Ainda hoje eu sinto toda a dor e o nojo daquelas mãos grandes
e fortes sobre meu corpo.
Sinto seu hálito quente cheirando a bebida barata e meu cor-
po sendo rasgado por sua brutalidade.
Fecho os olhos e as cenas passam lentamente como um pavo-
roso filme de horror.
Me vejo exatamente como a quinze anos atrás, caminhando pe
-la estrada deserta, sinto o cheiro da terra e o som do balan-
çar das copas das árvores.
E lá estava ele caminhando em sentido contrário e no instante
que nossas vidas ocuparam o mesmo espaço de tempo toda a
maldade interna do ser humano se fez presente em minha vi-
da.
Ele nada disse, veio tão somente em minha direção, olhos colé-
rico passos firmes.
Senti a primeira pancada na face, dor e frações de segundos
ele me imobilizou.
Travei uma ardúa luta com meu algoz que insanamente me ba-
tia com mais raiva ainda.
Minha boca tinha o gosto amargo do sangue que jorrava, meu
corpo imobilizado saciava seus instintos animalescos.
Meus cadernos cairam no chão, as capas encapadas com pri-
mor misturado ao chão de terra, folhas que se desprenderam
voando ao léu, minha calegrafia tão caprichada agora um
monte de folhas soltas e sujas.
Naquele matagal a esmo, cheirando mofo ele rasgou minha ca-
misa de garbadine e depois minha saia de pregas.
Demoniaco e absorvido por forças maleficas apreciou meu
corpo diante das minhas súplicas sussurradas.
Mas sua alma vazia de luz não se compadeceu e ele prosseguiu
impondo o terror, violando não somente a minha carne, mas
minha alma e inocência de menina.
Asco foi tudo que senti naquele momento enquanto era violada
rasgada e despedaçada.
Aquele homem grotesco, cruel saciando seus instintos sobre
mim, sem misericórdia.
Tortura de horas que mais pareceram uma vida toda, quando
pensei que ele havia terminado a barbárie ele prosseguiu me
batendo violentamente.
Senti mesmo que naquele momento meus sentidos tivessem co-
meçado a ficar confussos a pedra grande sobre minha cabeça.
A dor latente e aguda ceifou qualquer som de defesa que eu
pudesse libertar.
A única sensação foi a dor latente e o som do impacto daque-
la rocha sobre meu cranio, piiiiiiiiiiiiiiiii enlouquecedor.
Quando recobrei a consciência a lua no céu foi o sinal que a
noite havia caido a bastante tempo.
Atordoada, com dores dilacerantes me arrastei por aquele
mato fético, tentando em vão ajuntar minhas roupas que ago-
ra eram apenas trapos.
Como um animalzinho acuado e assustado fiquei encolhida num
canto da estrada fitando o nada, chorando a dor do abandono
e desalento.
Até que uma camionete parou e um gentil senhor me socorreu.
Desabei em seus braços em prantos palavras não bastavam
para cicatrizar a ferida feita em meu ser.
Para sempre uma cicatriz apaziguada pelo passar dos anos,
mas jamais cicatrizada.
-camomilla hassan-