A FACE DO INFERNO

Mais um ano estava terminando e aquela turma estava formando-se finalmente.
Mas não era o que poderia ser chamada de uma turma exemplar, tinha suas ovelhas negras.
Era o dia em que iriam viajar, na verdade uma viagem de formatura. O dinheiro arrecadado durante o ano seria suficiente para uma viagem de 500 km, até o litoral.
06:00 horas da manhã... Ainda faltavam alguns, provavelmente a turminha que passava as noites nas baladas, bebendo e consumindo drogas.
06:40 e la vinham eles, com suas mochilas e prontos para a "farra".
A saída foi como se houvesse aberto um viveiro de periquitos, balbúrdia, esculhambação, anarquia na melhor definição.
O unico adulto era o motorista do ônibus, pois os professores, responsáveis, foram antes em carros
particulares.
Nada era controlável, nem bebidas, nem cigarros e nem a covardia de alguns alunos que jogavam objetos pelas janelas no intuito de acertar algum transeunte distraído.
20 minutos de viagem e ja preparavam-se para sair da cidade, quando um aluno jogou uma pedra num grupo de pessoas paradas numa esquina.
Foram 10 segundos entre a viagem do objeto ao alvo, o sangue a escorrer na fronte da vítima e o retorno do aluno
à poltrona, como se aquele gesto fosse uma atitude corriqueira, como o respirar.
Nenhuma atitude, nenhuma comoção, nenhum remorso, apenas a festa que continuava.
A uns 50 km da cidade numa reta entre as montanhas, deslizava o veículo e a algazarra continuava, quando no retrovisor do ônibus, pela primeira vez o motorista avistou aquele Simca Chambord negro.
Era de um negro metálico imponente, um desenho em forma de raio, na cor bege, lhe decorava o capô e 2 listras laterais na mesma cor.
Desapareceu e 10 minutos depois como um fantasma, e dos lugares onde deveriam estar os faróis, cuspiu duas rajadas de projéteis em direção ao ônibus.
Devido a altura em que foi atingido, não acertou nenhum estudante, era apenas um alerta.
Olhos esbugalhados, nervosos e silencio absoluto...Uma respiração ofegante perguntou:
O que está havendo motoristaaaaaa?
Não sei, deitem no chão, respondeu ele.
Por 6 vezes o Simca emparelhou com o ônibus, ultrapassou e posteriormente foi ultrapassado por este.
Era um jogo de paciencia, em que o vidro extremamente escuro do simca, escondia o olhar dos jogadores.
O suor do motorista e o desespero lhe punha em alerta absoluto, de onde viria o ataque, perguntava-se enquanto rezava em voz alta.
Passara o pobre condutor por vários apertos nessa vida, não merecia tal sofrimento, Deus teria pena dele, pediu.
No chão do ônibus, conjecturas do que teria provocado a ira dos viajantes do Chambord.
Nada de concreto, apenas torciam para que surgisse um posto de combustível ou comunidade para abrigarem-se.
E pela décima vez o Simca emparelhou com o ônibus, salientaram-se a uns 50 centímetros a frente do veiculo as duas bocas de fogo e inclinaram-se para a direita, para o ônibus...
A fuzilaria que se seguiu fez o veículo virar um açougue....Enfileirados, os projéteis atingiram, de um palmo acima dos pneus até o teto do ônibus, e da porta de entrada para tráz
Gritos de horror e pedidos de socorro era o similar contrário da algazarra da saída.
Quase todos os alunos foram atingidos pelos poderosos projéteis .30 mm da Simca.
Dor, raiva e o inexplicável a os olhar de dentro daquele carro negro.
Obra de Deus...,ninguem soube dizer, mas o motorista não foi atingido.
No alto da serra ao lado de um despenhadeiro, diminuindo a velocidade, o motorista num ato desesperado, jogou o veiculo no acostamento parou, abriu a porta e pulou.
Caiu numa grama alta e não feriu-se, correu e jogou-se de outra lado da pista, oposto ao lado onde agora encontrava-se o ônibus, escondendo-se.
O simca aproximou-se e encostou  atraz do ônibus....Pelo lado direito alguem entrou no ônibus e deu a  partida...lentamente o veículo encaminhou-se para o lado da pista e devagar foi sumindo aos olhos do motorista escondido.
Um barulho ensurdecedor de lataria amassada e gritos ecoaram na serra e por fim o cheiro ocre de pneu queimado subiu do fundo do precipício, dando a dimensão da tragédia.
O vidro ao lado do motorista do Simca baixou e um rosto ensanguentado se fez ver...
Há 2 horas atraz este rosto estava ao lado de uma avenida, conversando com amigos e do nada surgiu um objeto que lhe atingira a fronte e por conseguinte lhe cegara.
Pela ultima vez o ronco surdo do Simca Chambord 8 cilindros foi visto pelo motorista...
Desapareceu como surgiu...Apenas veio para confirmar que a tragédia não foi uma causa, mas sim o efeito que a causa proporcionou. 
Certamente, indiscutivelmente, o inferno é aqui...

Malgaxe
Enviado por Malgaxe em 06/03/2009
Reeditado em 28/07/2010
Código do texto: T1472249
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