A LENDA DO HUMANO
-Paaaiiii !!!!! Olha a Helena de novo pai !!!! – gritou a garotinha.
-O que foi desta vez, Lara? O que sua irmã fez? – perguntou o pai irritado.
-Ela está me assustando de novo. Está falando dos seres humanos que vêm me pegar de dia pai. Ela disse que eles nos envenenam com alho, jogam a gente em água corrente até derreter, nos queimam no sol e ainda enfiam estacas no nosso coração. Estou com medo, pai! Não quero dormir sozinha não. Quero ficar com você e com a mamãe. Vou ficar no caixão de vocês.
-Heleeennnaaaa !!!! – gritou o pai vampiro, chamando a filha adolescente.
-O que foi pai? Qual o problema dessa vez?
-Você sabe muito bem mocinha. Que negócio é esse de ficar assustando sua irmã? Você sabe que ela tem medo dessas baboseiras de terror. Por que você faz isso?
-Ah pai. Ela já é bem grandinha para acreditar nisso, né? Vê se pode, na idade dela eu já queria cravar os meus dentes sozinha em algum bicho-homem que a gente tem no pasto ou até mesmo caçá-los nas florestas.
-Deixa de história, Helena! Você sabe muito bem que ninguém faz isso. Você está pensando o que? Que é alguma selvagem é? Hoje em dia conseguimos tudo nos mercados, bem prático. Você não saberia abater um humano agora, quanto mais na idade da Lara. Por falar nisso, passarei no mercado antes do amanhecer, já estamos ficando sem O positivo.
-Pai, a Helena disse que os humanos conseguem pensar e até mesmo se misturam entre a gente para nos confundir e enganar.
-Não escute sua irmã, minha morceguinha. Ela está só querendo te assustar. O bicho-homem é criado nos pastos para nos alimentar, o sangue deles é retirado nas fazendas e distribuído nas industrias onde é separado e engarrafado. Então, é enviado para os mercados para que possamos comprá-los. Venha, coma um bolinho de plaqueta e vá para o seu caixão. Não se preocupe porque eles não pensam e muito menos se misturam entre nós para poder nos fazer mal.
-Está bem pai, bom dia!
-E você hein, dona Helena ...
-Ah, pai! Não esquente! Pai, por falar nisso, eu vou sair com a Ingrid, com o Ivan e o Jean, nós iremos naquela boate nova e devo chegar durante o dia...
-Helena, você sabe que é perigoso durante o dia. Você quer virar torrada, é?
-Não se preocupe, pai. Eu já passei aquele super protetor solar, mas se o sol estiver bastante forte, nós voltaremos pelo túnel, o pedágio é bem caro, mas o Jean é rico, ele pode pagar. Eu não sou uma vampira de sorte?
-É, deve ser sim. Quando é que ele virá aqui?
-Ah, pai, a gente está se conhecendo ainda. Ele quis vir, mas eu não deixei, está muito cedo ainda.
Os dois casais foram para o “DAY” e se divertiram como nunca. Dançaram, comeram, beberam todas, como se diz por aí. Coquetéis de hemácias, drinks suaves com glóbulos brancos, misturaram sangue tipo B com O negativo. Já tarde do dia, resolveram ir embora. Ingrid e Ivan em um carro e Helena e Jean em outro. Este jovem, por sinal, pagou as despesas de todos na boate e pagou, também, o pedágio no túnel expresso para os dois carros, para que todos pudessem chegar em suas tocas em segurança.
Feliz da vida, a amiga Ingrid vira-se para seu namorado Ivan e comenta:
-Sabe, Ivan, a Helena é uma vampira de sorte mesmo, o Jean é um vampiro incrível.
Enciumado o rapaz comenta:
-Puxa, e você não vampirinha? Eu sou um morcego legal...
-Claro que é Ivan! E eu tenho muita sorte também por ter você. Só estou comentando isso porque gosto de ver minha amiga bem, embora ela pegue muito no pé da Larinha, coitada, ela fez a vampirinha chorar sangue na noite passada com a história dos humanos que nos caçam.
-Ah, mas tenha dó né, Ingrid? Hoje em dia as crianças não acreditam mais nessas historinhas de terror, coisas que não existem, né?
-Claro que não, essas coisas não existem...
Se Ingrid tivesse prestado um pouquinho de atenção no carro dos amigos, teria percebido que este havia pego uma saída de emergência no túnel lacrado, a qual dava direto para o espaço aberto, com o sol fervendo. Teria reparado também na água benta que queimava no rosto de Helena, atirada por Jean, que se preparava lentamente, retirando uma estaca afiada de dentro do sobretudo...