A Vingança da Noiva
Julia não se continha de felicidade e satisfação. Finalmente, depois de 2 anos de namoro e 1 ano de noivado, finalmente ela desposaria seu amado Derek.
Julia era uma moça romântica. Sonhava com aquele momento há tempos. Vinha preparando as coisas há meses, desde o enxoval ao vestido de noiva – o qual ela namorava todas as noites, provando e se admirando no espelho, ansiosa pelo dia em que entraria na igreja usando-o e mostrando-o para todos. Aquele vestido realmente fora feito para ela, e ela estava certa de que ele lhe daria muita sorte.
Todos ali davam a maior força para aquela relação. Derek realmente era o homem perfeito: bonito, romântico, cavalheiro e, acima de tudo, fiel. Eles foram feitos um para o outro.
Julia vivia com a mãe. Sua irmã Elisa tinha seu próprio apartamento. O pai morrera quando ela e a irmã ainda eram adolescentes e, desde então, sua mãe tomava conta de tudo.
Elisa, sua irmã dois anos mais nova, era o oposto de Julia: namoradeira, adorava um agito e não parava com nenhum namorado por muito tempo. Era uma moça espevitada e que só queria se divertir. Apesar das diferenças, Julia e Elisa eram as melhores amigas e Elisa sempre elogiava o fato da irmã ter encontrado alguém tão especial quanto Derek.
- Ah, minha irmãzinha acertou a loteria ao encontrar o Derek – dizia Elisa, animada e brincalhona.
- É, o Derek é um homem maravilhoso – derretia-se Julia – estou certa de ter encontrado minha alma-gêmea. – dizia Julia, sonhadora.
Enfim, o dia do casamento havia chegado. Julia não cabia em si de tanta alegria.
- Nossa, eu tô tão ansiosa! Não vejo a hora de nossas vidas se unirem para sempre! – dizia Julia, sonhando.
- Ai Julia, você tá tão linda! Esse vestido foi mesmo feito pra você! – elogiava Rita, a amiga ruiva e sardenta, eternamente com uma expressão sonhadora no rosto.
- Você não sabe o quanto essa menina namorou esse vestido – ria a mãe, enquanto dava os últimos retoques no cabelo da filha – passava noites se admirando no espelho, fazendo pose pra lá e pra cá!
- Realmente, é uma beleza de vestido. – dizia Vera, um amiga gordinha e simpática.
Julia ria, se derretendo entre um elogio e outro. Foi então que lembrou de algo.
- E a Elisa? Não a vi em canto algum. – perguntou, preocupada.
- Ai, essa sua irmã... eu a vi a pouco, saindo toda apressadinha, toda metida e de nariz empinado... nem cumprimentou! – dizia Vera. Vera nunca gostou de Elisa, achava-a vulgar e oferecida.
- É amiga... sua irmã é muito dada... – Rita olhou para um lado e para o outro, aproveitando a ausência da mãe de Julia.
- Por favor, parem com isso! não falem mal da minha irmã! Elisa é uma boa pessoa, um pouco inconseqüente, mas é uma boa pessoa. Ela sempre me ajuda nas horas difíceis. – Julia defendia.
As duas moças se entreolharam, como que querendo dizer “coitada da Julia...”.
A casa estava linda, com o salão principal todo decorado, uma mesa recheada de docinhos e o belo bolo de noiva, uma verdadeira obra prima.
- Ai meu Deus! Esses docinhos estão uma tentação! E o bolo então? Uma verdadeira obra de arte – dizia a gulosa Vera.
As moças de despediram rapidamente de Julia e foram para outro carro, afinal, eram as madrinhas e não podiam entrar junto com a noiva.
Julia entrou no carro. Estava super ansiosa.
Quando finalmente chegaram à igreja, Julia sentiu um pequeno nervosismo. Ia roer as unha, qundo o pai de Derek pegou suas mãos e disse, de um jeito paternal:
- Minha filha, não há nada o que temer. Logo, logo, vais estar casada com meu filho e terão grandes momentos juntos.
Julia sorriu, agora mais tranqüila e confiante.
Eles entraram na igreja. Julia estava sorridente e radiante. Mas seu sorriso se desfez quando ela constatou a ausência do noivo.
- Cadê o Derek?! – perguntou, aflita.
O pai de Derek estava confuso e igualmente surpreso.
