- HALLOWEEN - O CIRCO E A BAILARINA – GISELLE SATO
 
- Está linda, parece uma fadinha!
- Mãe, sou um fantasma, não estou assustadora?
- Claro, eu fiz confusão.  Lá embaixo está uma loucura. Estas crianças duplicam a cada ano.
- Papai, porque o senhor está rindo?
-  Princesa, venha ver o que montamos para sua festa.
Todo o gramado era um imenso parque de diversões. Bandas de bruxinhas  e personagens de contos de fadas:- Veja, é tudo para você. Hoje completa sete anos, estou muito  feliz...
- Papai, é lindo demais! tem a bruxa da Branca de Neve, duendes e um monte de diabinhos....
- Sabe querida,você é nosso pequeno milagre . Dez anos de tentativas e sofrimento.
-  Então, Deus nos abençoou com uma  menina maravilhosa.
- Podemos descer agora, mamãe? Quero brincar...
- Um momento Laila. Tom,  sei que não consegue desgrudar deste laptop.
- Preciso trabalhar mais um pouco. Prometo descer em duas horas, aproveitem a festa...


‘’Halloween’’ . Na pequena cidade americana, passar o dia na fazenda dos  Walker , havia se tornado uma tradição.  
Desde o nascimento de Laila; extremamente ricos, não economizavam esforços.
Haviam  montado uma pequena Disney com os melhores brinquedos. Uma famosa cadeia de ‘’fast-food ‘’servia lanches e oferecia brindes. 

As pessoas corriam de um lado para o outro querendo aproveitar tudo.  
Laila estava cansada de tantos brinquedos e tumulto. Estava ansiosa para fugir dos fotógrafos e filmadoras. Todo ano era um batalhão de gente estranha, a maioria desconhecida.

Tom Walker  era um político. Achava de bom tom, unir o evento ao social. Este tipo de atitude garantia simpatia e votos.

Um pouco afastado, quase despercebido, um pequeno circo exibia: um mágico, dois malabaristas,um palhaço  e cachorrinhos amestrados.
Tudo muito simples e sem público. Foi para lá que a menina resolveu caminhar.
Riu com o velho palhaço e brincou com o mágico. Eles pareciam felizes com a única espectadora.
Findo o espetáculo, um anão simpático,  comandou  a ‘’troupe’’ com rigor: - Vamos logo, desmontem  bem depressa. Precisamos deixar o local em uma hora. Está no contrato.
Laila estava fascinada com o homenzinho, não conseguia tirar os olhos e a babá, ficou preocupada: - Tenha modos! pare de encarar o anão , está na hora do bolo.
A menina não obedeceu e continuou onde estava. A caminhonete do circo já havia saído. Todos os outros serviços estavam desmontando com rapidez.  A babá escorregou em um doce e saiu mancando: - Já volto, não saia daí. Acho que torci o pé.
O homenzinho sorriu e deixou no gramado, uma pequena caixinha. Laila disfarçou e rapidamente, escondeu no bolso da fantasia. Outros empregados já se aproximavam. O anão acenou e foi embora. Sumiu na multidão.
Subitamente, enquanto voltava para casa, a garota sentiu-se triste. Olhou para trás e agora, tendas brancas eram erguidas, mesas e cadeiras espalhadas e a imensa fogueira começava a tomar forma. O grande baile dos pais,  começaria à meia-noite em ponto, após a queima de fogos.
O quarto da menina, estava repleto de presentes e brinquedos. Laila correu para cama e abriu a caixinha. Dentro encontrou um medalhão em uma corrente, forçou um dos lados e este se abriu. A foto de uma mulher sorridente, e o nome gravado: Amélie.
Laila gostou da jóia e da moça do retrato. Resolveu experimentar e ver o efeito no espelho. Não havia reparado no entalhe da peça. Haviam mil desenhos truncados, ponteados de pedrinhas...
De longe a peça brilhava mais ainda, sentiu-se bonita e suspendeu os cabelos. Agora parecia a moça da foto... O espelho começou a parecer um borrão disforme, Laila apertou os olhos, tentando enxergar melhor. O  que havia com aquela imagem distorcida?
Súbito enxergou nitidamente. Era o circo refletido , completamente montado. Não aquele arremedo que os pais impuseram.

