QUANDO O TERROR LHE VISITA

Existem pessoas que não acreditam em nada sobrenatural, e são essas pessoas que mais se aterrorizam quando dão de cara com algo do tipo. Camilo era uma dessas pessoas, desde cedo deu a si mesmo o título de “cético”, para ele não havia palavra mais bonita. Era cético com relação a tudo, sempre precisava das mínimas provas para aceitar algo como verdadeiro e tinha sempre na ponta da língua uma explicação científico-psicológica para qualquer evento de que ouvisse falar, isso quando não acusava quem havia tido a experiências de ser um mentiroso.

Estava ele certo dia em sua cama ouvindo em seu mp4 player uma música qualquer de sua banda favorita, cantarolava baixo e mexia a cabeça, seu quarto tinha as luzes apagadas para o clima ficar melhor. De repente ouviu um barulho:

Clack.

Não soube identificar por causa do volume do som, acabou tirando o fone do ouvido e ficando atento olhando para os lados.

Deve ser coisa da minha cabeça, pensou. Pegou novamente os fones para colocar no ouvido quando o som saiu novamente:

Clack.

Dessa vez não havia dúvida, era como alguém chamando um cachorro, não, era um clique. Ele só podia estar sonhando, não acreditou naquilo.

--- Isso não existe – Falou em voz alta como se quisesse convencer alguém invisível do que estava falando.

Imediatamente o som foi feito novamente, de forma bem brusca e rápida como se o autor do mesmo estivesse querendo deixar Camilo plenamente convencido de que realmente existia:

--- Clack.

A saliva congelou na boca do garoto. Não, isso não estava acontecendo. Por um momento ele ficou paralisado em sua cama, contemplando a escuridão como se esperasse ver algum movimento. Eu preciso levantar, preciso, preciso acender a luz. Mas seus membros não respondiam, passou-se cerca de dois minutos nisso, o som não se repetiu, e então ele conseguiu reunir coragem e se pôs de pé.

Assim que sentiu o chão gelado em contato com a sola dos pés, ouviu novamente o barulo.

Clack.

Estava entre ele e a janela, mas não estava entre ele e o interruptor da luz. Preciso chegar até a luz, preciso chegar até a luz. Correu, apesar do quarto ser pequeno o espaço parecia tão longo que ele se jogou em cima do interruptor para ligar a luz assim que estava próximo o suficiente para isso.

Pronto.

O alívio invadiu seu corpo. Ficou ali agarrado com a parede branca olhando o interruptor e sorrindo. Ia se virar novamente para voltar a se deitar quando ouviu de novo.

Clack.

Dessa vez o efeito foi muito mais devastador. Ele não ousou voltar-se, o simples medo que o invadira havia se tornado um desespero sólido e palpável que o sufocava. A porta ficava ao lado do interruptor, e ela agora lhe parecia a entrada do céu, precisava abrir a porta.

Clack

A porta, a porta, sua mão moveu-se.

Clack, agora estava mais próximo.

Tocou a maçaneta. Não girava, alguém havia trancado a porta, mas quem? Quem?

Clack, estava se movendo até ele.

Gritar, precisava gritar e pedir socorro, tentou, bem que tentou, mas todas as palavras haviam fugido, todos os sons, seu desespero era intenso, mortal e silencioso.

Clack. Faltava menos de um metro até ele.

Só restava uma coisa, se vira e encarar aquilo, seja lá o que fosse.

Clack.

Foi virando, logo sua visão periférica captou a forma daquela coisa, não era um fantasma, era algo pior muito pior. Sua mente simplesmente não aceitava que aquilo pudesse existir. Sua sanidade estava se esvaindo como água descendo um ralo. Iria matá-lo, tinha certeza. Aquilo iria matá-lo. Mas ele não conseguia olhar, simplesmente não era capaz nem mesmo de ver de relance aquela monstruosidade. Podia sentir a morte se aproximando. Não ia ter coragem de olhar aquilo, não ia.

Clack. Bem perto dele agora, tão perto que ele sentiu o vento algo achegando-se as suas costas. Ele sempre pensou que a noite era a mãe dos terrores, agora via que não. No claro, aquilo parecia muito mais aterrorizador. Sua vontade lhe faltava, mas havia uma última coisa a fazer. Reuniu suas últimas forças, não conseguia.

Clack. Encostou nele. DEUS. Aquilo estava tocando ele.

Tentou novamente e quase não conseguiu encostar no interruptor, mas por fim deu certo. Apagou a luz, mergulhando nas escuridão. Ele nunca mais duvidaria do sobrenatural na sua vida, pena que ela não duraria mais muito tempo.

Ian Morais
Enviado por Ian Morais em 06/02/2009
Reeditado em 07/02/2009
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