Cidadezinha estranha
Quando Ariel viu o edital sobre um Concurso Público em sua área, tratou logo de fazer a inscrição. Era médico-cardiologista e recém-formado viu no concurso a possibilidade de se firmar na profissão. Depois das provas, o resultado: havia sido aprovado em primeiro lugar.Felicíssimo, em pouco tempo se mudou com a mulher para o novo endereço:uma cidade do interior pouco conhecida.
Com uma semana instalados, Soninha, esposa de Ariel, se esforçava em fazer amizades junto às mulheres da região, mas tudo em vão. Elas a tratavam com desdém e estavam sempre reclusas em suas moradias.
Achou muito estranho o hábito dos comerciantes da região: só abriam depois do meio-dia: bancas de jornal, padarias, lojas de roupas.Só mesmo o Hospital em que Ariel trabalhava fugia à regra.
Enquanto o marido trabalhava, Soninha passava seus dias sozinha em casa, vendo televisão e se lamentando por ter largado seu emprego de chef de cozinha.Se gostassem da cidade e se tudo desse certo, ela pensava em abrir um restaurante, mas por enquanto tudo era uma ideia muito vaga na cabeça dela.
Outra coisa que dificultava a adaptação da ex-chef era o horário de trabalho do marido: novo, trabalhava às vezes durante o dia, outras vezes à noite.Era um suplício de que só ela se queixava.
Estava mexendo na sua horta de ervas finas que fizera para se distrair, quando o vizinho do lado aparece: pela primeira vez um morador havia lhe procurado por livre espontânea vontade.Ele não era como os outros que se esquivavam dela: ele era muito simpático, muito sedutor com as palavras.Sentiu um frio percorrer-lhe o corpo quando se aproximou dele, ainda pelo muro baixo para conversarem: era como se o inverno tivesse chegado naquele momento , de repente. Pensou estar com febre, mas logo o marido chegaria em casa e pediria a opinião dele sobre o sintoma.
A partir de então, sempre que o marido não estava, ela conversava com o vizinho pelo muro.Se não fossem pelos calafrios desagradáveis que sentia na presença daquele homem, diria que a conversa era muito agradável.Além de bonito, era muito culto.
Ariel não escondia o ciúme desta relação entre vizinhos, mas ao mesmo tempo, confiava na mulher e sabia que o homem misterioso era a única companhia da esposa em sua ausência.
Era sexta-feira à noite quando Ariel recebe um telefonema e avisa a esposa que terá que dar um pulo no hospital.Dizendo que não demoraria, despediu-se da mulher que apanhava na dispensa os ingredientes para preparar o jantar.
Picava algo na tábua de carne quando viu um vulto passar pela janela rapidamente.Deu um grito, mas com um resto de coragem foi ver o que era. Viu a fera se aproximar: dentes afiados, babava e rosnava, circulando pela sala, bem diante dos seus olhos.O cão era enorme, negro, amedontrador.Não sabe como consegui ligar para o vizinho pedindo ajuda.
O vizinho chegou e com ele a sensação de frio aumentou. Soninha não sabe do que mais sentiu medo: do cão enorme que estava prestes a atacá-la e devorá-la, ou do olhar que ele lançou para o animal, fazendo-o choramingar como um filhotinho longe da mãe.Desapareceu como um passe de mágica diante dos olhos da mulher que estremeceu de medo.
Correu para os braços de seu herói, mas assim que o tocou, sentiu a frieza de sua pele.Afastou-se num repelão, apavorada.Seu coração estava aos pulos, suava e chorava:
- Aquilo não era um cachorro....você não é humano, meu Deus, o que está acontecendo? – entre soluços.
- Minha linda e delicada Soninha, nunca lhe disseram que não se deve convidar um vampiro para entrar em casa?
Os olhos do vampiro pareciam ter absorvido parte da luz do ambiente. Seus caninos se alongaram.Parecia mais forte. Soninha encostada na parede, temia por sua vida, mas não conseguia ter reação de defesa.
-Corre, Soninha- disse o monstro- prefiro aqueles que lutam em favor de suas vidas.Mas não tenha esperanças: vou sugar todo seu sangue.Há semanas espero por esse momento.
A moça correu por entre os móveis, desesperada, gritando por socorro.A fera parecia perseguí-la de brincadeira, pois sabia que a luta seria desigual.Fatalmente venceria.Soninha corria, mas o vampiro era muito ágil e se punha na frente dela, deixando-a ainda mais histérica.
Cansado da perseguição, o vampiro tomou-a nos braços para aplicar-lhe as presas na jugular , que estava em evidência devido à corrida.Como última tentativa de se salvar, Soninha empurrou o rosto da fera com as duas mãos. Como por milagre, a fera a largou nervosamente, perturbado. E antes que conseguisse se refazer, sentiu um golpe em seu peito animal: era Ariel, que havia acabado de cravar-lhe o martelo de carne feito em madeira no coração do vampiro, que caiu gritando no chão, transformando-se em névoa segundos depois.
-Você está bem querida?
-Sim, graças a Deus, a você... Ai meu Deus, o que foi isso?
- Não faço ideia...Vamos embora dessa cidade.Não fico aqui nem mais um dia!
Entraram no carro e deixaram a cidade estranha para trás.Apanharam somente documentos e pequenos objetos de valor sentimental.Já na estrada, Ariel dirigia, mas a fome lhe incomodava.Não havia comido nada no trabalho e contava com a refeição preparada pela amada esposa.Para esquecer o terror passado há minutos atrás, perguntou à Soninha:
-A propósito, meu bem, o que você preparava mesmo para o jantar quando o cão apareceu?
- Macarrão ao alho e óleo.
