se furtar por alguns minutos da companhia de senhorita Rose e corria a se encontrar com Vivian, que o esperava cheia de paixão.

Mas aquele amor não estava fadado a ser feliz.

Um dia descobertos, Vivian foi exilada para outro país bem distante, onde veio a falecer enfraquecida pela paixão.

Ao saber da morte de sua amada, Sir Francis não suportou tamanha dor e enfiou uma espada no peito, deitando sangue ao chão, no mesmo lugar onde vira, pela primeira vez, a dona do seu coração.

Os pais de Sir Francis, desgostosos, passaram a propriedade à frente.

Mas ninguém suportava ouvir, todas as noites, um choro infeliz e ruidoso nas noites do palacete.

Com o passar dos anos, o choro se transformou em gritos.

Bastava alguém se aproximar da biblioteca que livros saíam disparados das estantes contra o visitante.

O palacete ficou mal assombrado.

Mais de setecentos anos depois, uma ruidosa família resolveu comprar o palacete e reformá-lo, mesmo sendo avisada de que ninguém suportou ficar naquele lugar.

- Coisa de folclore. Fantasmas não existem. O homem explicava para a mulher e seus dois encapetados filhos.

Reforma pronta, a família mudou-se para o casarão.

Na primeira noite, o filho mais velho acordou sobressaltado.

Tinha alguém no quarto.

Acordou o irmão, que já foi logo xingando.

- Pô! Tô com sono! Vê se não me enche!

- Tô falando sério, Lee. Tem gente no quarto.

- Não amola, Jamie!

- Acende a luz então. Vai lá. Anda!

Lee levantou a cabeça do travesseiro e nem precisou acender a lâmpada para ver um vulto branco com barbas enormes flutuando sobre o quarto.

- Não tem ninguém, Jamie. Apenas um lençol flutuante com barba por fazer.

Jamie pegou o travesseiro e mandou em cima do vulto.

Um fantasma incrédulo saiu correndo do quarto achando que ele é que estava vendo fantasma.

No dia seguinte, achou melhor caprichar no susto.

Passou a mão numa corrente de ferro antiga e bem ruidosa.

No caminho dos quartos, foi rangendo aquele pesado fardo pelo casarão inteiro.

Foi surpreendido pelo marido de pijamas listrado no meio da escada:

- Se quer ficar arrastando essa coisa a noite inteira, por favor vê se passa um óleo nela. Com esse barulho, você vai acordar a casa inteira.

Voltou-lhe as costas e foi dormir.

- Mas o quê é isso? Um complô contra os fantasmas? Pensou a alma penada.

Onde já se viu tratar um fantasma assim.

Eles hão de ver comigo!

Nos dias que se seguiram, o fantasma chamou os amigos.

Fizeram uma reunião.

Daquele jeito é que não podia continuar.

Estavam sendo ridicularizados e isso não podia ficar assim. Nomearam uma comissão para redigir passo a passo as novas formas de assombrar.

E partiram para a ação.

Naquela noite, ruidosos, fantasmagóricos, horrorosos invadiram o palacete.

Foram recebidos com uma guerra de travesseiros.

Os amigos de Lee e Jamie passavam o final de semana na casa.

Juntos, eram imbatíveis.

De madrugada, um bando de fantasmas tristes e desbotados choravam no porão.

Foi quando um jovem vestido de luz, num cavalo branco, tendo uma linda senhorinha de olhos azuis na garupa, invadiu o porão e disse:

- Vamos embora, papai. Chega de fazer arte. São séculos enchendo a paciência daqueles que querem dormir. Já para casa!

E ele, velho e cansado, obedeceu.

Já não se fazem mais fantasmas como antigamente...

Desafio literário feito por Josadarck e Álvaro Luís meu grande companheiro recantista! Um autor, tal qual Sir Francis, de fino trato.

Álvaro Luís: http://www.recantodasletras.com.br/contosinsolitos/1483831

Maith:

http://www.recantodasletras.com.br/contossurreais/1528893