 A lona completa, tinha o tamanho de um grande edifício. Tudo  azul escuro, cheio de estrelas prateadas.Bandeirolas coloridas e muitas luzes.
 As carroças dos artistas dispostas ao redor do acampamento. Lentamente, viu  cada um deles de pertinho. As dançarinas, a cartomante, o mágico e os animais. Os trapezistas discutiam o número e todos pareciam ocupados.
Finalmente chegou à  maior carroça. A grande placa indicava o gerente. Não ficou surpresa quando o anão apareceu abriu a porta e fez uma reverência: - Bem vinda querida, gostaria de entrar no meu humilde castelo?
- Você consegue me ver...
- Claro, sou o gerente, preciso tomar conta de todo o lugar.
- Este medalhão é mágico? É isso ou estou sonhando?
- Desculpe. A magia não está na jóia. E a menina não está sonhando...
- Mas então como isto está acontecendo? Você está mentindo!Minha mãe disse que nunca devo falar com estranhos.
- Primeiro, eu nunca minto. E está correta, nunca confie em estranhos. Ainda que dentro de espelhos.
- Nunca mente ? Se eu aceitar seu convite, posso voltar?
- Pode voltar a hora que desejar.
- A curiosidade está me matando de vontade. Vou dar só um passinho e ver se consigo atravessar...
- Claro querida menina, apenas um passo e acabe  com esta dúvida.
Laila entrou no espelho e o portal se fechou. Horas mais tarde, todos os empregados vasculhavam a mansão. A menina não estava em nenhum lugar, havia sumindo completamente. Policiais e investigadores trabalhavam em conjunto.
Walker não falava nada, paralisado, olhando o vazio sem conseguir tomar qualquer atitude:- Senhor, precisamos conversar sobre um circo que não consta da lista de contratados.
- Detetive, não havia circo algum. Fale com o chefe da segurança, tenho cinqüenta homens circulando nesta casa. Nunca contratei nenhum circo. 
- A babá  disse que viu  um anão.  Foi o único artista que chegou mais perto da menina.
- O senhor já viu a lista e falou com meu assessor. Tenho câmeras de segurança, espalhadas por todo lugar. Minha filha sumiu e o que você está fazendo? Encontrem minha filha.
 
 
                         ---- O CIRCO ----
 
Tom Walker não podia falar nada. Tantos anos haviam passado e ele esqueceu a ameaça. Ainda era um rapaz e só queria se divertir. Quando o circo chegou, a moça mais bonita tornou-se motivo de disputas.
 Amélie, era diferente e misteriosa. Flutuava nas cordas, fazia um número belíssimo no trapézio. Atração principal, vivia  cercada de cuidados. Era filha única do dono do circo.
Apaixonaram-se, fugiram e a moça ficou grávida. Tom estava de casamento marcado com a filha do prefeito. Ofereceu dinheiro para o aborto.
Levou uma surra dos primos de Amélie. Naquela noite, alguns amigos de Tom ,  incendiaram o circo. Em poucos minutos;  tudo estava destruído, foram expulsos da cidade com a roupa do corpo. Nunca mais teve notícias da moça e ficou aliviado com o desfecho da situação.
Tom  Walker viajou em lua de mel.  Divertindo-se em Paris; completamente esquecido da tragédia, foi interpelado por um anão bem trajado:- Monsieur , por favor....
- Desculpe , não o conheço.
- Serei breve, sou avô de Amélie. A mocinha do circo que o senhor destruiu.
- Um momento querida, este senhor está me confundindo com alguém. O que deseja? Veio me chantagear? Tarde demais, já estou muito bem casado.
- Imagine, vim apenas avisar que minha pequena está morta. Por sua causa, suicidou-se e está perdida para sempre.
- Eu dei o dinheiro, ela recusou, não tenho culpa. Tenho minha vida, não posso perder tempo com besteiras.
- Sabia que teria esta reação. O senhor não matou apenas Amélie, matou o circo e todas aquelas pessoas. Nós estaremos esperando. E um dia tomaremos seu bem mais precioso.
- Vou me queixar à polícia, sou um homem poderoso e não admito ameaças.
A jovem esposa correu para o marido, estava preocupada com a discussão. O homenzinho desapareceu da mesma forma que surgiu. Walker  contratou detetives, nunca soube do paradeiro do circo e dos empregados.
Os anos passaram e  as lembranças aos poucos, perderam-se no passado.O circo nunca o perdoou. Eles haviam levado Laila,  o bem mais precioso. Sua pequena princesa.
 
               -------A BAILARINA -------------
 
-  Vovô, veja como ando na corda bamba
-  Amélie, você é uma artista nata.
- Quero ser trapezista, como as irmãs da Romenia.
-   Semana passada queria ser domadora. E na outra, estava atrás do mágico.
O homenzinho estava feliz, observando a talentosa bailarina. A velha cigana, sentou-se ao lado do amigo na arquibancada: - Você conseguiu a neta de volta.
- Fico grato se calar a bendita boca e cuidar da sua vida.
- Ela pensa que é Amélie. Não esqueça que não pode mentir para a menina. Faz parte do trato.
- Nunca minto. Apenas omiti que deste lado, não existem lembranças nem passado. E cuidar das lembranças é um dos cargos da gerência. Apenas da gerência.
Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 23/11/2008
Reeditado em 18/12/2008
Código do texto: T1299865
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