(Maria Fernandes Shu - 07 de fevereiro de 2009)
Quando Ariel viu o edital sobre um Concurso Público em sua área, tratou logo de fazer a inscrição. Era médico-cardiologista e recém-formado viu no concurso a possibilidade de se firmar na profissão. Depois das provas, o resultado: havia sido aprovado em primeiro lugar.Felicíssimo, em pouco tempo se mudou com a mulher para o novo endereço:uma cidade do interior pouco conhecida.
Com uma semana instalados, Soninha, esposa de Ariel, se esforçava em fazer amizades junto às mulheres da região, mas tudo em vão. Elas a tratavam com desdém e estavam sempre reclusas em suas moradias.
Achou muito estranho o hábito dos comerciantes da região: só abriam depois do meio-dia: bancas de jornal, padarias, lojas de roupas.Só mesmo o Hospital em que Ariel trabalhava fugia à regra.
Enquanto o marido trabalhava, Soninha passava seus dias sozinha em casa, vendo televisão e se lamentando por ter largado seu emprego de chef de cozinha.Se gostassem da cidade e se tudo desse certo, ela pensava em abrir um restaurante, mas por enquanto tudo era uma ideia muito vaga na cabeça dela.
Outra coisa que dificultava a adaptação da ex-chef era o horário de trabalho do marido: novo, trabalhava às vezes durante o dia, outras vezes à noite.Era um suplício de que só ela se queixava.
Estava mexendo na sua horta de ervas finas que fizera para se distrair, quando o vizinho do lado aparece: pela primeira vez um morador havia lhe procurado por livre espontânea vontade.Ele não era como os outros que se esquivavam dela: ele era muito simpático, muito sedutor com as palavras.Sentiu um frio percorrer-lhe o corpo quando se aproximou dele, ainda pelo muro baixo para conversarem: era como se o inverno tivesse chegado naquele momento , de repente. Pensou estar com febre, mas logo o marido chegaria em casa e pediria a opinião dele sobre o sintoma.
A partir de então, sempre que o marido não estava, ela conversava com o vizinho pelo muro.Se não fossem pelos calafrios desagradáveis que sentia na presença daquele homem, diria que a conversa era muito agradável.Além de bonito, era muito culto.
Ariel não escondia o ciúme desta relação entre vizinhos, mas ao mesmo tempo, confiava na mulher e sabia que o homem misterioso era a única companhia da esposa em sua ausência.
Era sexta-feira à noite quando Ariel recebe um telefonema e avisa a esposa que terá que dar um pulo no hospital.Dizendo que não demoraria, despediu-se da mulher que apanhava na dispensa os ingredientes para preparar o jantar.
Picava algo na tábua de carne quando viu um vulto passar pela janela rapidamente.Deu um grito, mas com um resto de coragem foi ver o que era. Viu a fera se aproximar: dentes afiados, babava e rosnava, circulando pela sala, bem diante dos seus olhos.O cão era enorme, negro, amedontrador.Não sabe como consegui ligar para o vizinho pedindo ajuda.
O vizinho chegou e com ele a sensação de frio aumentou. Soninha não sabe do que mais sentiu medo: do cão enorme que estava prestes a atacá-la e devorá-la, ou do olhar que ele lançou para o animal, fazendo-o choramingar como um filhotinho longe da mãe.Desapareceu como um passe de mágica diante dos olhos da mulher que estremeceu de medo.
Correu para os braços de seu herói, mas assim que o tocou, sentiu a frieza de sua pele.Afastou-se num repelão, apavorada.Seu coração estava aos pulos, suava e chorava:
- Aquilo não era um cachorro....você não é humano, meu Deus, o que está acontecendo? – entre soluços.
- Minha linda e delicada Soninha, nunca lhe disseram que não se deve convidar um vampiro para entrar em casa?
Os olhos do vampiro pareciam ter absorvido parte da luz do ambiente. Seus caninos se alongaram.Parecia mais forte. Soninha encostada na parede, temia por sua vida, mas não conseguia ter reação de defesa.
-Corre, Soninha- disse o monstro- prefiro aqueles que lutam em favor de suas vidas.Mas não tenha esperanças: vou sugar todo seu sangue.Há semanas espero por esse momento.
A moça correu por entre os móveis, desesperada, gritando por socorro.A fera parecia perseguí-la de brincadeira, pois sabia que a luta seria desigual.Fatalmente venceria.Soninha corria, mas o vampiro era muito ágil e se punha na frente dela, deixando-a ainda mais histérica.
Cansado da perseguição, o vampiro tomou-a nos braços para aplicar-lhe as presas na jugular , que estava em evidência devido à corrida.Como última tentativa de se salvar, Soninha empurrou o rosto da fera com as duas mãos. Como por milagre, a fera a largou nervosamente, perturbado. E antes que conseguisse se refazer, sentiu um golpe em seu peito animal: era Ariel, que havia acabado de cravar-lhe o martelo de carne feito em madeira no coração do vampiro, que caiu gritando no chão, transformando-se em névoa segundos depois.
-Você está bem querida?
-Sim, graças a Deus, a você... Ai meu Deus, o que foi isso?
- Não faço ideia...Vamos embora dessa cidade.Não fico aqui nem mais um dia!
Entraram no carro e deixaram a cidade estranha para trás.Apanharam somente documentos e pequenos objetos de valor sentimental.Já na estrada, Ariel dirigia, mas a fome lhe incomodava.Não havia comido nada no trabalho e contava com a refeição preparada pela amada esposa.Para esquecer o terror passado há minutos atrás, perguntou à Soninha:
-A propósito, meu bem, o que você preparava mesmo para o jantar quando o cão apareceu?
- Macarrão ao alho e óleo.
(Maria Fernandes Shu - 07 de fevereiro de 2009)