A Maldição da Casa de Tlon
Enquanto seguia naquela limusine preta , com um motorista que mais parecia um coveiro , Juliano se perguntava por que aceitara o convite de Thiago para viajar com ele no feriado. Não conhecia direito o garoto , achava-o até meio esquisito , aquele magricela tímido, branquelo, que não jogava futebol, não zoava na classe e ficava lendo o dia inteiro um livro misterioso, de capa preta , que fechava quando alguém se aproximava.
Thiago entrara no início do ano na classe , não fizera amizade com mais ninguém e era até hostilizado pela turma.Quando não estavam zoando com ele, ignoravam-no.
Juliano , ao contrário, era o líder da classe . Era o melhor no futebol e no basquete , todas as meninas eram a fim dele e os meninos ficavam bajulando-o . Era o famoso queridinho. Por que Juliano , tão popular, tão carismático, aceitara passar seis dias no campo com aquele outro menino , apagado, caladão, que tinha dificuldade de falar " Oi"?
A verdade era que Juliano andava entediado. seus amigos eram muito bobos, mal conseguiam articular uma frase. por tédio ou por curiosidade , ou por ambos , Juliano decidira viajar com Thiago , que não era divertido , mas tendia a ser inteligente . Começava a achar que cometera uma grande bobagem.
Depois de seis horas de viagem , os dois garotos chegaram á casa de campo . Ela era grande, de pedra e bastante escura. Suas poucas janelas estavam fechadas e a luz do sol passava pelas frestas , dando ao interior um aspecto macabro.
Juliano se sentia cada vez mais inquieto naquele lugar , e não via a hora de ir embora.
Nos primeiros dias , Thiago ficou o dia inteiro lendo seu livro preto.
Continuava tão calado como na escola e ás 8 horas ia pra cama.
Na terceira noite, Juliano acordou de repente , depois de um sonho estranho. Uma menina de uns dez anos era enterrada viva por um homem de aspecto medonho.
Acordou assustado e ouviu, ou julgou ouvir, os mesmos gemidos da menina do sonho no quarto ao lado. Não aguentou de curiosidade e abriu a porta . Viu então a cena mais aterrorizabte que já presenciara em toda a sua vida.
Uma luz azulada e fosforescente inundava o ambiente. Thiago, ajoelhado ao lado de uma cama , chorava baixinho. Sua figura estava mais pálida do que nunca, parecia de cera. Segurava com fervor alguma coisa nas mãos.
Juliano olhou na cama e seu coração disparou . Viu a menina com quem sonhara deitada nela.
Deitada não é o termo mais adequado, porque a menina não parecia dormir e sim levitar sobre ela, já que o lençol e o colchão não estavam afundados pelo seu peso.
Ela tinha uma coloração azulada , e Juliano percebeu com espanto que a luz azul do quarto emanava dela.
Seus olhos, arregalados, eram de um azul profundo e, apesar de a menina parecer morta ou congelada, eles possuíam a mesma expressão triste e sonhadora dos olhos de seu irmão. Sim porque Juliano percebeu naquele momento que Thiago deveria ser o irmão daquela morta-viva.
Foi então que Thiago, percebendo a presença de Juliano no quarto, começou a chrar e a soluçar mais forte, segurando a mão da morta.
Juliano não sabia o que fazer. O medo que aquela menina cadavérica lhe inspirava no início se transformara em pena. Ela parecia ser uma viva que não conseguia se libertar da morte ou uma morta que se recusava a abandonar seus últimos vestígios de vida. A quanto tempo aquele zumbi estaria ali??
Thaigo, deu um salto , pôs-se de pé, agarrou-se ao ombro do amigo e , soluçando forte, falou:-Por favor, Juliano, você é nossa única esperança. só você pode nos ajudar.
Foi então que entrou no quarto um homem alto, pálido, todo vestido de preto, acompanhado de um cão de aspecto feroz. Juliano aterrorizado, começou a tremer. Era o mesmo homem do seu pesadelo, aquele que enterrava a garota viva.