- Eu jurava que ele já estava aqui! – disse, atônito.
Quando chegou ao altar, Julia perguntou à mãe:
- Cadê o Derek?!
- Não sabemos minha filha... – disse a mãe, preocupada.
As pessoas cochichavam.
- Onde é que o Derek se meteu?! – perguntava Vera a Rita, que com um gesto de ombros, dizia não saber.
- CADÊ O MEU NOIVO???!!! – gritava Julia, agora histérica e confusa. – CADÊ O MEU NOIVO???!!!
A Julia doce e controlada de sempre havia desaparecido, dando lugar a uma mulher descontrolada e desesperada por explicações. Todos tentavam acalmá-la, mas ela foi mais rápida. Saiu em disparada pela igreja, alcançando as ruas e desaparecendo.
- ALGUÉM, POR FAVOR, VÃO ATRÁS DE MINHA FILHA!!! – implorava a mãe da noiva, desesperada.
Julia estava totalmente fora de si. Enquanto andava sem rumo, repetia sem parar:
- Cadê meu noivo, cadê meu noivo, cadê meu noivo...
Julia ficou perambulando pelas ruas durante horas. Em momento algum, parava de perguntar a si mesma sobre o noivo.
E assim o tempo foi passando, e ela nem percebeu quando a noite caiu.
Julia estava sentada num banco de praça. Foi quando a lucidez voltou a sua mente e ela percebeu que já era muito tarde.
- Elisa, Elisa vai me ajudar... ela sempre me ajuda...
Julia se abrigaria no apartamento da irmã. Ela não agüentaria entrar em casa e dar de cara com aquelas pessoas que certamente a estavam procurando, e pior, ver o bolo, os doces, a decoração...
Ao chegar ao edifício onde a irmã morava, já foi entrando. O elevador estava com defeito, então acessou a escada. Enquanto subia, repetia para si mesma:
- Elisa vai me ajudar, ela vai me ajudar... ela é uma menina boa...
Quando chegou ao apartamento da irmã, a porta estava encostada.
Foi entrando no recinto, procurando a irmã.
- Elisa... – chamava, sofregamente.
Ouviu vozes e risos vindos do quarto dela. Foi até lá.
- Elisa... – chamava baixinho.
Ao se aproximar, viu a porta entreaberta. Elisa estava na cama com alguém. Devia ser mais um dos muitos namorados que ela arranjava. Por fim, Julia conseguiu reconhecer a figura masculina que acompanhava sua estimada irmã.
- Não pode ser! – para seu pesadelo, o homem que estava com Elisa era seu então amado Derek.
Derek e Elisa riam e se divertiam, rolando na cama, usando apenas roupas intimas.
Julia ficou ali na porta, paralisada, a observar tudo pela fresta.
- Você é muito bonita... – elogiava Derek, acariciando o rosto de Elisa, que se derretia. Ele disse isso do mesmo jeito que dizia para Julia, inclusive a maneira como acariciava-lhe o rosto.
Julia estava petrificada, observando tudo, indignada.
- Sabe, eu sempre senti inveja da minha irmã porque ela tinha você...
Depois do choque, Julia só sentia ódio. Ela estava ali, uma estatua de ódio e indignação atrás da porta, a observar tudo, de olhos arregalados.
- Vagabunda... – disse baixinho.
Cegada pelo ódio, Julia se dirigiu à cozinha, a procura de algo. Abria as gavetas.
Enquanto isso, no quarto, Derek e Elisa rolavam na cama.
Na cozinha, Julia encontrou o que precisava: uma faca grande e bem afiada.
Dirigiu-se ao quarto a passos lentos. Vingança. Era só isso o que queria. Não os deixaria rirem dela daquele jeito.
Ao chegar à porta do quarto, ainda pôde ouvir algo que a deixou mais perturbada ainda:
- Amor, como é que agente vai contar pra ela sobre nós...
Derek estava paralisado, olhos arregalados. Elisa riu, pensando que ele estava chocado com sua duvida.
- Ai amor, não precisa ter medo, é só... – ela percebeu que ele não olhava para ela, e sim para algo atrás de suas costas.
Elisa virou-se. nesse momento, deu de cara com a furiosa Julia. Antes mesmo de gritar, foi golpeada pela faca que cortou-lhe a garganta de ponta a ponta com tamanha brutalidade que quase foi decapitada. Um jato de sangue tingiu o rosto de Julia, que sequer piscou.
