LUA CHEIA

A lua cheia cintila sobre o mar.

O rapaz magro, pálido à janela do quarto, do alto edifício, vendo-a... sente de repente "a coisa" que o convoca a sair, como nas vezes anteriores, então, se apressa em deixar o quarto.

Cruza a sala larga, onde os pais estão à frente da TV, em passos ágeis, sob o silêncio dos mesmos.

Abre a porta e logo desce no elevador. Então, o homem "maduro" para a companheira:

- Eu queria saber para onde vai esse rapaz assim de madrugada.

- É... Sempre que há lua cheia, ele se transforma: não há força que o prenda em casa!

Silenciam. Pensativos. Incapazes de entender o filho com suas esquisitices de jovem "pra frente", de outra época.

No automóvel, o filho dirige-o em velocidade, aproveitanado a avenida pouco movimentada, indo à praia de Boa Viagem, onde encontrará a próxima vítima, para lhe saciar a sede... de sangue.

A moreninha caminha solitária. Então, o corpo do rapaz se transforma: reduze-se, as asas crescem nos ombros, na metamorfose e saindo do veículo, o enorme morcego ataca. Mordendo-a no pescoço, sugando-lhe o sangue. Em seguida, batendo as asas, ele se perde do corpo caído, dos olhos atônitos da vítima, que se sente sonolenta...

Próximo, o carro se afasta em velocidade. A madrugada ainda não acabou. Há tempo para novo encontro.

No céu, a luz passeia indiferente ao que presencia, como testemunha.

* * *

Paulo Carneiro
Enviado por Paulo Carneiro em 04/11/2008
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