Elisa ainda pôs as mãos no pescoço, tentando, inutilmente, estancar o sangue que fluía abundante, tingindo de vermelho os lençóis brancos. Caiu na cama, entre espasmos e a certeza da morte iminente. Por fim, a morte chegou, acabando com seu sofrimento.
Derek estava desesperado, gritava horrorizado com a cena de Elisa degolada à sua frente.
Julia ficou ali parada, segurando a faca com força, olhando para o corpo inerte de Elisa.
- Por favor Julia, se acalme... não faça isso, por favor... – implorava Derek, aos prantos.
- Olha... – disse Julia, calmamente, olhando o vestido. – Ela estragou meu vestido... – disse, decepcionada, olhando para a mancha de sangue na altura do colo.
- Por favor, Julia... por favor... – Derek choramingava, se arrastando na cama em direção a um canto do quarto.
- Ela é uma menina muito má... porque ela estragou meu vestido? – dizia, de maneira infantil. – AGORA AGENTE NÃO PODE CASAR!!!!!!!!!!
O grito de Julia ocorreu numa fração de segundo, acompanhado do pulo que ela deu em cima de Derek, que tentava escapar num canto do quarto. Ela estava totalmente fora de si, parecia possuída por mil demônios. De uma hora para outra, havia adquirido uma força descomunal, que nem Derek podia suportar
Julia desferia vários golpes de faca contra Derek. Acertava os braços dele, que tentava se proteger.
Julia gritava como uma louca, uma possuída, enquanto golpeava o ex-noivo. O sangue tingia o chão, as paredes, e a descontrolada Julia.
Mesmo após a morte de Derek, a mulher continuava a desferir-lhe os golpes violentos e a gritar feito louca.
A policia chegou horas mais tarde, acionada pelos vizinhos que se amontoavam no corredor, preocupados e tentando saber de algo. As pessoas não paravam de falar.
- Eu estava quase pegando no sono quando ouvi os gritos. Meu Deus, eu achei que estava tendo um pesadelo... – dizia uma mulher.
- Eu a vi de longe. Toda vestida de noiva, linda como uma princesa... – comentava um homem de meia idade.
O quarto realmente transformara-se numa cena de filme de terror. Havia sangue nas paredes, no chão, na cama... Elisa, só de lingerie, jazia na cama. A garganta cortada de ponta a ponta, os olhos, mirando o vazio. Derek transformara-se numa massa disforme e ensangüentada, com cortes em todas as partes. Um dos policiais benzeu-se horrorizado ao entrar no recinto.
- Jesus Cristo...
Julia... a pobre, louca e assassina Julia... estava acomodada numa cadeira de balanço, perto da janela. Olhava a rua com um olhar vazio, enquanto cantarolava a marcha nupcial. Os policiais estavam chocados.
Um policial tomou coragem e foi se aproximando cuidadosamente da moça.
- Moça... está tudo bem agora, apenas...
O policial nem teve tempo de terminar a frase. Julia pareceu “ganhar vida”. Deu um pulo da cadeira, subiu na janela. O policial correu para evitar o pior, mas no momento em que ia pega-la, ela se jogou. A única coisa que o policial conseguiu pegar foi o véu da noiva. No mesmo momento, escutou um baque seco lá fora.
Julia caiu do oitavo andar, morrendo instantaneamente. O policial se aproximou da janela e viu a noiva estirada no chão, mergulhada numa crescente poça de sangue. Os olhos arregalados e um sugestivo sorriso nos lábios compunham uma expressão perturbadora.
- E é assim que termina a história. Tudo isso é verdadeiro e aconteceu nessa cidade – dizia Lyn a seus amigos, reunidos ali no cemitério. – Dizem que à noite, Julia vem visitar seu noivo Derek aqui nesse cemitério.
- Hehehe, legal a história! – elogiou um dos garotos.
- É, valeu Lyn! – dizia outra garota, congratulando a amiga.
- Galera, já é tarde. Tá na hora de ir.
Os jovens góticos já iam saindo a passos lentos. Lyn era a ultima. Algo caiu de sua bolsa. Ela abaixou para pegar. Quando ela levantou o olhar para trás, um calafrio percorreu sua espinha: ao longe, uma silhueta branca contemplava tristemente um túmulo...
Herna Stefany dos Santos